Cientistas desvendam relação entre malária e linfoma

Estudos epidemiológicos vinham indicando há décadas uma relação entre infecções recorrentes pelo Plasmodium falciparum (parasita responsável pela maioria dos casos de malária no mundo) e o desenvolvimento de linfoma de Burkitt, um tipo de câncer que afeta os linfócitos produtores de anticorpos (células B).

O provável elo entre as duas patologias foi identificado por pesquisadores da Rockefeller University, nos Estados Unidos. O trabalho, que contou com a participação do brasileiro Israel Tojal da Silva, foi divulgado em artigo publicado na revista “Cell”.

O grupo infectou camundongos com protozoários da espécie Plasmodium chabaudi, uma vez que os parasitas que causam malária em humanos não infectam roedores. Notaram que a doença fazia com que certas células de defesa se proliferassem mais rapidamente e expressassem níveis altos e sustentados de uma enzima chamada AID (Activation-induced cytidine deaminase, na sigla em inglês), que pode causar danos ao DNA.

Pesquisa identifica elo entre malária e o desenvolvimento de linfoma de Burkitt

Todos os roedores com AID funcional desenvolveram um tipo de linfoma caracterizado por rearranjos cromossômicos entre os genes c-myc e IgH similares ao observado nos casos humanos de linfoma de Burkitt.

No grupo com deficiência de AID, apenas um terço desenvolveu linfoma. No entanto, esses animais se mostraram muito mais suscetíveis a morrer de malária, o que sugere que a enzima é crucial na resposta imunológica contra o parasita.

Dentre os resultados, foi observado que as translocações ocorrem em todos os cromossomos, preferencialmente em regiões gênicas, e em genes altamente expressos.

Embora raro em âmbito mundial, esse tipo de câncer no sangue tem uma alta incidência entre os indivíduos com imunodeficiência em regiões endêmicas para malária na África, onde predominam as infecções pela espécie P. falciparum.

No Brasil, a maioria dos casos de malária se concentra na região amazônica e é causada pela espécie Plasmodium vivax, cuja associação com o desenvolvimento de linfoma ainda não foi apontada em estudos epidemiológicos.

Por Karina Toledo, Agência Fapesp