Baccarelli 20 anos: Robinho Carmo, realizando sonhos
Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. O personagem de hoje é violinista Robinho Carmo, 21 anos, que foi spalla da Sinfônica Heliópolis e que hoje mora em Lausanne, na Suíça.
Se Robinho Carmo disser que tem uma meta, pode acreditar: ele está falando sério.
A história deve ser contada desde o início, quando a música não era ainda uma possibilidade real. “Meus pais eram músicos, meu avô era violinista. Eu adorava desde pequeno o instrumento, mas não pensava em tocar seriamente. Eu comecei e parei de estudar duas vezes, com quatro e seis anos. Não gostava de ficar horas praticando, queria ficar na rua, com a galera”. Aos 9, uma nova tentativa. Deu um pouco mais certo. “Mas até os 17 anos eu estava decidido a fazer qualquer outra coisa, quis ser médico, entrar para a aeronáutica”.
E o que aconteceu aos 17 anos? Difícil explicar. Foi ‘um clique”. “De uma hora para outra, algo mudou. E fui atrás de um professor, escrevi para um bando de gente. Foi um momento difícil, eu fui rejeitado por muita gente. Mas conheci um outro violinista, o Renan Rodrigues, que era um pouco mais velho do que eu. Estudei com ele durante quatro meses. Foi um recomeço completo. E, como ele estava se mudando para a Hungria, me apresentou à professora dele, a Andrea Campos. Ela me ouviu, disse que eu tinha potencial, mas que precisava estudar muito se eu quisesse entrar em uma orquestra, porque o nível hoje estava muito mais alto”.
Foi o que Robinho fez. Pouco depois, prestou a prova no Instituto Baccarelli e entrou para a Orquestra Juvenil Heliópolis. “Eu tocava na última estante”, ele conta. Um dia, assistiu à Sinfônica Heliópolis tocando a “Sinfonia nº 1″, de Mahler. Foi quando se colocou uma primeira meta. “Eu iria tocar naquela orquestra. E me dei um prazo de dois anos. Minha professora achou que era possível. E eu comecei a estudar loucamente”.
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Não foi preciso esperar dois anos. “Abriram um edital para a sinfônica. Eu tinha duas semanas para me preparar. E resolvi fazer a prova”. Passou para o naipe de primeiros violinos. “Foi um salto muito grande. Lembro que no primeiro ensaio, eu mal havia me achado na partitura e todo o naipe já estava lá na frente. Mas a experiência foi incrível”.
Hora, então, de uma nova meta: ser spalla do grupo. “Seis meses depois, abriu o edital para a vaga de líder dos segundos violinos. Mas passei muito mal no dia da prova, não consegui sair de casa e perdi a chance. Só que um pouco depois abriu outro edital, agora para a vaga de spalla. E lá fui eu tentar”. Ele passou como concertino, e o posto de spalla ficou vago. “Quando não há um spalla, é o concertino que acaba assumindo. O programa seguinte era com a “Sinfonia nº 3″, de Mahler, que tem muitos solos para o spalla. No primeiro ensaio, o maestro Isaac Karabtchevsky virou para mim depois de um deles e perguntou: quem é você menino?. Eu gelei”.
Robinho achou que tinha pisado na bola, mas a surpresa do maestro era positiva. “Até que no dia do concerto, antes de entrar no palco, o maestro Edilson Ventureli me chamou e disse: conversamos com o maestro e resolvemos: você agora é oficialmente o novo spalla. Eu entrei no palco com aquela notícia. Foi uma das experiências mais legais da minha vida, eu mal conseguia me segurar. No último movimento, eu olhava para a orquestra e tinha um bando de gente chorando, todos ficaram emocionados”, conta. “Isso é algo que aprendi no Baccarelli, essa união, esse senso de conjunto, de grupo. Todo mundo ajuda todo mundo. Você confia no colega que está do seu lado, há uma troca que influencia na música que fazemos”.
Com o passar do tempo, mais uma meta: sair do Brasil. “Depois disso, eu comecei a me perguntar o que eu poderia fazer em seguida, queria ir cada vez mais longe. Foi então que, depois de pesquisar bastante, pensei em me mudar para a Europa, para estudar e também para experimentar a cultura europeia. Conheci o Conservatório de Lausanne, e fiz a prova”. Passou de novo. “Recebi a ajuda de muita gente, apoio, o instituto me ajudou em tudo e eu vim”.
Robinho está com 21 anos e vive em Lausanne há cinco meses. Mal tem palavras para descrever o quão incrível tem sido a experiência. Pergunto a ele se já está pensando no futuro, em uma nova meta. “Claro. Meu sonho é ser um solista. Sei que é difícil falar nisso, eu comecei tarde no instrumento e também demorei para aceitar que eu podia ter esse sonho, a gente mesmo vai colocando empecilhos, sabe? Mas eu estou trabalhando muito para isso e tenho esperança de conseguir”. Alguém duvida?
Por João Luiz Sampaio