Baccarelli 20 anos: Thiago Araújo, trompetista por ‘acaso’

Em comemoração aos 20 anos do Instituto Baccarelli, organização sem fins lucrativos, o Quem Inova mostra a história 20 alunos e ex-alunos. O personagem de hoje é Thiago Araújo, que começou a estudar trompete na ONG e o hoje é trompetista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.

O Instituto Baccarelli ainda funcionava em uma antiga fábrica de sucos na Estrada das Lágrimas quando Thiago Araújo lá pisou pela primeira vez, em 2007. “Um amigo meu que tocava trompete ia participar de uma masterclass com músicos alemães, mas teve um problema no dente. Ele então me perguntou se eu não queria ir”, conta. Foi “quase” por acaso –mas um acaso que definiria os rumos de sua vida e carreira.

Como boa parte dos estudantes de música, Thiago sonhava em ser solista. Mas estamos nos adiantando. Antes, é preciso lembrar onde tudo começou. Foi em Cubatão. Seu pai regia o coral e tocava na banda da igreja. Orientado por ele, com 9, 10 anos, Thiago começou a tocar o trompete na fanfarra da escola. E, aos 12, entrou para a banda marcial. “Ali tudo começou a ficar mais sério, eu ganhava uma ajuda de custos com a qual podia comprar as passagens para vir a São Paulo estudar na Universidade Livre de Música. E, mais tarde, acabei me mudando de uma vez”.

Foi quando se deu aquela masterclass. “Em seguida recebi o convite para tocar na Sinfônica Heliópolis como convidado. Foi meu primeiro contato com uma orquestra. E um mundo novo se abriu. Eu sempre quis ser solista, mas ali o coração começou a ficar dividido. Gostei da experiência, do repertório”, ele conta. A sensação foi ficando cada vez mais forte uma vez que, de convidado, Thiago passou a ser músico do grupo.

Mas o contato com o Baccarelli trouxe outras lições e descobertas. “Eu tinha uma trava psicológica, na extensão aguda do instrumento, sempre dava problemas”, ele explica. Em uma audição interna, ele lembra que “simplesmente travei”. Thiago pensou em desistir. “Mas o maestro Edilson Ventureli chegou para mim e disse: você tem um potencial enorme, mas tem que acreditar nele”. Era preciso dar um salto e Thiago recebeu uma chance até a próxima audição. “Foi um momento de virada, possível por eu estar em contato com pessoas que acreditavam em mim mais do que eu mesmo estava pronto a acreditar. Ali, alguma coisa mudou”.

https://youtu.be/MNaHTUEvB9Q

Os passos seguintes mostram que a decisão de seguir adiante foi acertada. Em 2004 Thiago entrou para a Academia da Osesp –e, com três meses de estudo, já estava tocando com o grupo, participando inclusive da gravação de um CD com obras de Prokofiev, substituindo de última hora um músico que havia passado mal. Oito meses depois, foi aprovado para a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, onde está até hoje, “podendo tocar ao lado de amigos e professores que me viram crescer”.

O vínculo com o Baccarelli, no entanto, continua. Ele hoje dá aulas para alunos entre 10 e 14 anos. “É algo que me leva de volta à infância, aos ensinamentos do meu pai, que sempre insistiu no dever que a gente tem de ajudar, de contribuir. Isso é essencial. Posso dar aula para 20 alunos e nenhum deles seguir na música. Mas espero que eles saiam dessa experiência como pessoas melhores, honestas, de caráter, que a partir da experiência de um dia ter feito música saibam viver melhor em sociedade”.

Por João Luiz Sampaio