Juntos, eles perderam mais de 130 kg e se reinventaram
Estes dois brasileiros têm grandes histórias de luta para contar. No caso de Fabiano Lacerda e de Aline Machado, a briga foi contra a balança. Ele perdeu 103 kg em um ano. Ela, 30 kg em seis meses.
A façanha do publicitário baiano Fabiano Lacerda, de 34 anos, começou em 2014. Foi quando um colega de trabalho o desafiou a emagrecer 60 kg em seis meses, sem medicação ou cirurgia. A aposta envolvia dinheiro e sua família gostou da brincadeira, apostando também.
Não só Lacerda perdeu os quilos propostos, como foi além e eliminou 103 kg em um ano.
A história do publicitário, que chegou a pesar 193 kg, ficou famosa e lhe rendeu frutos. Lacerda tornou-se influenciador digital, com mais de 52 mil seguidores no Instagram e quase 23 mil no Facebook.
“No início, essa aposta foi uma grande empolgação, em partes com o valor que ganharia se vencesse, que era significativo, e em partes por querer provar que eu era capaz de alcançar aquele objetivo”, explica Lacerda. “Mas, ao longo do tempo, percebi que algo mudou em mim, e para melhor. Conforme emagrecia, ganhei em autoestima e disciplina, e aprendi que é possível, sim, mudar de vida.”
Ele acaba de lançar um livro, “A Aposta”, que conta como a brincadeira de escritório tornou-se uma história de superação e persistência, que terminou em final feliz e uma vida mais plena e saudável.
“Lançando o livro, pretendo motivar e inspirar outras pessoas a enfrentar dificuldades, sejam quais forem elas, com determinação, mas sem nunca perder o bom humor.”
Mãe, advogada e ex-obesa
A mesma persistência moveu a advogada Aline Machado, de 35 anos, a perder 30 kg em seis meses. “Decidi emagrecer porque não aguentava mais ser a gorda da turma”, conta a paulistana, que iniciou o processo de emagrecimento ainda adolescente, em 1997.
Machado, que mede 1m59, chegou a ter 90 kg. “Quem me conhece há pouco tempo, ou seja, magra, jamais fala que um dia eu fui tão gorda.”
Já em seu peso ideal, a advogada conheceu seu marido na academia e engravidou em 2014. Ela engordou 15 kg durante a gestação e temia perder o que já havia conquistado. “Logo depois que o Felipe nasceu e o médico liberou as atividades físicas, fui voltando aos poucos.”
Ela conta que, diariamente, ia à academia com o filho ainda bebê. “Ele dormia no carrinho ou se deliciava com uma fruta”, relembra. “Não foi fácil, mas eu já conhecia o caminho e sabia que com determinação eu iria conseguir e de fato consegui.”
Saúde em primeiro lugar
Tanto o publicitário quanto a advogada mantiveram o peso ideal por meio de reeducação alimentar e exercícios. Márcio Mancini, chefe do ambulatório de obesidade do Hospital das Clínicas, admira os resultados. “Eles são absolutas exceções. São muito raros casos como esses”, afirma o médico.
Mancini explica que, em situações de emagrecimento entre 5 a 10% do peso total do indíviduo, cerca de 80% das pessoas acaba engordando novamente.
Outro estudo acompanhou, por cinco anos, pessoas que perderam mais de 50 kg no reality show “The Biggest Loser”. Após o período, elas haviam recuperado grande parte do peso perdido durante o programa. “Continuavam ativos fisicamente, mas estavam com o metabolismo mais lento do que antes”, conta o médico. “Parece que o organismo tende a se defender de perdas muito violentas de peso.”
A conclusão médica é que a manutenção de peso em casos como os de Lacerda e Machado não é fácil. “Eles terão de lutar muito para não recuperar novamente, mas a perda voluntária de peso é saudável”, tranquiliza Mancini.
Alguns medicamentos e cirurgia bariátrica também são indicados em alguns casos, de acordo com os problemas de saúde de cada paciente. E o que fazer com o excesso de pele após o emagrecimento, bem aparente na capa do livro do publicitário?
“Há até problemas higiênicos, pois o ‘abdômen em avental’ [como é chamado no meio médico] acumula suor e pode ocasionar micoses”, diz Mancini. “É indicado fazer abdominoplastia.”
A obesidade no Brasil atinge 20% dos homens adultos e 25 % das mulheres, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, publicada em 2015 pelo IBGE. É considerada uma doença crônica. Já o excesso de peso é mais abrangente e existe em 60% das brasileiras adultas e em 57% dos homens.
“Emagrecer por conta da mudança de hábitos alimentares e aumento da atividade física só faz bem”, afirma Mônica Jorge, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Ainda mais se aconteceu com acompanhamento médico e de nutricionista, se ocorreu lentamente e com todos os cuidados necessários, como exames.”