Na Reggio Emilia, crianças são líderes no processo de educação
Confira o relato da educadora Larene Grissolia, em uma formação na região da Itália que é referência para primeira infância
Ao pegar o trem que parte de Milão para a pequena cidade de Reggio Emilia, situada na região italiana da Emilia-Romagna, já podemos perceber uma atmosfera diferente. Observando as pessoas ao redor, vejo que, como uma típica manhã de segunda –feira, muitas pessoas estão indo para universidades e para escolas. Mas, o que faz dessa charmosa cidade ser um centro de referência em educação?
Bem, para responder a essa pergunta é fundamental falar um pouco sobre o contexto histórico que essa cidade vivenciou. Após anos de opressão sofrida pelo sistema fascista durante a 2ª Guerra Mundial, famílias se uniram com um ideal de reconstruir um modelo educacional que valorizasse as crianças e suas inúmeras habilidades.
Esse modelo foi idealizado por Loris Malaguzzi, pedagogo e teatrólogo, responsável pela formulação teórica e prática da Pedagogia da Escuta e da Pedagogia Relacional implantada em Reggio Emilia.
- Entenda o que é aprendizagem adaptativa e quais suas vantagens para tornar o ensino mais eficaz
- 7 soft skills que são essenciais para você ter no currículo se quiser um trampo melhor
- SP abre 1.145 vagas em cursos gratuitos na área da cultura
- MEC abre 250 mil vagas em curso gratuito de educação inclusiva
Desde a década de 1960 até 1993, quando morreu, Malaguzzi é uma referência educativa até os dias atuais. Através de muitas pesquisas, surgiu a abordagem de Reggio Emilia que tem como norte a valorização do estudante como protagonista do processo de aprendizagem, sendo aplicada para a primeira infância (estudantes de 0 a 6 anos).
Sua projeção começa a partir do interesse do estudante e, como a própria etimologia da palavra nos mostra, ela não tem um crescimento linear, valorizando o processo da aprendizagem, considerando os diferentes caminhos tomados ao longo dessas experiências. O educador documenta o processo através de registros escritos e fotos que, ao final do processo, serão expostos nas paredes das escolas.
Entende-se como comunidade não apenas a comunidade escolar, mas também as diferentes relações sociais existentes na cidade. Trata-se de um convite para participar das atividades e decisões das escolas de Reggio Emilia, possibilitando o empoderamento da comunidade nas tomadas de decisões, atribuindo à abordagem um carater democrático.
Portanto, uma escola com a abordagem Reggiana estabelece um diálogo com as visitas através das suas paredes. O educador faz sempre questionamentos para os estudantes, sendo fundamental muita sensibilidade e apropriação do que está sendo feito. Assim há a valorização do estudante como protagonista do processo de ensino aprendizagem.
Devido a essa constante observação, a turma é dividida em diferentes estações de aprendizagem, percebendo uma riqueza nas intervenções que estão sendo feitas e no desenvolvimento e engajamento dos estudantes.
Em Reggio Emilia, existe uma valorização estética do ambiente de aprendizagem, oferecendo aos estudantes diferentes possibilidades de interação com os recursos disponibilizados. Elementos da natureza , trazidos pelos estudantes do entorno escolar compõem um dos materiais utilizados para construir suas obras de artes.
A valorização da expressão artística faz com que as escolas de Reggio Emilia tenham um “atelierista” com o propósito de instigar os estudantes nas diferentes formas de expressões.
Existe também um espaço onde estudantes de diferentes faixas etárias se encontram, o que eles chamam de “praça” da escola. Nesses ambientes podemos observar a fluidez do brincar onde fica claro a importância do crescimento da criança em um ambiente saudável, em que o seu papel de simplesmente ser criança é fator fundamental para essa abordagem existir.
Por Larene Grissolia, educadora da Escola Concept de Salvador (BA)