Capoeira muda a vida de refugiados em áreas de conflito

Pesquisa da Universidade do Leste de Londres mostra que a capoeira –arte afro-brasileira que recebeu, no ano passado, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade– tem impacto positivo sobre o estado físico e emocional de crianças e jovens refugiados.

Com base em dados coletados de setembro de 2013 a maio de 2015, na Palestina e na Síria, as pesquisadoras concluíram que a capoeira, oferecida de forma contínua a crianças e adolescentes, leva à melhora do estado físico e psicológico, ao desenvolver cinco pontos-chave: estabilidade emocional, tolerância, amizade, força interior e capacidade de brincar.

A pesquisadora Kathryn Kraft enfatiza que, nos casos estudados, foi possível perceber que os apelidos dados aos alunos, típicos da capoeira, bem como os laços criados entre o treinador e as crianças ajudaram a promover a identidade.

Para a coleta dos dados foram promovidos grupos de discussão com as crianças, entrevistas com professores, treinadores, conselheiros escolares e alunos, além da análise de depoimentos escritos e postagens feitas em grupos específicos no Facebook. Os resultados levaram à elaboração do que as pesquisadoras chamaram de teoria da mudança, que tem entre os pontos-chave a ampliação da capacidade de brincar.

Em depoimento, um aluno, cuja identidade não foi divulgada, afirmou que um dos principais benefícios da arte é proporcionar a felicidade.

Uma menina, que participava das aulas oferecidas exclusivamente para mulheres, declarou que a capoeira serve para extravasar a dor. “Em vez de sair e agredir uma pessoa que odiamos, jogamos capoeira. Deixamos toda a energia e a dor saírem na capoeira. Deixamos a raiva sair. Quando estamos muito preocupadas ou tensas, jogamos capoeira e relaxamos, esquecemos.”

A pesquisa foi conduzida em parceria com o projeto Capoeira para Refugiados, que surgiu em 2007, em Damasco, na Síria. Aulas de capoeira são oferecidas para crianças e jovens de comunidades marcadas por conflitos e guerras. A organização sem fins lucrativos atua na Palestina, na Síria e mais recentemente na Jordânia, mas tem sede em Londres. Além de oferecer as aulas, incentiva a formação de grupos locais que possam continuar a prática de forma independente. Mais informações sobre o projeto estão disponíveis em ww.bidnacapoeira.org.

Por Giselle Garcia, da Agência Brasil