Livro vai financiar oficinas comunitárias de reparação de bicicletas

M. é um manequim de loja aficionado por pedalar. Quando sua bicicleta é roubada, ele sai pela cidade em busca das peças perdidas, deixando um pouco de si pelo caminho. “Peças”, da dupla Aline Paes e Thiago Cascabulho, é muito mais do que um romance em quadrinhos. Trata-se da primeira publicação do selo “StoryFunding – Histórias com Impacto” da Caraminholas, que vai reverter 20% do valor arrecadado no financiamento coletivo para projetos do Instituto Aromeiazero.

Nesta primeira etapa do financiamento coletivo no Catarse, a expectativa é vender um mínimo de 500 livros. “Parece pouco, mas para crowdfunding é uma tiragem considerável”, diz Cascabulho. Depois, o livro será vendido na forma convencional, em livrarias, pela internet e em eventos. Com o percentual repassado para o Aromeiazero, serão realizadas oficinas comunitárias para reparação de bicicletas. “A cada 20 apoios de R$ 48, será possível reformar 1 bicicleta”, explica.

A ideia da narrativa da história, conta Cascabulho, veio pedalando pelas ruas de São Paulo: “Me senti um anônimo cercado por milhares de outros anônimos, como se todos nós fôssemos manequins sem rosto. E os ciclistas, em sua militância, coragem e interação com a cidade, estão conseguindo construir uma linda identidade”.

E veio então o enredo: “Em um mundo composto por manequins, um deles, que é ciclista e tem sua amada bicicleta roubada, faz de tudo para recuperar suas peças, ou seja, sua identidade. Para isso ele tem que percorrer a cidade, um lugar surreal, cheio de surpresas, e dar as peças de sua roupa em troca das peças da bike”.

Ao final da história, conta Cascabulho, o personagem fica nu. “Isto é simbólico, pois todos os ciclistas que vivem em cidades que não respeitam a bike se sentem assim. Bom, ele fica nu, mas recupera a sua identidade.”

Para ilustrar o livro, ele chamou Aline Paes. “Ela tem um traço ao mesmo tempo idílico e arrebatador, como andar de bike”, pontua. “Como sou coordenador de uma campanha de storytelling e um entusiasta do crowdfunding, vivo mergulhado nesses dois cenários. Por isso foi natural mesclar as duas linhas de pensamento, ou seja, financiar coletivamente a história e os ideais de uma organização inovadora no formato de literatura”, diz o jornalista, que já estuda criar produtos semelhantes para outros institutos, negócios sociais e ONGs.

Por QSocial