COP22 é ponto de partida para colocar em prática Acordo de Paris

Entre os dias 7 e 18 de novembro, a cidade de Marrakesh, no Marrocos, sediou a COP22 (Conferência das Partes das Nações Unidas) para tratar das emissões de gases do efeito estufa e o aquecimento global, previsto na ratificação do Acordo de Paris para as mudanças climáticas.

Estiveram reunidos chefes de estado, governantes, diplomatas e embaixadores de várias partes do mundo. Mais de 16.000 pessoas participaram nas duas semanas de conferência, incluindo a participação de ONG’s, imprensa internacional e ativistas ambientais.

A comitiva brasileira esteve presente para debater as questões climáticas, com a participação do Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (Chefe da Delegação Brasileira), Blairo Maggi, Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Frente Parlamentar Ambientalista e Frente Parlamentar do Biodiesel.

Entre os temas mais debatidos, o esforço veemente para que o Brasil introduza a economia do baixo carbono nos processos de produção industrial e o compromisso em reduzir as temperaturas em até 1,5º C determinado no Acordo de Paris, durante a COP21, em dezembro de 2015. Na agenda de 2025, a estimativa é reduzir as emissões em 37%. Na agenda 2030, a meta brasileira proposta é otimizar o uso das fontes renováveis em até 43% no setor de energético, além do combate ao desmatamento ilegal na Amazônia, além de reduzir os impactos da produção agrícola e o consumo consciente de água.

Na sessão plenária brasileira, na COP22, o Ministro do Meio Ambiente relatou que “o Acordo de Paris abre uma nova agenda de oportunidades para negócios sustentáveis no Brasil que vão apoiar a retomada do desenvolvimento econômico de forma competitiva e sustentável. O desafio climático é uma grande oportunidade para reorientar o Projeto Nacional de Desenvolvimento na criação da economia de baixo carbono. Está aberto o caminho para pensarmos as ferramentas financeiras adequadas que possam premiar quem se esforça para implementar o acordo de Paris, atraindo agentes econômicos para atividades de baixas emissões”.

Sessão plenária brasileira, o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, e Alfredo Sirks, Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (ambos ao centro da foto)

Houve, ainda, o lançamento da Plataforma Biofuturo, idealizada pelo Brasil, na Coalizão de vinte países comprometidos com a energia limpa e biocombustível, entre eles: Canadá, Estados Unidos, Marrocos, Reino Unido e França. Os parâmetros seguem os Objetos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e caminham na busca da sustentabilidade para o uso de combustíveis fósseis e etanol.

Painel brasileiro da Coalizão, com Blairo Maggi, Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (ambos, à direita na foto)

Crédito foto: Carolina Maximo

Pela primeira vez em uma edição da COP, o Brasil promoveu debates e diálogos em um espaço próprio, fruto da parceria com a APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), para a realização de palestras com especialistas em mudanças climáticas, desmatamento ilegal, gestão de recursos hídricos, ONG´s, setor privado e representantes do setor público, como o Itamaraty, Frente Parlamentar Ambientalista e Frente Parlamentar do Biodiesel.

Para Alfredo Sirks, Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, “a COP22 reforça a COP21, mesmo sem ter a mesma importância política da edição anterior. A conferência abre espaço para o diálogo e permite transpor o Acordo de Paris para realidade”. Os Estados Unidos, ocupam o segundo lugar na emissão de gases do efeito estufa no mundo, perdendo apenas para a China. Ainda assim, apesar da eleição de Donald Trump, que afirma que o aquecimento global é uma farsa, o país é bem descentralizado e possui políticas proativas em relação ao clima e a sustentabilidade, como é o caso do Estado da Califórnia.

De acordo com Carlos Rittl, Secretário-executivo do Observatório do Clima, “as metas absolutas do Brasil para 2025 e 2030 acontecem em meio ao segundo ano da recessão econômica, ou seja, não há esforço nenhum do país para investir em energia, crédito para pecuária e agricultura, nem medidas que combatam ao desmatamento e o reflorestamento. A NDC brasileira, comparada a de outros países é interessante, porém, comparada ao esforço que cabe ao Brasil ainda é insuficiente. O plano da safra, por exemplo, não está vinculado a estrutura do baixo carbono. A meta não é suficiente para atingir 1,5 ° C da Ratificação do Acordo de Paris, assinado pelo Brasil. Essa fase deveria ser aproveitada para fazer os ajustes econômicos rumo à descarbonização. A agricultura e a pecuária, por exemplo, no Brasil dependem de um meio ambiente equilibrado. A permanência das águas nos rios, caatinga e vegetação nativa precisa ser preservada para o equilíbrio do ciclo de água, pois a agricultura no Brasil é muito vulnerável as mudanças climáticas”.

No balanço final da COP22, 112 países assinaram a ratificação do Acordo de Paris, do total de 197 participantes da Convenção, ao se comprometerem a manter a temperatura abaixo dos 2° C, dentro do limite estimado para no máximo 1,5° C. A NDC (Contribuição Nacional Determinada), limita a emissão do GEE (Gases do Efeito Estufa). Para o Brasil, essas medidas só otimizam e reforçam o alcance das metas absolutas estabelecidas para 2025 e 2030, respectivamente, fazendo do país, em desenvolvimento, pioneiro na redução das emissões dos gases poluentes do efeito estufa e no alcance dos demais objetivos estabelecidos no Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Por Carolina Maximo, 31 anos, jornalista, pesquisadora, especializada em Comunicação voltada para o Meio Ambiente e Sustentabilidade. Atualmente, pesquisa a relação do trabalho escravo e a insustentabilidade na cadeia produtiva no setor têxtil relacionada à cobertura midiática. Foi à Marrakesh para cobrir a COP 22, da ONU.

Contato: carolinamaximo@uol.com.br