Sem-teto monta sebo na calçada com livros encontrados no lixo
Ação é considerada exemplar pelo movimento Sou Responsável, campanha sem partidos, candidatos ou ideologia apoiada pelo Catraca Livre e pelo Instituto SEB de Educação
Odilon Tavares, de 55 anos, acorda todos os dias às 4h para recolher itens recicláveis na zona sul de Belo Horizonte. Embora os principais materiais recolhidos sejam plástico e alumínio, ele tem encontrado muitos livros pelas ruas. Foi então que teve a ideia de montar uma espécie de sebo em uma das calçadas de uma área nobre da capital mineira.
Após vender os recicláveis coletados, ele vai para uma confluência dos bairros Savassi, Carmo e Cruzeiro e aguarda por eventuais clientes, de acordo com informações do UOL. Trabalha ali diariamente, da hora do almoço até anoitecer. Ao fim do expediente, dá alguns passos e já está em sua “casa”, que fica sob uma marquise de comércio.
Essa história faz parte da série para o movimento Sou Responsável, cuja meta é estimular o protagonismo dos brasileiros. Nesta eleição, o Catraca Livre e o Instituto SEB de Educação decidiram apoiar essa campanha para ajudar o brasileiro a ser parte das soluções, e não do problema.
“Não é difícil encontrar livros no lixo. Encontro toda semana. Já peguei 50, cem livros, de uma vez só.” Tavares diz que vende cerca de cem obras por semana, o que gera a ele algo entre R$ 400 e R$ 500. Alguns sebos tradicionais têm comprado até 50 livros de uma só vez, mas ele prefere a venda individual, que, segundo ele, paga melhor.
Ele diz que vende a maioria dos exemplares por R$ 5, mas aumenta o valor se descobre que a obra vale mais. “Eu não sei o valor dos livros. Não conheço. Mas aqui na rua o pessoal conversa com a gente e conta. Vendi um livro do ‘Harry Potter’ [série da britânica J.K. Rowling] por R$ 20.” Hoje, ele conta com cerca de 800 volumes.
Passado
Essa atividade se intensificou há cinco meses, quando deixou a mulher e se tornou sem-teto. Natural de Carandaí (a 135 km de Belo Horizonte), Tavares migrou de cidade em cidade, atuando como servente de pedreiro ou com algum outro “bico” até meados de 2000, quando se casou. Teve duas filhas, que lhe deram quatro netos. Atualmente, vivem em outro Estado.
O vendedor parece ter superado a separação, decidida em outubro de 2017. Sua mulher estava “bebendo muito e fazendo besteira”, segundo ele. Estudou somente até a quarta série do ensino fundamental, mas diz ter se “acostumado” com a leitura. “Leio pela metade, mas vou lendo”, diz. “Os livros mudam a gente. Mudei muito a cabeça. Mudei muito minha maneira de pensar.”
E ele prova como mudou: já está querendo alugar um espaço. “Quero sair daqui. É muito difícil morar na rua”, afirma. “Se a fiscalização da prefeitura não mexer comigo, ‘nuns’ 30, 40 dias, consigo abrir o sebo lá.”
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