Baccarelli 20 anos: Mariana Soares Ferreira e a paixão pela viola
Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. A personagem de hoje é Mariana Soares Ferreira, que toca viola na Sinfônica Heliópolis e é monitora de naipe da Orquestra Juvenil.
“Fazer música é uma forma de comunicação, muito direta, ainda que subjetiva. No caso da música clássica, é um gênero que se reproduz a partir de um sistema de outras épocas, quase arcaico. Mas a comunicação ainda é fundamental. Então, se nós jovens não passarmos isso adiante, se não pensarmos em novas formas de apresentar o que fazemos, teremos um problema”. O comentário é sério, mas vem acompanhado de um sorriso solto, que revela acima de tudo a paixão de Mariana Soares Ferreira pelo fazer musical.
Difícil acreditar que a jovem que hoje pensa no futuro da música clássica, na infância não gostava muito de fazer música. Nada contra os compositores, que fique claro. O problema era a timidez. “Quando eu tinha 9 anos, uma amiga da minha mãe disse para ela me colocar no Instituto Baccarelli. Ela falou que era bom para ocupar a cabeça. E lá fui eu cantar no coral. Eu detestava!”, ela conta, divertindo-se. “Eu era muito fechada, não conseguia me soltar, tinha vergonha dos professores, dos colegas”.
A música foi um belo remédio. E, aos 12 anos, ela escolheu o seu instrumento: a viola. “Eu nunca gostei muito dos sons agudos. A viola, por sua vez, era mais grave, a sonoridade tinha um colorido bonito”. Ela não lembra quantos anos tinha quando passou a integrar a primeira orquestra. “Mas eu lembro do pânico, eu não sabia nem mesmo afinar as cordas direito”, ela conta, repassando então na memórias as primeiras peças de sua carreira: a suíte “Peer Gynt”, de Grieg, a “Marcha Pompa e Circunstância”, de Elgar, e a “Suíte Carmen”, de Bizet.
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A afinação, claro, logo deixou de ser um problema. Mas quando ela soube que seria uma musicista? “Acho que é algo que surge com o tempo. É uma construção, e por isso é mais sólido. À medida em que você vai melhorando, vai aprendendo a se expressar pela música, concerto após concerto, aula após aula, aquilo ganha muito sentido. É difícil, não é uma trajetória fácil. Você estuda muito e às vezes se sente refém do instrumento. Mas dia a dia você cresce e não pensa em fazer outra coisa”.
Hoje, Mariana, além de tocar na Sinfônica Heliópolis, é monitora de naipe da Orquestra Juvenil (“o naipe de violas é sempre o mais bagunceiro”, diz, com um sorriso maroto) e cursa o terceiro ano da Universidade de São Paulo. “A faculdade foi um momento importante. Eu sempre tive apoio em casa, mas na hora do vestibular todo mundo ficou com um pouco de dúvida. Mas eu insisti”.
No curso universitário, Mariana sentiu uma vez mais a sensação com a qual aprendeu a conviver no Baccarelli. “Ter aprendido música no instituto definiu quem eu sou, minha forma de ver as coisas. Eu entendi que o mundo é muito maior do que aquilo que está à nossa volta. Conheci lugares e tive experiências que sem a música eu não teria. Foi isso que me levou à faculdade. E lá eu me dou conta diariamente do quanto há à nossa volta para aprender, para conhecer”.
Por João Luiz Sampaio