Em vez de pão, ONG distribui livros no sertão nordestino
Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado
Tem quem venha para mudar este país, e de quebra mais alguns. É o caso do empresário catarinense Roberto Pascoal e sua empresa a Omunga Grife Social. O menino de ouro do comércio exterior brasileiro para a África sentiu um baque ao ver a precariedade do ensino nas escolas de Angola e Moçambique. Mas não ficou na retranca quando voltou para o Brasil há dois anos. Partiu para o ataque. Percebeu que avançar está na raiz de criar, e criar é escapar de uma realidade que nos aflige. Assim, a partir de um emprego muito bem remunerado, juntou o necessário para fundar sua companhia na esperança de ajudar a sociedade, não só a si mesmo. É o que chamamos hoje de “altruísmo eficaz”.
Sua empresa usa o capital para produzir um serviço que cause impacto social positivo. E assim nasceram, patrocinados pela Omunga, os projetos “Livros para a África” e as “Escolas do Sertão”.
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Curral Novo e Betânia do Piauí, cidades na divisa de Piauí e Pernambuco, estão acostumadas a frequentar as páginas dos jornais pela seca e a pobreza que assola a região há séculos. Mas, desde o ano passado, essas cidades estão sendo procuradas por motivos mais nobres: foram escolhidas pela Omunga como pioneiras no país de um projeto inovador, cuja finalidade é construir bibliotecas em locais de extrema vulnerabilidade social.
Muitas ONGs prestadoras de assistência humanitária na África distribuem alimentos, preservativos e conselhos, arrecadando milhões, mas distribuindo migalhas. Importam, sim, a sua maneira, com o bem-estar do povo. No entanto, diferentes delas, “Livros para a África” e “Escolas do Sertão” partem da premissa de que, ao invés da localidade necessitada esperar socorro por meio de uma ajuda humanitária (os doadores não contribuem para o desenvolvimento da região), o que vale mesmo é incentivar uma assistência praticada por eles mesmos.
O projeto tem como gancho a construção das bibliotecas, mas o foco principal é a capacitação de professores, coordenadores e diretores de ensino das escolas desses municípios, por meio de oficinas ministradas por voluntários altamente capacitados.
Dessa forma a capacitação se torna “palavras em capa dura”. Este poderia ser o mote da “Escolas do Sertão”. Todos sabem que um bom caminho para ajudar o Brasil a avançar na qualidade do ensino público, e também como fator estratégico para reduzir a desigualdade, principalmente no que se refere a escolas que atendem alunos em situação de maior vulnerabilidade, é fundamental ocupar-se da formação docente e dos profissionais da educação. Esta é a proposta da Omunga. E sua ação busca a excelência. Só assim o projeto fará a diferença na aprendizagem e na vida das crianças e dos jovens.
Sua tropa de choque é formada por pedagogas, assistentes sociais, gestoras de RH e psicólogas, contadoras de histórias, fotógrafos, voluntários que não veem suas atividades como doação, mas como intercâmbio. Suas oficinas estimulam uma grade curricular que dialoga com os interesses dos jovens, que incentiva o aluno a opinar, a debater para decidir, que desperta sua autonomia frente aos próprios projetos de vida e respeita suas aspirações profissionais. Mas vai muito além ao oferecer o contato humano, a compreensão sensível que nenhum programa governamental, por mais bem planejado que seja, consegue oferecer.
Viajamos às duas localidades em maio último para conhecer de perto o Projeto Escolas do Sertão, e testemunhamos que não se trata de algo utópico ou de história de ficção. Vimos como há dificuldades para desdobrá-lo na prática. Mas quando, durante uma semana, notamos que quase duas centenas de professores, coordenadores e diretores dessas duas cidades participaram e interagiram ativamente com os voluntários da Omunga, pedindo feedback de suas aulas, reconhecemos que todo esse projeto tem potencial para beneficiar a sociedade. O que se reforçou mais ainda nas palavras da professora Jorlândia da Silva, “… não é que a gente não ensinava ou não sabia ensinar, sabíamos, mas faltava um molho, um tempero que os voluntários trouxeram”, e complementa, “não importa o tamanho do passo, importam cada passo e a continuidade do passo”.
Apesar dos bons resultados obtidos nas duas capacitações de professores já realizadas pela “Escolas do Sertão”, falhas ainda existem, como por exemplo uma necessidade maior de reconhecimento e compreensão por parte das Secretarias Estaduais de Educação. Sem dúvida, tais órgãos poderiam apoiar com entusiasmo esse projeto que pode vir a ser uma fênix permanente no processo de renovação e inovação educacionais.
Saiba mais sobre o Projeto Escolas do Sertão, patrocinado pela Omunga Grife Social. Se inteire, se associe, seja também um voluntário.
Site: www.omunga.com
E-mail: [email protected]