Fotógrafos com deficiência visual mostram trabalhos em SP

A fotografia produzida na estação Capão Redondo do metrô, na zona sul de São Paulo, tem foco em um único ponto: o piso tátil que guia os deficientes visuais. Ao mesmo tempo, a imagem desfoca no primeiro plano a pessoa que caminha com o auxílio de uma bengala. Atrás estão a cidade e todas as suas cores.

O autor da foto é Josias Ângelo da Silva Neto, estudante de filosofia, 30 anos. Ele perdeu totalmente a visão há sete anos por um descolamento da retina, mas isso não o impede de registrar cenas urbanas como essa.

A imagem registrada no Capão Redondo pode ser vista no Memorial da Inclusão, na Barra Funda, até 27 de novembro, como parte da exposição “Não Vi”, que traz também trabalhos de mais sete fotógrafos cegos. O tema da exposição é acessibilidade.

Neto utiliza uma câmera profissional e define seu trabalho como conceitual. “Eu tenho uma visão mais conceitual de fotografia, então procuro ir a lugares onde há menos atenção na cidade. Ali, você encontra uma riqueza de informações, de culturas. É muito interessante trabalhar isso nas periferias, em cidades interioranas”, disse.

O fotógrafo João Kulcsár foi quem reuniu o trabalho dos fotógrafos, alunos do curso do Centro Universitário Senac, para a exposição. “A ideia é usar a fotografia como ferramenta para a leitura crítica do mundo, a construção da imagem, essa cultura visual. Já trabalhamos com deficientes auditivos também. A diversidade enriquece, com cada público você aprende alguma coisa”, destacou.

Desde 2008, o professor Kulcsár, que não tem deficiência, aprende com seus alunos a desenvolver os outros sentidos –a audição, o tato e o olfato– na hora de fotografar.

Na prática, os alunos aprendem a fotografar de maneira semelhante, mas cada um aprimora a sua técnica. “

Para Kulcsár, mais importante do que dizer como as fotografias são produzidas é explicar porque elas são importantes para os seus alunos. “O deficiente visual quer parar de se sentir invisível na sociedade. Os deficientes visuais querem se expressar. Eles podem fazer tudo, inclusive fotografar”.

O Memorial da Inclusão traz nova exposição todo mês e mantém uma mostra permanente com 11 painéis, tratando das deficiências auditiva, visual, intelectual e física. O memorial é dividido pelas alas da comunicação, legislação, direitos da pessoa com deficiência, além da sala de sentidos, onde o visitante sente na pele como é viver sem enxergar.

Memorial da Inclusão
Onde: Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564, Barra Fundo. Tel.: (11) 5212-3727
Horário: de segunda a sexta, das 10h às 17h
Quanto: A entrada é gratuita

Da Agência Brasil