Tabela periódica para cegos chega à rede pública

Imagine-se em sala de aula, com os olhos fechados, e seu professor mostrando a tabela periódica: “Como vocês podem observar, esse grupo em verde é o grupo dos não metais; Aqui temos o fósforo, representado pela letra P…” Quem já esteve em uma aula de química com certeza visualizou a cena. Mas e se você nunca tivesse visto como os elementos químicos são sistematizados? Teria como saber qual é o grupo em verde? Identificaria a letra P? Certamente não. Mas é essa a realidade de alunos com deficiência visual.

A boa notícia é que por pouco tempo. Isso porque, após dois anos de pesquisas, seis estudantes de química e engenharia química da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), supervisionadas pelo professor Marcos Freitas de Moraes, acabam de finalizar o projeto “Tabela Periódica e Distribuição Eletrônica para Alunos com Deficiência Visual”, que resultou no desenvolvimento de um material didático-pedagógico em resina cristal contendo as informações básicas sobre a tabela e a distribuição na escrita Braille, antecipado pelo QI.

As peças foram moldadas da seguinte forma: a tabela foi confeccionada em grupos verticais, contendo os elementos dos grupos 1 ao 18, sendo eles os alcalinos, alcalinos terrosos, metais de transição, não metais e gases nobres. Além do número do grupo e do nome de cada elemento, as barras contêm números atômicos, símbolo e distribuição da camada de valência respectiva a cada elemento químico, na forma de duas réguas lineares. Tudo em Braille.

O trabalho para desenvolver cada peça seguiu um roteiro. Primeiro, as informações foram digitadas em papel Braille, utilizando a máquina Perkins. Depois, ele foi colado em placas de madeira para formar o molde em silicone. Para a peça final, as universitárias usaram a resina cristal, que possui rápida secagem, alta transparência, estabilidade na cor (mantendo-se cristalina por longo tempo) e dureza adequada, permitindo torneamento, lixamento e polimento.

A distribuição eletrônica de Linus Pauling foi escrita da seguinte forma: 1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6, 4s2… Assim, explica Moraes, “julgou-se necessária a confecção do material na forma de duas réguas, para facilitar o manuseio”. Atrás de cada peça em resina foi colada uma legenda contendo as mesmas informações que estão escritas em Braille. “Desse modo, o professor consegue acompanhar a leitura do aluno, sabendo exatamente qual elemento ele está analisando.”

As acadêmicas do projeto se envolveram no preparo de aulas com conteúdo para o ensino de química de duas alunas com deficiência visual. Ambas testaram os protótipos e auxiliaram na correção e na adequação das peças. No fim do ano letivo, foi aplicado um questionário para avaliar o aprendizado delas, com bons resultados. “Quanto mais você tiver uma coisa concreta para você pegar e sentir, o aprendizado se torna cada vez melhor”, avaliou Edina.

Em 2016, o projeto de Anna Caroline Rodmann, Bruna Rafaella dos Santos, Letícia Costa Curta, Ligiany Passos, Karolina Royer e Paula Nogueira, Bolsistas da Fundação Parque Tecnológico Itaipu, será estendido a todos os alunos com deficiência visual da rede pública de Toledo (PR), agora com reforço das universitárias Anna Flávia de Almeida, Isabela Kuhn Balestrin e Janice Caroline Hardt.

Por QSocial