Aliada do SBT e Record, RedeTV! declara guerra à TV Globo
SBT, Record e RedeTV! se aliaram a Jair Bolsonaro para mudar as regras da distribuição das verbas publicitárias no Brasil.
Segundo eles, as regras beneficiam a TV Globo.
Pela primeira vez, essa batalha sai dos bastidores e fica pública.
O dono da RedeTV!, Marcelo de Carvalho, publicando artigo na Folha, acusando a Globo de ser uma das responsáveis pela crise nos meios de comunicação e até, indiretamente, pela falência da Abril.
Eis um trecho do artigo em que ele explica por que falta dinheiro para muitos veículos de comunicação.
E por que não há dinheiro? Porque a maior parte das verbas publicitárias vai para a Globo devido ao BV (bonificação por volume), um rebate de bilhões pagos para agências de publicidade. Para se ter uma ideia, só no meio TV, a Globo, com apenas 33% de audiência, fica até com 90% do dinheiro do mercado –em anos de crise como os últimos, em que há um natural enxugamento de verbas dos anunciantes, esse ralo passa a chupar também as verbas dos outros meios.
Esse, sim, é o verdadeiro vilão da derrocada da Abril e do sufoco do mercado como um todo: o BV, eufemisticamente chamado de “Planos de Incentivo”, uma espécie de propina legalizada. Nos grandes mercados do mundo, especialmente os EUA, essa prática é crime. Foi proibida, pois, ao passar um benefício ao intermediário, na melhor das hipóteses, este pode ser tentado a alocar os investimentos de seus clientes onde lhe é mais rentável, e não onde é mais rentável para o anunciante.
Não há cálculo de mídia, de rentabilidade ou adequação de público que justifique a concentração de até 90% das verbas em um veículo que tem 33% de audiência. E aí mínguam os anúncios na Veja, na Claudia e, por consequência, míngua a Abril.
Essa prática foi consagrada por uma lei do ex-presidente Lula em 2010, por coincidência às vésperas do mensalão, por coincidência coordenado por um publicitário, Marcos Valério, por coincidência julgado o caixa pagador do propinoduto com muitos recursos que teriam vindo…por meio do BV.
Não podemos generalizar. A publicidade brasileira está lotada de profissionais sérios e brilhantes, que fazem o melhor pelos clientes. Mas, enquanto não for proibida essa prática, continuaremos a ver um verdadeiro assassinato em massa dos outros veículos, um atentado à liberdade de imprensa, a continuação da hegemonia de um só microfone em detrimento dos demais.
Espero que o comprador da Abril, vendida a um preço simbólico em troca da assunção das dívidas, tenha fôlego financeiro e executivo para não deixar morrer o legado de Victor e Roberto Civita. Mas, enquanto não for endereçada a questão do BV, será impossível termos a real pluralidade de comunicação, fundamental para uma democracia e uma sociedade complexa como a nossa.