Baccarelli 20 anos: Juan Rogers, dos campos para o palco

Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. O personagem de hoje é Juan Rogers, 17 anos, violoncelista na Sinfônica de Heliópolis e que este ano tocou pela primeira vez fora do Brasil.

Juan tinha um sonho de infância, compartilhado com milhares de meninos mundo afora: jogar futebol. Esteve bem perto, aliás, de realizá-lo. Com 13 anos, foi campeão paulista sub-13 com o Santo André, empurrão necessário para iniciar uma carreira nos campos. Ele só não contava com uma coisa: a música apareceu em sua vida. E com força.

Nascido em Heliópolis, Juan tinha 7 anos quando viu pela primeira vez um violino. “Achei genial”, ele conta, lembrando que a mãe tinha um amigo que trabalhava no Instituto Baccarelli. “Foi aí que me inscrevi. Eu só conhecia o violino, nem tinha internet na época para olhar os outros instrumentos da lista. Mas quando cheguei, fiquei dividido com relação ao violoncelo”.

As primeiras aulas eram “uma diversão”. A seriedade ficava reservada aos treinos de futebol. “Eu levava as duas coisas, mas o futebol falava mais alto. Até que eu fui crescendo e um dia entrei para o naipe de violoncelos da orquestra juvenil. Ali alguma coisa aconteceu”, diz, com o sorriso largo, o olhar vivo. “Aí foi ficando puxado, era treino todo dia, e os ensaios. Eu precisava escolher. Conversei com minha mãe, com os professores. E me dei conta de que, na música, meu caminho dependeria apenas de mim, do meu trabalho, da minha relação com o instrumento”.

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Hoje com 17 anos, ele não se arrepende da escolha. “Os amigos não entenderam muito. No começo me chamavam para jogar bola no fim de semana, para sair com as meninas, e eu não podia, tinha ensaio, tinha concerto. E a música clássica era algo estranho. Mesmo para mim, foi algo que surgiu só quando entrei no instituto. Então tem um preconceito. Mas isso já está mudando aqui em Heliópolis, o nosso trabalho já é compreendido e celebrado.”

No meio deste ano, Juan saiu pela primeira vez do Brasil, para participar de concertos na Suíça ao lado de colegas do Baccarelli. “Foi uma loucura, tive 20 dias para tirar o passaporte. Mas lembro de um momento especial, quando contei para minha mãe da viagem e o olho dela encheu de lágrimas de emoção”. E o que achou da Europa? “Muita coisa, que ainda não consigo colocar em palavras. Foi tudo muito intenso e só quando estava arrumando a mala para voltar ao Brasil é que começou a cair a ficha de tudo o que tinha acontecido durante a viagem”.

Juan é fã do violoncelista Gautier Capuçon –ele toca muito. Mas não fica de olho apenas na excelência técnica do músico francês. Quer, como ele, ser um grande solista, mas apostar também na música de câmara, quem sabe tocar em um quarteto. “Acho que um grupo como esse permite que a gente coloque em prática uma lição importante que aprendemos aqui, a necessidade da parceria, de ajudar uns aos outros na hora de fazer música”.

Enquanto isso, o sonho agora mudou: quer sair do Brasil para completar os estudos. “As portas vão se abrindo então é importante me preparar, estudar o idioma, guardar dinheiro.” E, no tempo livre, correr para o campo mais próximo e jogar bola, claro.

Por João Luiz Sampaio