Prós e contras do distanciamento social para a diversidade
Consultoria aborda desafios e empoderar pessoas no ambiente corporativo que não é mais 100% presencial
O que a pandemia trouxe (ou vem trazendo) sobre as relações humanas, de modo geral, e sobre a diversidade e inclusão, em particular? Quais são os desafios – os antigos e os novos – no ambiente corporativo, quando o assunto é diversidade e inclusão? O que ainda é tabu e como sair de um círculo vicioso de políticas e manuais que, mesmo com propósitos verdadeiros, não funcionam, na prática?
Estes são alguns questionamentos apresentados por Jorge Barros ao refletir sobre diversidade e inclusão no universo profissional. O executivo é um dos fundadores da Fator Diversidade, consultoria que une ciência e arte para o desenvolvimento de ambientes corporativos diversos e inclusivos.
Barros destaca que, entre os desdobramentos e consequências da pandemia, mesmo considerando o fim da quarentena para vários setores econômicos, organizações e profissionais, é preciso considerar que o distanciamento se manterá como uma realidade social por muito tempo e que será preciso, mais do que aceitar esta realidade, cuidar das pessoas e das relações da melhor forma dentro deste contexto imposto.
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“Quando a covid-19 foi anunciada pandemia pela OMS ([Organização Mundial de Saúde] em março, talvez tenhamos imaginado 15 ou até 30 dias em quarentena. E que depois disso retornaríamos à vida ‘normal’. Hoje, já sabemos que nada será como antes”, diz.
Especialistas têm analisado os impactos que o distanciamento social deve causar em diversos setores econômicos, empresas e pessoas. Na esteira de novo cenário, aspectos como flexibilização em relação ao espaço do trabalho, com modelos híbridos que unem presencial e home office; repaginação de ambientes sociais como restaurantes; e o aumento da utilização da telemedicina no dia a dia são apenas alguns dos exemplos de mudança de comportamento esperados.
“O distanciamento social tem prós e contras para todos. Mas nós precisamos olhar com cuidado para a diversidade e inclusão”, reforça Jorge Barros, que elencou uma lista de três indicadores em cada lado da moeda.
Os prós do distanciamento social
Entre os impactos positivos apontados por Barros está a humanização do indivíduo. “Talvez, o principal veneno que o mercado de trabalho tenha criado contra a diversidade é a tentativa de eliminar as características pessoais de cada colaborador”, diz, referindo-se à uma máxima antiga, que recomendava aos funcionários deixar os problemas pessoais para o lado de fora da porta da empresa, não permitindo que as emoções influenciassem as decisões corporativas e sugerindo que, ao entrar no papel funcional (de funcionário), o colaborador deixasse de lado seu papel pessoal, de ser humano.
Exemplos da humanização citada por Barros estão sendo confirmados, nos dias atuais, quando se pode perceber a presença de filhos e pets passando ao fundo das calls. “As relações têm sido como deveriam ser desde sempre. Deveríamos saber que cada colaborador está integralmente conectado às suas questões emocionais e que não é saudável tentar silenciar ou fazer com que a pessoa não possa ser ela mesma no ambiente de trabalho”, diz.
As quebras de distâncias geográficas também são apontadas como pontos positivos pelo executivo porque trazem diversidade cultural. “Certamente, você deve conhecer pelo menos uma pessoa que, durante a quarentena, foi passar temporada em outra cidade sem que isso impedisse que ela mantivesse seus compromissos de trabalho. Percebemos que é possível mudar de cidade e continuar trabalhando na mesma empresa. Nos demos conta de que interagir com pessoas de outras cidades, países e culturas é mais fácil e barato do que imaginávamos”, conta
O terceiro dos prós sinalizados por Barros foi, segundo ele, um dos primeiros reflexos da pandemia. Trata-se do despertar solidário, o espontâneo desejo de contribuir para a sustentação um dos outros, com exemplos de pessoas e de empresas. “Consumidores passaram a priorizar, por exemplo, o comércio local, contribuindo com pequenas empresas de seus bairros, assim como grandes empresas demonstraram solidariedade financeira para sustentar sistemas ou contribuir diretamente no combate à pandemia”, reflete, complementando que “para além das preocupações financeiras, cuidados emocionais foram percebidos em diversos âmbitos”.
Os contras do distanciamento social
Entre os impactos negativos que o distanciamento social trouxe para a diversidade e inclusão, Jorge Barros destaca a convivência presencial com o mesmo tipo de gente. Se o formato até então tido como tradicional nos levava a conviver com os diferentes perfis de pessoas, em home office ou em distanciamento social, passamos a ficar sozinhos ou próximos das mesmas pessoas diariamente.
Os algoritmos que nos aprisionam na bolha também são citados como um dos impactos negativos. “O ser humano já tem a predisposição a se aproximar apenas daquilo que lhe é semelhante, tendência que se acentua ainda mais com a ajuda dos algoritmos aos quais somos digitalmente submetidos e isso pode prejudicar nossa capacidade de empatia”, diz.
Para finalizar, Barros fala sobre os impactos físicos e emocionais a grupos vulneráveis. “O distanciamento social, sobretudo o isolamento, impacta a todos emocionalmente, mas, principalmente grupos vulneráveis”, diz, exemplificando com a correção o home office u o aumento do índice de violência doméstica em mulheres. Menciona também que pessoas com deficiência costumam depender do tato com maior frequência – cadeirantes e cegos se utilizam das mãos para se locomoverem e o distanciamento físico dificulta ou coloca em risco a aproximação física de pessoas e objetos.
Se você é empresário, gestor ou líder de empresas, pode propor algumas medidas que, por mais simples que pareçam, contribuem para que o fator diversidade não seja prejudicado em sua empresa ou equipe. Sobretudo, emocionalmente, é importante dedicar um tempo para dialogar e saber como está cada integrante da equipe a partir de uma escuta genuinamente interessada.