Algoritmo ajuda na restauração da Mata Atlântica

Estudo desenvolvido por pesquisadores de seis países aponta as melhores soluções para recuperar o bioma

Em parceria com qsocial
22/03/2019 15:07

A Mata Atlântica é um dos biomas mais desmatados do país. Estima-se que, hoje, restem de 22% a 28% da cobertura original. Restaurá-la, portanto, é um desafio. Por onde começar? Uma equipe internacional, liderada por um pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), desenvolveu um algoritmo que permite encontrar áreas prioritárias para restauração da Mata Atlântica.

A biodiversidade é um dos fatores levados em consideração pelo algoritmo na restauração da Mata Atlântica
A biodiversidade é um dos fatores levados em consideração pelo algoritmo na restauração da Mata Atlântica - EPasqualli/iStock

Foram mapeadas 362 soluções ou cenários. Eles levam em consideração fatores como conservação da biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos de recuperação da mata. Para escolher o melhor, é preciso levar em conta os objetivos a serem alcançados.

Se a restauração da Mata Atlântica é feita em áreas com maior benefício para a mitigação das mudanças climáticas por sequestro de carbono, as vantagens para a biodiversidade são medianas e o custo de implementação, alto. Se ela for nas áreas mais benéficas para biodiversidade, a redução de carbono na atmosfera será menos eficiente.

As soluções mapeadas apontam, por exemplo, que, se a restauração for concentrada no litoral do Sudeste, os benefícios são maiores para a conservação da biodiversidade.

Se a opção for por restaurar terras mais áridas no Nordeste, o custo é menor, mas os benefícios para biodiversidade e clima também são mais baixos.

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No Brasil, o Código Florestal (Lei nº 12.651, de 2012), determina que, na Mata Atlântica, cada imóvel rural tenha pelo menos 20% de área coberta por floresta nativa. Se não houver, o proprietário precisa restaurá-la ou fica impedido de receber crédito agrícola e outros benefícios.

No entanto, a forma de fazer essa restauração para que seja vantajosa e viável ainda é muito discutida.

Otimizando a restauração da Mata Atlântica

O pior cenário previsto pela metodologia seria cada proprietário de imóvel rural restaurar sua própria terra. Dessa forma, áreas de floresta seriam pulverizadas.

O custo seria maior e os benefícios para a diversidade biológica e o clima, piores. Com a inteligência do algoritmo, os proprietários que precisam recuperar a mata nativa em suas terras poderiam compensar isso fazendo a restauração em áreas prioritárias, o que já é permitido pela lei florestal.

Pelo novo Código Florestal, de 2012, toda propriedade rural na Mata Atlântica precisa ter, no mínimo, 20% de área recoberta por floresta nativa
Pelo novo Código Florestal, de 2012, toda propriedade rural na Mata Atlântica precisa ter, no mínimo, 20% de área recoberta por floresta nativa - Global_Pics/iStock

O estudo, desenvolvido por 25 pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos, da Austrália, do Reino Unido, da Suécia e da Polônia, tendo à frente o pesquisador Bernardo Strassburg, da PUC-Rio, com apoio do Instituto Serrapilheira, promete contribuir para alcançar a solução considerada “ótima”.

Caso a melhor opção para cada faixa de Mata Atlântica seja adotada, os pesquisadores calculam que haveria 450 milhões de toneladas de gás carbônico a menos lançadas na atmosfera, menos 308 espécies extintas e redução de custos de US$ 4 bilhões com a restauração.

Replicação da ferramenta

Publicado no periódico científico “Nature Ecology & Evolution”, o estudo deu origem a mapas que poderão ser utilizados para a definição dessas áreas prioritárias pelo Ministério do Meio Ambiente. O algoritmo também já está sendo replicado para outros países e biomas.

O pesquisador Bernardo Strassburg, que também é diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (ISI), participou do desenvolvimento do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, de 2017. Pelo documento, o Brasil deve fazer a restauração da Mata Atlântica, num total de 5 milhões de hectares – o equivalente a 4% desse bioma.

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Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, presidente da GranBio e especialista em soluções sustentáveis.