Percurso formativo: entre o tradicional e o disruptivo

Diretora compara sua formação com a que precisa exercer com sua equipe e alunos nos tempos atuais

05/09/2019 17:29 / Atualizado em 09/09/2019 22:20

Ainda hoje se me pedirem para desenhar uma casa, vejo-me tentada a desenhá-la com chaminé e ao lado colocar uma macieira. Esta é a verdadeira prova que preciso estar o tempo todo atenta e não permitir reproduzir velhos condicionamentos e sim, ressignificá-los.

Fui educada na didática tradicional, na qual o professor era detentor de todo o conhecimento, as cabeças deveriam estar “bem cheias”, a verdade era absoluta, as respostas eram únicas e o erro era punido. Era uma estudante que não se arriscava por medo de errar, insegura, porém muito competitiva. Queria sempre tirar excelentes notas.

Diretora da Escola Concept de Salvador compara sua formação com a que precisa exercer com sua equipe e alunos nos tempos atuais
Diretora da Escola Concept de Salvador compara sua formação com a que precisa exercer com sua equipe e alunos nos tempos atuais - Urupong/iStock

Na faculdade, me encantei por diversos teóricos e práticas educativas, tais como: Bernardo Toro e as Sete Competências da escola contemporânea, David Ausubel com a  aprendizagem significativa, Edgar Morin e a teoria do pensamento complexo, Emília Ferreiro e a psicogênese da língua escrita, Howard Gardner e a teoria das inteligências múltiplas, Jacques Delors e os pilares para a educação do século 21, Lev Vygostky e o sócio-interacionismo e, claro, Paulo Freire.

Há professores que me marcaram e ainda estão vivos na lembrança, o que confirma que “a emoção é a cola da memória”.

Apesar de grandes sonhos e ideais, a minha vivência foi bem distante do que li e sonhei. Não só estudei como trabalhei por 20 anos em instituições de paradigma dominante. Porém, sempre estive atenta e curiosa aos avanços dos estudos da neurociência.

Lembro-me quando li Michael Merzenich explicar que o  cérebro muda em dois sentidos. Ele muda suas conexões, que são direcionadas e redirecionadas para criar e desenvolver habilidades específicas. Todas as habilidades e talentos que definem você como um ser humano foram adquiridas ao longo do tempo, graças à capacidade de alteração do cérebro. Mas existe um outro sentido em que o cérebro se adapta: ele altera toda a sua forma. Assim como seu corpo, o cérebro pode estar em boa forma, ou em má forma. Ou seja, o modo como você vive, o quanto você exercita seu cérebro, define sua saúde cognitiva e mental.

Apesar da formação educacional ser determinante na nossa forma de pensar, sentir  e agir, a neurociência comprova cientificamente tanto por neuroimagem como por exames comportamentais a neuroplasticidade mental, ou seja, a capacidade do cérebro de se reorganizar ao longo da vida, com habilidade para modificar a organização estrutural e funcional em respostas às experiências.

Consegui sair do mindset fixo que fui formada porque acompanho as transformações nos novos tempos, reflito sobre minha prática, faço conexões do que assimilei e da necessidade de ressignificar condicionamentos passados, sempre atenta ao “porquê”, “o que”, e “como” do meu fazer pedagógico.

Felizmente, tenho o privilégio de trabalhar em uma instituição que forma seus estudantes no paradigma emergente, que erro e dúvida fazem parte do processo de aprendizagem, que trabalha com metodologias ativas e que promove a cultura do pensar.

Para isso, nós educadores, precisamos gostar de desafios, precisamos ser persistentes, aceitarmos e aprendermos com as críticas e entendermos que o esforço é o caminho para se chegar a excelência.  Meu maior desafio hoje é, como líder, fazer com que os meus educadores abracem os novos tempos e sigam comigo nesta caminhada, entendendo que precisamos ser HOJE, o indivíduo que desejamos formar para o FUTURO.

Por Nadja Valente, diretora da Escola Concept de Salvador (BA)