Em zoo, crianças cegas descobrem o mundo animal com as mãos
João Vitor Dornelas, 7 anos, não sabia dizer qual bicho gostou mais. “O sapo. Não, a tartaruga! Não, a cobra! Ela escorregou pela minha perna. Foi legal”, relatou o menino ao final do Zoo Toque, programa especial do Zoológico de Brasília que proporciona a crianças com deficiência visual a oportunidade de descobrir o mundo animal pelas mãos.
“Conheço gato e cachorro, mas esses daqui [anfíbios e répteis] não”, contou Mirela Pereira, 10 anos, que perdeu a visão devido à Síndrome de Stevens-Johnson. “A tartaruga tem umas escamas, e o jabuti tem a pele riscada”, comparou. “A cobra é muito gelada. Todo mundo lá em casa vai saber”, disse Vitor Paz Rodrigues da Cunha, 12 anos.
“Eles têm um conhecimento abstrato dos animais, e essa visita ao zoológico ajuda a formar na mente deles a imagem dos bichos”, afirmou Ana Paula Rosa, professora que acompanhava os alunos. Assim, eles puderam perceber forma, textura, calor do corpo e movimentos respiratórios, além de diferenças de pelos e penas.
Conforme tocavam e exploravam o corpo dos animais, o veterinário Thiago Lucizinski descrevia o formato e narrava cada parte que a mão dos pequenos curiosos alcançava. “Não basta descrever, aqui eles podem sentir e cheirar, para comprovar o que falamos.”
E cada um tem uma reação, explica Claudia Neves, coordenadora do programa, que atende também adolescentes, jovens e adultos com deficiência visual. “Alguns ficam com medo de borboleta. Eles criam na cabeça a imagem dos que estão tocando.”
Por QSocial