A inovação não pode parar

No começo de setembro, centenas de milhões de pessoas receberam o novo álbum do U2, “Songs of Innocence”, disponibilizado de graça pela banda e pela Apple aos 500 milhões de usuários com conta no iTunes. Isso repercutiu bastante na mídia cultural e nas redes sociais, mas como pode ser analisado do ponto de vista da gestão estratégica?

Kurt Thies, consultor em estratégias de inovação, afirma que estamos diante de uma das melhores iniciativas inovadoras no âmbito empresarial e artístico dos últimos anos.

A estratégia trouxe uma surpresa dupla: ninguém esperava que o U2 estivesse para lançar um novo álbum e muito menos que ele seria descarregado automaticamente na íntegra na biblioteca de cada usuário do reprodutor e organizador multimídia da Apple.

Para Thies, a sagacidade no plano artístico começa ao alinhar integralmente a distribuição da obra do U2 com o modelo mais revolucionário de compra e consumo de música viabilizado pela internet e representado, por exemplo, pela Apple Store.

Atualmente, os artistas da música não têm sua principal fonte de renda vindo da venda de álbuns e sim das receitas dos shows, do patrocínio de grandes marcas e de merchandising. Como um negócio, os artistas estão criando conteúdos que são monetizados por meio de suas habilidades de capitalizar suas popularidades.

Como nem todo mundo é fã do U2, há sempre a possibilidade de se conquistar um novo. A estratégia de fazer o mais recente trabalho do grupo invadir a biblioteca dos 500 milhões de usuários do iTunes mirou isso.

Muitos reclamaram da Apple ter mexido em suas bibliotecas pessoais sem o prévio consentimento, os fãs da banda ficaram felizes em receber esse presente e muitos outros usuários do iTunes que não tinham interesse no U2 tiveram a oportunidade de conhecer o último trabalho deles de graça. Isso, em um momento em que o grupo já não registrava mais aumento de  popularidade e assistia a um declínio lento mas progressivo nas vendas dos seus discos.

Os primeiros sinais de que a estratégia deu certo vieram da elevação substancial na venda de seus álbuns anteriores, logo depois da distribuição gratuita do “Songs of Innocence”.

Ao mesmo tempo, a Apple precisava relembrar aos seus consumidores que ela continua a agir de forma diferente e a pensar de maneira revolucionária. A distribuição gratuita via iTunes foi acompanhada de um comercial impactante usando como trilha sonora um dos potenciais sucessos do novo álbum do U2.

Na avaliação de Thies, após três décadas na estrada, o U2 continua a usar com sucesso a inovação de ruptura na indústria da música para se reestabelecer como relevante no cenário musical atual. Nesta última, os fãs ficaram excitados, os que não gostaram geraram publicidade gratuita ao reclamarem nas redes sociais e a Apple saiu ganhando com a enorme promoção que cerca seus lançamentos.

(E a Apple nem ficou mal com os reclamantes, porque disponibilizou uma ferramenta para apagar o álbum inteiro do U2 em um clique.)

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