Cresce nº de jovens que faz doações, mas Brasil está menos solidário

Nem tão solidário nem tão cordial. Essa imagem do brasileiro não condiz com a realidade, segundo o World Giving Index ou Índice Mundial de Solidariedade.

Desde o início do levantamento, em 2009, temos caído no ranking. Foram 51 posições, e, na última edição, referente a 2014, saímos do grupo dos 100 mais bem colocados _ entre 145 países que participam da pesquisa, estamos na 105ª posição. O líder é Mianmar, país asiático com PIB per capita menor que o do Brasil, e o segundo, os Estados Unidos. O lanterna é o africano Burundi.

O levantamento, encomendado pela Charities Aid Foundation, organização sem fins lucrativos que promove a doação e a filantropia em todo o mundo, e divulgado hoje pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), analisa três indicadores: a porcentagem de pessoas que doou para a caridade, quantas delas dedicaram algum tempo ao voluntariado e quantas ajudaram um desconhecido, sempre tendo como referência o mês anterior à pesquisa.

No Brasil, 20% afirmaram ter doado alguma quantia, dois pontos percentuais a menos do que 2013. Essa é a taxa mais baixa desde 2009. A quantidade de pessoas que fez algum trabalho voluntário também caiu: está em 13%, diante dos 16% obtidos em 2013. O único indicador que oscilou positivamente foi o que diz respeito a ajudar desconhecidos: passamos de 40% para 41%.

Para Paula Jancso Fabiani, presidente do Idis, a crise atual no país é um complicador, mas não explica a queda no ranking. “O mundo teve uma piora expressiva com a crise financeira em 2009, enquanto o Brasil não foi atingido. Agora, o mundo melhorou, e o Brasil, não. Estamos andando na contramão. Pioramos, mas não tanto quanto outros países da América Latina, como Argentina, Peru e Equador”, afirma ela, citando países que estão em 108, 114 e 131 no ranking, respectivamente.

A luz no fim do túnel parece ser a nova geração. A faixa etária dos jovens, entre 15 e 29 anos, foi a única que registrou aumento de doadores, na comparação com 2013: saiu de 20% para atuais 22%.

“Essa participação dos jovens fazendo doações é um reflexo do aumento das plataformas de crowdfunding, desses mecanismos on-line para doação e mobilização pelas redes sociais. É encorajador ver que mais pessoas jovens estão doando e que, mesmo em tempos econômicos difíceis, os brasileiros estão ajudando mais os outros. Mas há um longo caminho a percorrer até que a doação alcance níveis de países similares ao nosso.”

A solução, afirma, Paula, é criar uma cultura da filantropia no país, unindo o governo, o setor privado e a sociedade civil. As escolas surgem como facilitadoras: “O Brasil precisa fazer um trabalho de  mudança cultural geracional, desde a primeira infância. Por isso precisamos de um trabalho nas escolas. São poucas as que têm algum tipo de engajamento para o trabalho voluntário, ao contrário de países como EUA, onde é prática comum. Elas precisam se conscientizar de que são um veículo para promover essa cultura de doação nas novas gerações”.

Por QSocial