De carona ou ônibus, casal viaja pela América ajudando pessoas

Foi nos saraus de fim de semana do coletivo cultural de poesia, literatura e teatro Os Mesquiteiros, em uma escola pública em Ermelino Matarazzo (zona leste de São Paulo), que o casal de publicitários Marcelo Castro de Oliveira, 28 anos, e Tainá de Castro Rodrigues, 31 anos, decidiu jogar a carreira para o alto e ir atrás de dois grandes sonhos: conhecer o mundo e trabalhar ajudando pessoas.

“Voltar à nossa realidade, durante a semana, era difícil e contraditório, principalmente por trabalharmos com publicidade de grandes marcas, que, em geral, são baseadas em rótulos superficiais e números em vez de pessoas. Terminávamos o dia nos perguntando por que estávamos fazendo aquilo que pouco contribuía com os nossos ideais de vida”, conta Marcelo.

Na periferia, diz, sentiam-se completos. “Era gratificante ver como as pessoas são felizes com menos, apesar da luta diária para sobreviver. Também nos encantava ver como a humanidade brotava. São dois mundos quase que radicalmente opostos. Lá, as pessoas se ajudam, se conhecem e compartilham suas vidas. Do nosso lado da cidade, muitas vezes não conhecemos nosso vizinho de prédio e nem sequer somos capazes de dizer bom dia no elevador.’’

Buscando entender os dois lados, o casal concluiu que um era gerido pelo “nós”, e o outro, pelo “eu”. “Não era regra, mas era facilmente perceptível”, afirma. “Como vivíamos muito mais no lado do eu, esse egoísmo nos distanciava dessa maneira de viver e sentíamos que a mudança precisava ser mais bruta do que somente trocar de profissão: era preciso aprender do zero.”

E foi assim que, em outubro do ano passado, depois de 18 meses de planejamento, o casal colocou, literalmente, o pé na estrada e deu início ao projeto Calle America. O significado, explica Marcelo, “remete a nossa direção atual, como uma resposta à pergunta onde estamos: na rua América, no grande continente América”. E, em espanhol, já que é o idioma da maioria dos países que eles vão visitar.

A ideia é percorrer a América do Ushuaia ao Alasca, trabalhando em projetos socioambientais por dois anos. Começaram pelo Uruguai, onde aturam em duas ONGs: na CEPRODIH, que ensina ofício a mulheres que sofrem violência doméstica ou são marginalizadas, organizaram uma exposição do trabalho das beneficiárias do curso de fusão em vidro. Depois, na El Abrojo, que ajuda no desenvolvimento de crianças e adolescentes da periferia, fizeram cursos e oficinas culturais.

Ainda em terras uruguaias, trabalharam por 20 dias em uma fazenda de permacultura, ajudando a cuidar dos animais, plantar e cuidar da horta, “para entender melhor o que é ser sustentável nesse mundo”. Já na Argentina, ajudaram a organizar e fotografar um mutirão da Fundação Zaldivar, que leva cuidados oftalmológicos a crianças carentes; fizeram recreação na Fundação CONIN, que combate a desnutrição infantil no país, e trabalharam como instrutores de tecidos e saltos no Circo Von Perez, que estava em turnê pelo país levando cursos e apresentações gratuitas a crianças e jovens carentes.

Mas foi no Chile que descobriram que a contribuição deles poderia ser mais efetiva. Junto com a ONG Travolution , que ajuda povoados a desenvolverem turismo comunitário, viveram por três semanas com índios e pescadores. Captaram imagens e fizeram um vídeo:

Era o norte que faltava à Calle America. “Vimos a falta que faz materiais para promover projetos transformadores. E decidimos que contaremos em vídeo a história de cada um onde nossos pés pisaram.” Nasce, assim, o novo negócio do casal: uma produtora social. “Buscamos relacionamentos em que a generosidade e a bondade sejam mais presentes, e o dinheiro não seja o ator principal.”

Por QSocial