Viagens de experiência revelam o empoderamento feminino

16/11/2016 00:00 / Atualizado em 07/05/2020 04:26

Foi desenvolvendo um projeto de geração de renda com comércio justo de artesanato na região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, que as empreendedoras sociais Marianne Costa e Mariana Madureira, então sócias na Raízes, perceberam que havia mais valor na história das pessoas por trás daqueles produtos do que na aparência deles.

E veio o questionamento. “Por que, em vez de levar o artesanato até os grandes centros, não levamos essas pessoas até os artesãos?”, lembra Marianne, explicando a origem do roteiro “Do Barro à Arte”, que a acompanha desde 2012 e passa a ser um dos carros-chefes da Vivejar, negócio social recém-lançado que oferece viagens de experiência em comunidades tradicionais do Brasil.

No início, ainda na Raízes, o principal objetivo era gerar renda para as mulheres da região. Mas, ao longo dos últimos cinco anos e dos nove grupos que a dupla levou para o Vale, Marianne notou o impacto também nos turistas. “Começamos a colher depoimentos, inclusive gravá-los, e foi aí que percebemos o quanto aquilo mexia com eles, despertava a reflexão, a mudança, a transformação positiva!”

Hoje, ela se questiona se realmente o impacto maior é nas comunidades ou nos turistas. “Essa troca é mágica, maravilhosa”, afirma. E cita alguns depoimentos, como o de Vivian da Cunha, de Brotas (SP), que relata ter sido uma experiência forte ver a abundância tomando lugar da seca: “Não esperava tanta beleza, generosidade, ‘alegriagem’, silêncio, solidariedade e visão do coletivo, tudo que falta na maioria das cidades ditas ‘desenvolvidas’”.

Nas comunidades, afirma Marianne, o dinheiro que chega com o turismo, por não ser certo e frequente, é usado para realizar sonhos, como a reforma da casa, a compra de um eletrodoméstico ou até mesmo um meio de transporte, como uma moto. Mas, além de reconectar valores e aproximar realidades, “a troca de experiências e o aumento da autoestima contribuem diretamente para o empoderamento dessas mulheres”.

Para Marianne, diferentemente de outras operadoras que oferecem viagens de experiência, na Vivejar a comunidade é a protagonista. Ela é ativa não só durante o roteiro – na vivência com os viajantes, na hospedagem, no preparo da alimentação e em outros serviços – como na estruturação, na precificação e na tomada de decisões. “Participa de tudo mesmo”, diz.

Com uma empresa do Sistema B, a Vivejar também nasce publicamente comprometida não só com  gerar impacto positivo, como também de mensurá-lo e divulgá-lo. No Vale, exemplifica, foram gerados R$ 76 mil a nove famílias e 160 artesãos pelos 96 turistas que visitaram a região em nove grupos, num total de 1.500 pessoas indiretamente beneficiadas.

Em janeiro, a Vivejar embarca seus próximos grupos, em roteiros temáticos que usam sempre um fio condutor para tangibilizar a experiência – como a cerâmica, a gastronomia, a inovação social, a cultura negra.

Em Belém e Cotijuba (PA), o turista vai ser conduzido pelos “Segredos e Sabores da Amazônia”. Na capital dos sentidos, de 14 a 20, uma especialista na culinária paraense acompanha o grupo e conduz oficinas de preparação de um almoço e de um luau, anfitriado pelo Movimento de Mulheres das Ilhas. O roteiro custa R$ 3.990,00.

No Jequitinhonha, de 22 a 27, no “Do Barro à Arte”, o turista vivencia a comunidade através do processo da cerâmica. Conhece o lugar de onde se retira o barro, faz as oficinas de modelagem e pintura e finaliza a viagem com a cerimônia da queima de sua peça, levada para casa. O roteiro sai por R$ 3.860,00.

Em ambos, “a experiência com as mulheres fortes é o que fica de mais impactante”, adianta Marianne. “Elas têm muita história para contar.”

Por QSocial