Líder de ONG quer construir campus para semear sustentabilidade

A designer Suzana Padua tinha 27 anos quando embrenhou-se nas matas selvagens no Pontal do Paranapanema, no extremo oeste de São Paulo, para acompanhar o marido, o biólogo Claudio Padua, no estudo do mico-leão-preto, um dos primatas mais raros e ameaçados de extinção no mundo. Era a semente do Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas) ,  terceira maior ONG ambiental brasileira, da qual ela é cofundora e presidente.

De pesquisa de espécies ameaçadas, o Ipê expandiu-se para restauração de habitats, desenvolvimento comunitário sustentável, conservação da paisagem, envolvimento em políticas públicas e educação ambiental. Com a cultura de abrigar quem ali encontrar solo fértil, agregou mais de 90 mestrandos e doutorandos em seus projetos e recebeu do Ministério da Educação a primeira autorização dada a uma ONG para oferecer curso de pós-graduação.

A Escas (Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade) hoje funciona em um sítio, em Nazaré Paulista. “Criamos um ambiente em que as pessoas sentem que podem ousar, projetar soluções e monitorar as mudanças que acontecem”, diz Suzana. “Se considerarmos que cada ser humano tem um ou mais talentos, este deveria ser o princípio da educação oferecida a todos: ajudar cada um a descobrir o que ama fazer e buscar as ferramentas necessárias para que desabrochem plenamente.”

Exemplos não faltam. “Muitos de nossa equipe deram a volta por cima em desafios que para a grande maioria seriam intransponíveis.” Maria das Graças de Souza, que vem de uma família pobre do Pontal do Paranapanema, foi a primeira a obter diploma universitário, fez mestrado e prepara-se para o doutorado. Na bagagem, influenciou políticas públicas, fazendo a secretaria de educação em sua região adotar educação ambiental como temática transversal no currículo escolar.

Laury Cullen Jr., biólogo, plantou o maior corredor de Mata Atlântica existente, com 7 quilômetros de extensão e mais de 2 milhões de árvores. Como também estuda onças e os caminhos pelos quais esses felinos percorrem, ousou pedir a seu pai, dentista, para obturar cáries de uma fêmea que ele havia anestesiado para que pudesse ser cuidada. “Ele é uma estrela em nossa constelação”, diz Suzana.

Para o futuro, além de sustentabilidade econômica para a ONG, Suzana sonha com um campus para a Escas dar maior escala à formação de profissionais que contribuam para a conservação e sustentabilidade mundo afora. “Não se trata de um sonho individual, mas coletivo. O Brasil é um dos países com maior potencial socioambiental e econômico, se bem utilizar o princípio da sustentabilidade. Mas precisamos de muita gente capacitada a agir de maneira firme e consistente para torná-lo o exemplo que é capaz de ser.”

Com três filhos e dois netos, semeando a integração de economia, ambiente e sociedade, Suzana diz que o lado bom dos 63 anos é não mais ter que provar nada a ninguém nem a si própria. “A idade traz esta sensação boa de aceitação de nossas próprias falhas e qualidades”, pontua.

“Sem parar de almejar coisas grandes e belas, há uma noção de ritmo que é mais respeitada. Hoje pauso com mais assiduidade para refrescar ideias, corpo e mente. Pode parecer ruim quando se é jovem, mas são elas que me ajudam a refletir e a agir com maior cautela, respeito e profundidade.”

Por QSocial

*Este texto faz parte do projeto Geração Experiência, que tem como objetivo mostrar histórias de pessoas com mais de 60 anos que são inspiração para outras de qualquer idade.