Detentos transformam bicicletas fora de uso em cadeiras de rodas
Frentes de trabalho têm como foco ações sociais e de sustentabilidade do sistema prisional
Dois detentos do Presídio de Itajubá, no sul de Minas Gerais, estão transformando bicicletas apreendidas por roubo ou tráfico de drogas em cadeiras de rodas para adultos e crianças da região que não podem comprar o equipamento de extrema necessidade para sua locomoção.
A dupla Donizeti e Damião já transformou mais de 300 bicicletas em cadeiras de rodas.
A dupla também conserta brinquedos quebrados de praças públicas e escolas e é responsável também pela manutenção geral do presídio e atuam nas áreas de hidráulica, elétrica, pintura, máquinas e alvenaria.
O projeto das cadeiras de rodas começou há seis meses e tem o apoio da Helibras, empresa brasileira fabricante de helicópteros, instalada no município. Ela doa as rodas menores, o aro para locomoção, o estofamento e faz a pintura da estrutura das cadeiras. A empresa ainda doou uma máquina de solda profissional para a oficina do presídio.
Damião conta que também faz outras reformas em cadeiras de rodas e já participou de algumas entregas. “É um momento emocionante, fico muito feliz. É gratificante poder ajudar as pessoas com o meu trabalho.”
Para o diretor de Atendimento e Ressocialização, Leandro Rodrigues Palma, o projeto ocupa um lugar especial entre todas as atividades exercidas pelos detentos. “Fiquei impressionado com um documento enviado pela ONG Caravelas, em que relatava problemas sociais na região e pedia ajuda. A partir disso, foram surgindo ideias para auxiliarmos de alguma forma.”
A relação do presídio com a comunidade envolve também alimentação e lavanderia. Semanalmente, cerca de 200 peças de roupas de cama são entregues nos postos de saúde de Itajubá. Dois detentos operam as máquinas de lavar e passar.
Na câmara de preparo e pesagem de alimentos trabalham dois presos que cuidam de lavar, descascar, cortar e embalar verduras, legumes e frutas para a cozinha do presídio. Para o restaurante popular da cidade são enviados semanalmente quase 350 quilos de alimentos.
A alimentação dos presos e servidores é a mesma, sendo preparada por nove detentos. Produção e controle de qualidade ficam por conta de uma nutricionista e uma chef de cozinha.
Uniformes
Outro grupo de 19 detentos é responsável por confeccionar uniformes para outros presídios do Estado. São entregues, semanalmente, 600 calças femininas e 600 camisas masculinas.
As peças são produzidas integralmente na oficina a partir de bobinas de tecidos. Tudo é cuidadosamente marcado e cortado pelo detento Bruno Fernandes Lamin, de 32 anos.
A experiência de Fernandes, que esteve por oito anos em uma confecção na cidade de Virgínia, em Minas Gerais, serviu para que atuasse como um dos principais homens na produção dos uniformes. Ele treinou 25 colegas. Alguns deles tiveram a liberdade e montaram o próprio negócio.