Malala e Marta são referências para crianças em projeto sobre direitos
Na Escola Concept, o planejamento das atividades pedagógicas é construído com o objetivo de promover a cultura de pensamento
Igualdade, desigualdade, justiça, direitos… Palavras complexas para crianças da educação infantil e um desafio para os educadores, em trabalhar com conceitos subjetivos. “Isso não foi justo, nós somos iguais”. “Meninas podem fazer também” são alguns exemplos de comentários das crianças no curso deste projeto “ Como sustentar igualdade na nossa comunidade”?. Como chegamos neste ponto?
Na educação infantil, assim como os outros ciclos da Escola Concept, fazemos conexões entre as habilidades e competências da Base Nacional Curricular Comum com o Project Based Learning. Isso significa que, o planejamento das atividades pedagógicas é construído com o objetivo de promover a cultura de pensamento em uma rota de aprendizagem com múltiplas linguagens.
Na tessitura dos diálogos entre estudantes, educadores e comunidade escolar estiveram presentes grandes nomes na luta pela igualdade de direitos como Martin Luther King, Malala e Gandhi.
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Por que usamos estas personagens? Suas narrativas de vida inspiraram e modelaram comportamentos de empatia, suas lutas foram pacíficas, usaram comunicação significativa e foram resilientes nos seus ideais. Suas ideologias nos ajudariam na resolução de problemas com o uso da linguagem não agressiva no ambiente de aprendizagem.
A jornada de aprendizagem do grupo Kindergarten começou com uma grande indagação “Será que ovos, de diferentes cores, teriam um interior marcado pela diferença”? A partir desta questão norteadora as crianças desenharam hipóteses e verificaram em prática, se os ovos teriam o mesmo conteúdo, apesar da diferente casca. Este experimento trouxe o concreto para uma discussão subjetiva, permitindo o scaffolding de conceitos densos sobre a construção da humanidade.
Experiência marcante para os nossos alunos foi quando nós utilizamos a animação de um curta-metragem sobre um porco-espinho que ao chegar novo na escola teve obstáculos na sua socialização por conta dos seus espinhos. Abrimos uma discussão “Quais poderiam ser as estratégias para incluí-lo no grupo sem machucar os colegas”? Deste ponto de partida, dialogamos sobre as nossas diferenças e como podemos construir laços sociais para além das características fenotípicas. “Nós podemos cortar os espinhos”, foi um dos pensamentos dos estudantes e prontamente foi refutado pelos colegas pois “ assim ele não poderia se proteger do perigo”. Após o brainstorm das possibilidades de intervenção, os estudantes pensaram em cobrir os espinhos com algodão. Nesse ponto, levamos a discussão para situações reais de igualdade de direitos nas diferenças.
O que foi diferente?
A história de Malala foi trilhada a partir do livro fictício “O lápis mágico de Malala”, que em linguagem infantil relata a história de Malala e convida os leitores a imaginar como um lápis mágico poderia mudar a realidade. A partir deste ponto, impulsionamos seus questionamos, se eles tivessem um lápis mágico, como poderiam consertar o mundo?. Alguns dos seus pensamentos foram “ Eu desenharia um hospital de graça”, “Eu desenharia um fogão grande para cozinhar pra todo mundo”. Nessas citações percebemos o exercício da empatia e os encorajamos a serem cidadãos ativos.
Durante este projeto, a Copa Feminina de Futebol estava acontecendo e a jogadora Marta lançou uma chuteira para promover a igualdade de gênero no esporte. Não perdemos a oportunidade de fazer conexões com a vida atual e em sala, discutimos sobre a igualdade de gênero. Encontramos outra conexão real na nossa frente, a estudante Carolina, de 8 anos, que joga futebol em uma equipe profissional. A convidamos para falar sobre sua experiência em jogar futebol, que é um esporte eminentemente masculino, e ao final do bate-papo, a resiliência de Carolina em perseguir sua paixão apesar dos obstáculos, inspirou nossos estudantes. Com este diálogo, trouxemos outros exemplos para nossa exploração e trocamos opiniões sobre a díade profissão e gênero.
Nós, educadores, às vezes eliminamos recursos porque pensamos que seria demais para o nível de compreensão deles. Desta vez, assumimos o risco e compartilhamos o famoso discurso de Martin Luther King para nossos alunos, a fim de mostrar como ele estava defendendo seus direitos. Até nossos pequeninos ficaram hipnotizados por sua afeição e determinação. Semanas após a exibição do vídeo eles continuaram a usar o discurso de Martin no seu vocabulário e iniciaram suas frases com “Eu tenho um sonho”. “Ele notou desigualdades na sociedade , ele decidiu consertá-las pacificamente e ele conseguiu” foi o nosso ponto de aprendizagem para os estudantes de grupo 5.
Outro pacificador em que decidimos trabalhar foi Gandhi, devido à sua liderança tranquila e influência nas pessoas. Depois de explorar suas ações e feitos, os estudantes entenderam que Gandhi provou que um homem tem o poder de assumir um império, usando ética e inteligência.
Ao refletirem sobre sua aprendizagem, em um processo de metacognição, provocamos os estudantes a pensar em perguntas que fariam a Gandhi, caso ele ainda estivesse vivo. “Porque ele só usa roupas brancas e rasgadas”? foi uma das percepções sobre a figura de Gandhi e “Ele faz yoga” foi uma grande referência feita a cultura hindu.
Ao final, percebemos que não deveríamos limitar os tópicos/conceitos apresentados a educação infantil. As crianças neste estágio de desenvolvimento têm um grande potencial para analisar evidências, fazer considerações, conexões, descrever e capturar a essência dos conceitos, além de praticar atitudes positivas.
Os limites são os que estabelecemos para os nossos alunos. Vamos impulsionar o seu pensamento, ajudá-los a desenvolver a sua mentalidade, (mindset) apoiá-los a desenvolver todo o seu potencial e envolvê-los ativamente na sua aprendizagem. Observamos que os estudantes estão prontos para isso. E você educador, está pronto para ensinar com novo conceito?
Por Burcu Polat Carneiro e Clara Peixoto, da Escola Concept de Salvador (BA)