Percurso formativo: entre o tradicional e o disruptivo
Diretora compara sua formação com a que precisa exercer com sua equipe e alunos nos tempos atuais
Ainda hoje se me pedirem para desenhar uma casa, vejo-me tentada a desenhá-la com chaminé e ao lado colocar uma macieira. Esta é a verdadeira prova que preciso estar o tempo todo atenta e não permitir reproduzir velhos condicionamentos e sim, ressignificá-los.
Fui educada na didática tradicional, na qual o professor era detentor de todo o conhecimento, as cabeças deveriam estar “bem cheias”, a verdade era absoluta, as respostas eram únicas e o erro era punido. Era uma estudante que não se arriscava por medo de errar, insegura, porém muito competitiva. Queria sempre tirar excelentes notas.
Na faculdade, me encantei por diversos teóricos e práticas educativas, tais como: Bernardo Toro e as Sete Competências da escola contemporânea, David Ausubel com a aprendizagem significativa, Edgar Morin e a teoria do pensamento complexo, Emília Ferreiro e a psicogênese da língua escrita, Howard Gardner e a teoria das inteligências múltiplas, Jacques Delors e os pilares para a educação do século 21, Lev Vygostky e o sócio-interacionismo e, claro, Paulo Freire.
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Há professores que me marcaram e ainda estão vivos na lembrança, o que confirma que “a emoção é a cola da memória”.
Apesar de grandes sonhos e ideais, a minha vivência foi bem distante do que li e sonhei. Não só estudei como trabalhei por 20 anos em instituições de paradigma dominante. Porém, sempre estive atenta e curiosa aos avanços dos estudos da neurociência.
Lembro-me quando li Michael Merzenich explicar que o cérebro muda em dois sentidos. Ele muda suas conexões, que são direcionadas e redirecionadas para criar e desenvolver habilidades específicas. Todas as habilidades e talentos que definem você como um ser humano foram adquiridas ao longo do tempo, graças à capacidade de alteração do cérebro. Mas existe um outro sentido em que o cérebro se adapta: ele altera toda a sua forma. Assim como seu corpo, o cérebro pode estar em boa forma, ou em má forma. Ou seja, o modo como você vive, o quanto você exercita seu cérebro, define sua saúde cognitiva e mental.
Apesar da formação educacional ser determinante na nossa forma de pensar, sentir e agir, a neurociência comprova cientificamente tanto por neuroimagem como por exames comportamentais a neuroplasticidade mental, ou seja, a capacidade do cérebro de se reorganizar ao longo da vida, com habilidade para modificar a organização estrutural e funcional em respostas às experiências.
Consegui sair do mindset fixo que fui formada porque acompanho as transformações nos novos tempos, reflito sobre minha prática, faço conexões do que assimilei e da necessidade de ressignificar condicionamentos passados, sempre atenta ao “porquê”, “o que”, e “como” do meu fazer pedagógico.
Felizmente, tenho o privilégio de trabalhar em uma instituição que forma seus estudantes no paradigma emergente, que erro e dúvida fazem parte do processo de aprendizagem, que trabalha com metodologias ativas e que promove a cultura do pensar.
Para isso, nós educadores, precisamos gostar de desafios, precisamos ser persistentes, aceitarmos e aprendermos com as críticas e entendermos que o esforço é o caminho para se chegar a excelência. Meu maior desafio hoje é, como líder, fazer com que os meus educadores abracem os novos tempos e sigam comigo nesta caminhada, entendendo que precisamos ser HOJE, o indivíduo que desejamos formar para o FUTURO.
Por Nadja Valente, diretora da Escola Concept de Salvador (BA)