Trompista Tayanne Sepulveda é exemplo de aprendizado constante

Tayanne Sepulveda, de 26 anos, aprendeu a tocar trompa no Instituto Baccarelli. Integra a Orquestra do Theatro São Pedro e frequentou a Academia da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). No ano passado, também obteve o primeiro lugar em um teste da Orquestra Experimental de Repertório. Agora, ela foi aprovada em um mestrado na Alemanha e está fazendo uma “vaquinha virtual” para viajar.

Em 2006, Tayanne estava para fazer 14 anos quando sua mãe sofreu um grave acidente. “Meu pai trabalhava à noite”, ela conta. “E eu, como era a irmã, mais velha, tinha que cuidar da casa, dos meus irmãos. Eu não sabia qual era a gravidade do estado da minha mãe, meu pai protegia a gente e não contava. Mas todo mundo chegava em casa e começava a chorar, era muito triste, então sabia que tinha acontecido algo.”

Tayanne nasceu em São Caetano, mas cresceu em Heliópolis. Tinha um “contato informal” com a música na igreja, mas nunca havia de fato se interessado. Quando uma tia sugeriu à mãe que a inscrevesse no Instituto Baccarelli, não gostou da ideia. “Eu preferia ficar em casa ajudando.” Mas a família insistiu e ela foi. Gostou do violoncelo, mas não passou na prova. Tentou de novo. Mostraram a ela a trompa. “Fiz o teste, passei e comecei gradualmente a gostar do instrumento.”

A tragédia familiar poderia ter afastado Tayanne da música. Mas aconteceu o contrário. “Acabou que foi essa a época em que mais me apeguei ao instituto e à música. Comecei a estudar ainda mais. Com 15 anos, comprei um instrumento e em 2009 passei a tocar na orquestra.” Não era uma rotina fácil. Estagiária na Sinfônica Heliópolis, ainda integrava o grupo juvenil e, à noite, fazia o ensino médio. Ainda assim, entrou na faculdade e, em 2011, foi efetivada na sinfônica.

Dois anos depois, enfrentou um desafio que considera especialmente marcante: a “Sinfonia nº 3”, de Mahler, na Sala São Paulo, com Isaac Karabtchevsky na regência. “Ser a primeira trompa nessa peça foi especial, mas o naipe todo trabalhou demais para fazer um concerto bonito”, ela conta. E ainda se surpreende: “Hoje eu penso: nossa, como eu toquei aquilo? As pessoas achavam bom? Parece que quanto mais você sabe e mais você aprende, mais precisa saber.”

O desejo de melhor sempre é louvável, mas, no meio musical, Tayanne tem o que os críticos gostam de definir como “som especial”. Digo isso a ela, que não parece muito acreditar. Mas, de qualquer forma, não se trata de opinião. Basta ver sua trajetória. Em 2015, tocou em um concerto conjunto com a Osesp, no qual foi interpretado o “Gurrelieder”, de Schoenberg. O desempenho levou a um convite para ingressar na orquestra.

Ela tem vontade de sair do Brasil. Afinal, descobrir o mundo é um sonho que sempre teve. “Mas o meu coração ainda está aqui no instituto. Aqui é a minha casa.”

Com João Luiz Sampaio