Policiais ensinam crianças a andar de bicicleta na Espanha
Por Ariane Landim, de Barcelona
Hoje ao sair de casa, logo em frente ao meu edifício, me deparo com uma cena insólita pelo menos para os meus padrões brasileiros: policiais ensinando a um grupo de crianças a andar de bicicleta!
Estamos no passeio marítimo de Badalona, um município que faz parte da região de Barcelona e que fica em frente ao mar. É horário escolar, e os grupinhos de crianças são divididos por tamanho e habilidade. As aulas parecem organizadas: Há uma tenda de apoio e cones no chão, e todos usam equipamentos de segurança como coletes e capacetes.
Descubro que as aulas de educação viária fazem parte de um programa da prefeitura, e que existe em muitos outros municípios da Espanha, desde Valencia e Madri a regiões de Andaluzia e Castilha y Léon. Os policiais da comunidade vão à escola e dão aulas teóricas. Depois, ali mesmo no entorno onde eles vivem, há as aulas práticas, na rua, onde são ensinados os fundamentos mais importantes: como conduzir com segurança uma bike, ler corretamente os sinais do trânsito, ter uma condução defensiva e até o que fazer se algo dá errado. Para fixar o conteúdo há também uma série de joginhos, quiz e brincadeiras para se fazer em casa ou em classe que estão na internet, no site das prefeituras.
Vi que um grupo aprendia como conduzir na ciclovia e fora dela. Outro como se comportar com os pedestres e com os carros. Pensei que isso tudo afetava a atitude e habilidade deles não só como ciclistas mas também daqui a alguns anos como futuros motoristas.
O melhor é que esse programa não é uma ação pontual que vai e vem com as diferentes administrações. É algo que está incorporado ao papel do município.
Esses policiais em geral são da própria comunidade, e fazem sua ronda de bicicleta, o que ajuda ainda mais a aproximar a polícia das pessoas, como educadores e não punidores. Eles acreditam que educando desde cedo estão construindo uma base sólida para o futuro, com menos acidentes e mais cidadania. Faz sentido.
E fico pensando na simplicidade dessa ação, e na quantidade de acidentes com ciclistas no Brasil. São mais de 500 ciclistas mortos por ano, segundo estimativas da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia).
Claro, os acidentes são causados por vários fatores, de vias urbanas inadequadas e sem ciclovias, a motoristas irresponsáveis ou que não sabem conduzir com a presença de bicicletas dividindo o mesmo espaço. Mas há também a falta de habilidade ou conhecimento de ciclistas, que se arriscam e fazem manobras inadequadas colocando a sua própria vida em risco.
Será que um programa como esse, de custo tão baixo e tão simples de ser executado não nos ajudaria?
E reflito que há tantas outras coisas simples e efetivas que podem ser feitas. E que não dependem de muitos recursos, basta que haja uma agenda de cidadania, de proteção e respeito a vida humana.
Acho que esse é um bom exemplo a ser partilhado. Abaixo alguns links com jogos e brincadeiras, disponíveis nos sites das prefeituras: