Brasil apresenta desafios no ensino de inglês e bilinguismo
O bilinguismo é a modalidade linguística mais comum em todo o mundo
O Brasil ocupa rankings extremos e antagônicos no que diz respeito ao idioma mais falado no planeta –enquanto é o país com o maior número de escolas de língua inglesa no mundo, também ocupa uma posição desanimadora no que diz respeito à fluência no idioma entre sua população.
De acordo com a EF English First, em pesquisa de 2018, o Brasil ocupa a 53º posição no ranking, estando abaixo do Paquistão, Indonésia e Albânia, tendo, hoje, somente 5% de falantes fluentes.
Os dados percentuais acima indicam que a questão da proficiência não atinge somente as camadas menos favorecidas da população, o que seria talvez de se esperar se considerarmos que a legislação brasileira já passou por diversas alterações no que diz respeito ao oferecimento da língua inglesa nas grades curriculares de escolas públicas.
Hoje, o idioma deve ser oferecido a partir do ensino fundamental II, havendo a possibilidade de que se ofereça também uma língua regional, no caso de comunidades bilíngues, tais como colônias de estrangeiros e indígenas. Desta forma, podemos considerar que o oferecimento desta modalidade educacional cresce de acordo com a demanda acima apontada.
Diante deste cenário, a resposta ao crescimento das escolas de educação bilíngue vem, portanto, ocorrendo em formatos diversos – seja seguindo o modelo do ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, a modalidade de contraturno, o CLIL[1] , entre outros.
Mas o que é de fato o bilinguismo?
O bilinguismo é a modalidade linguística mais comum em todo o mundo, principalmente se considerarmos que o termo “bilíngue” pode incluir o conceito de “multilinguismo”. Países como Índia, Nigéria e Indonésia são exemplos nítidos da presença do multilinguismo em nossa civilização.
No caso da Indonésia, por exemplo, tem-se 706 línguas vivas, faladas por uma população de aproximadamente 250 milhões de habitantes. Obviamente é feita a escolha instrucional por uma língua oficial, enquanto as demais variam em oferecimento (ou não) de acordo como o contexto da comunidade.
Os exemplos acima têm a intenção de demonstrar que o bilinguismo não é um conceito novo, assim como a educação bilíngue também não é. O que aqui nos é importante é tratar do fenômeno do crescimento das escolas de educação bilíngue no Brasil, ainda que não haja legislação específica, e de que forma este processo vem ocorrendo.
Como indicado acima, as escolas que optaram por essa modalidade educacional vêm se utilizando de abordagens e metodologias diversas e, independentemente da escolha feita, cabe ressaltar a importância de que se entenda que a educação bilíngue não trata da simples aprendizagem de uma segunda (ou segundas) língua (s), seu foco não é seu ensino propriamente como tópico, como disciplina, mas sim o uso de dois ou mais idiomas como meio de instrução, de forma a oferecer uma visão mais ampla do mundo, de diferentes culturas e consequentemente uma educação mais significativa, fomentando a troca cultural ampla e o desenvolvimento de maior tolerância e profundidade em nossas abordagens pedagógicas.
Ou seja, como disse Nelson Mandela em um de seus discursos: “Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração”.
Em “Über Kunst und Alterthum” (1821), afirma Goethe, que “aquele que não conhece uma língua estrangeira, não conhece a sua própria”. O grande filósofo e literato alemão não se referia somente à língua propriamente dita, mas a tudo o que ela carrega e representa, ou seja, o pensamento de um povo, sua cultura, sua individualidade, sua história. Portanto, quem pretende oferecer esta modalidade de educação ou oferece-la a seus filhos deve estar preparado para o contato com um mundo muito maior, à formação de cidadãos mais críticos e de pessoas mais humanas e tolerantes.
Mas para que isso ocorra, a educação bilíngue tem de ocorrer de fato, ou seja, deve garantir que todos os estudantes tenham pleno domínio das habilidades desenvolvidas em todos os idiomas e deve garantir a diferenciação e a inclusão, próprias ao ensino integral, significativo e responsável! Mas estas já são questões metodológicas, que dariam um outro artigo. Concluímos estes afirmando que a educação bilíngue ultrapassa o ensino da língua de forma avassaladora. A educação bilíngue abre portas, ultrapassa fronteiras, derruba barreiras e aproxima culturas. Nela, as línguas são os meios, não os fins.
Por Erica Coutrim, educadora da Escola Concept de Salvador (BA)