Botânico resgata Mata Atlântica com “florestas de bolso”
Trazer de volta a Mata Atlântica para a paisagem e o cotidiano de São Paulo, de forma barata, simples e rápida. Essa é a proposta do botânico Ricardo Cardim, que já implantou sete “florestas de bolso” na cidade. Com sua metodologia, pequenas praças, grandes parques, lajes e paredões recebem pedaços do bioma muito próximos da originalidade e ricos em biodiversidade.
“Percebi que, nos métodos indicados pela literatura e pela legislação, de espaçamento 3 metros x 2 metros [1 árvore a cada 6 m²], não formava uma floresta, mas sim um bosque com muito capim e mudas mortas”, conta. Assim, ele começou, em 1992, a estudar a fundo as capoeiras (florestas em crescimento em áreas antes desmatadas), avaliando quantidade de árvores por metro quadrado, quais espécies ocorriam ao lado de quais, taxa de crescimento etc.
“Isso me levou a constatar que ocorre uma massa crítica de competição tropical, que leva as árvores a crescerem muito rapidamente, cerca de 6 metros em dois anos, e quase sem manutenção, e que isso poderia ser replicado seguindo algumas regras”, explica o botânico. “Surgiu, assim, o conceito de pocket forest, com implantação em diferentes escalas, de metros quadrados a alqueires.”
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Com elas, Cardim quer também resgatar a fauna. “Por que não vemos mais tucanos-de-bico-verde na cidade? Nem esquilos? Porque destruímos a floresta e colocamos plantas que os bichos nativos normalmente não se alimentam. Muitas espécies desapareceram, como a araucária e o cambuci, árvores nativas que já foram comuns a ponto de nomearam bairros e hoje se contam nos dedos na malha urbana.”
Na floresta que ele implantou no telhado de seu escritório, ele diz que já viu mais de 14 espécies diferentes de pássaros. “Como uso dezenas de espécies que produzem principalmente frutos comestíveis para a avifauna, eles gostam. Germinaram sozinhas mudas de copaíba _ uma árvore hoje rara na Mata Atlântica paulistana, tapiá, fumo-bravo, jerivá e outras de sub-bosque.”
As “florestas de bolso”, avalia o botânico, “são verdadeiras máquinas de qualidade vida urbana”, porque diminuem drasticamente a temperatura, aumentam a umidade do ar, seguram e filtram as águas da chuva, diminuindo enchentes e recarregando represas, bloqueiam a poluição sonora, filtram gases tóxicos, seguram a poeira em suspensão e abrigam uma avifauna que elimina pragas como mosquitos, cupins e baratas.
“E servem, principalmente, de áreas de lazer seguras e aprazíveis na panela de pressão urbana que é a cidade de São Paulo”, completa. O custo, segundo Cardim, é “mais em conta que o metro quadrado de projetos de paisagismo convencionais”.
Por QSocial