10 destaques da Transiberiana, a mais longa viagem de trem do mundo
Todas as viagens são diferentes, mas algumas são mais diferentes do que outras. Como percorrer a maior ferrovia do mundo, a Transiberiana, em trens que cruzam a Rússia ao longo de, aproximadamente, 9.300 km e, pelo menos, 6 dias, ou mais, se você fizer paradas pelo caminho (o que vale muito a pena).
A rota clássica passa pela lendária região da Sibéria, e é possível se estender pela Mongólia e pela China. O escritor de guias de viagem Zizo Asnis – que irá palestrar sobre essa aventura hoje, segunda, dia 16 de maio, às 19h, na Livraria Cultura da Paulista, em São Paulo – encarou a jornada e revela os grandes destaques da aventura.
1 – Moscou
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O ponto de partida, considerando que você viajará rumo ao leste – é a capital russa. Você poderia ficar dias em Moscou. Para começar, o poderoso Kremlin, a espaçosa Praça Vermelha, a colorida Catedral de São Basílio, o surreal Mausoléu de Lenin (o corpo do grande líder está embalsamado aqui, para que você possa reverenciá-lo).
Na sequência, vários bons museus (destaque ao de História Contemporânea Russa e o da Guerra Patriótica), galerias de arte (como a Estatal Tretyakov), monastérios (das Donzelas, declarado Patrimônio da Unesco), parques (Gorky, um dos mais populares), centros de exibição (o das Conquistas Econômicas Soviéticas é insuperável), monumentos (não perca o das Conquistas Espaciais), shoppings (mesmo que você não curta, vá espiar o GUM), estações de metrô (circule pela linha 5). Sim, você poderia ficar dias, semanas… mas é preciso pegar o trem!
- Gulag – Perm 36
A Sibéria foi, ao longo de boa parte do século passado, utilizada como celeiro carcerário. Criminosos comuns, ladrões de galinha e, principalmente, oposicionistas do governo soviético eram enviados para campos de trabalho forçado, locais conhecidos como GULAG. Embora colônias prisionais na Sibéria já existissem no período czarista, foi a partir da Revolução de 1917 que o sistema foi oficializado – e radicalizado.
Os gulags tiveram seu apogeu no governo de Stalin, quando os encarcerados eram formados em sua maioria por presos políticos. Após a morte do ditador, em 1953, tais prisões foram amenizadas e reduzidas, desaparecendo no governo de Gorbachev.
Perm 36, próxima a cidade de mesmo nome, é a última restante, uma parada que todos viajantes da Transiberiana deveriam fazer (mas poucos fazem, em geral por desconhecimento). Para chegar até lá, a partir de Perm, o ideal é contatar uma agência, que organizará o transporte até o local (é um pouco distante, no meio do nada) e na tradução do guia, e a mais recomendada é a Evrasia.
- Interação com os russos
Muita gente diz que o russo é grosso, pouco simpático e o diabo a quatro. E na verdade mal conhecem os russos, e sim, quando muito, os moscovitas. (Mas também não acho que o povo de Moscou seja nada disso.) Nenhuma imersão pode ser melhor para encontrar, conhecer e conversar com os russos do que o trem – inclusive com as (os) provodnitsas, as senhoras (às vezes são homens) que tomam conta dos vagões.
Você nao fala russo? Sem problema, os russos também não falam português. Muito provavelmente, nem inglês. E ainda assim, acredite, você conseguirá se comunicar com eles, e será muito divertido. Russos costumam ter ótimo humor (meio debochado) e ser generosos, especialmente para dividir alguns goles de vodca, cerveja ou conhaque que, invariavelmente, algum estará tomando. Aproveite!
- Ócio criativo (ou sem criatividade mesmo)
Contemplar, comer, dormir, ler, escrever, conversar, fotografar, pensar… E depois contemplar, comer, dormir, ler, escrever, conversar, fotografar e pensar mais um pouco. Quantas vezes você pode se dedicar com afinco ao nadismo, sem peso na consciência, sem ninguém pra lhe incomodar!? Um trem na Sibéria é o lugar!
- Monumentos de Lênin
Se muitas cidades brasileiras têm o seu Cristo (sim, cariocas, não é só aí, não), na Rússia quem sobe no pedestal é Lênin. E um dos bons programas que você pode fazer ao parar nas cidades ao longo da Ferrovia – porque realmente vale fazer algumas paradas – é dar uma volta até a praça principal (ou outra relevante) e dar um alô para o camarada Lênin. Interessante ver o grande líder, sempre numa pose inspiradora, grandiosa ou revolucionária, frequentemente com o casaco aberto pelo vento, quase como uma capa de super herói.
- Irkutsk e o Lago Baikal
A cidade mais bonita da Transiberiana é, inquestionavelmente, Irkutsk, dotada de muitas casas antigas, de madeira, originais do século 19, e outras de influência europeia, com traços art-noveau. Não à toa, foi apelidada de “Paris do Leste”. Ainda hoje este agradável centro urbano de 600 mil habitantes mantém-se como um importante núcleo artístico e cultural. Tudo começou com os inúmeros intelectuais, nobre e artistas, oposicionistas de Stalin, que foram exilados para esse canto da Sibéria, ajudando assim no desenvolvimento da região e da cidade. Um lado positivo, se é que se pode afirmar isso, da tirania soviética.
Nas proximidades de Irkutsk, junto ao vilarejo de Listvyanka, encontra-se uma das principais atrações não apenas da Transiberiana como de toda Rússia: o Lago Baikal, o mais profundo lago do mundo, que chega a atingir 1.640 metros de profundidade. Propício a atividades náuticas no verão, e dog sledding (trenós puxados por cães) no inverno e caminhadas no ano todo, o local também oferece impressionantes paisagens, especialmente no pôr do sol.
- Frio
De junho a agosto você escapa, mas no restante do ano, prepare os blusões, as meias quentes e o cachecol. Se for de novembro a março, especialmente janeiro e fevereiro, aí você terá a honra de conhecer o genuíno inverno siberiano, e poderá se orgulhar de ter sobrevivido a ele. Pode ter certeza, você sobreviverá.
Será uma rara experiência de vivenciar um rigoroso inverno, o que pode ser muito interessante, acredite. Rússia com neve tem muito mais cara de Rússia, e normalmente é um frio seco, tolerável. Mas você só saberá disso nos momentos em que estiver na rua pois dentro do trem há uma aconchegante calefação, tudo bem quentinho.
Ainda assim quer evitar um inverno tão intenso? Ok, mas fuja também do verão, não apenas porque Sibéria no calor não tem a menor graça, mas porque está é a alta temporada, quando os trens estão sempre lotados e pedem reservas com antecedência. Planeje-se então para os meses da meia estação, como maio, setembro, outubro, onde você pega um friozinho sem radicalismos.
- Conhecer viajantes
Interagir com os russos é ótimo mas encontrar no trem outros viajantes como você é sempre divertido. Quase como um código entre mochileiros, as rotas que partem da capital russa, cujos trens são denominados “Moscow”, são as mais comuns para conhecer forasteiros. E aí vale aquela troca amiga – quem está indo para onde, por onde esteve antes, o que mais curtiu, qual a roubada da viagem.
- Mongólia
A Transmongoliana é uma rota que passa pela Mongólia, e este país pode ser uma das grandes surpresas da viagem. Mas aí é preciso ir além da capital, Ulan Bator (que possui interessantes monastérios) e visitar o belíssimo Parque Nacional Gorkhi-Terelj, a monumental estátua de Genghis Kahn e o mais distante e excepcional Deserto de Gobi. A experiência de dormir num ger, as típicas tendas mongóis, também vale muito a pena. Para organizar a viagem, os irmãos da Zaya’s Guest House (zayahostel.com) dão uma baita ajuda.
- China
Se a viagem não terminar em Vladivostok (alguém aí jogou WAR?), no extremo leste da Rússia, Pequim (via Transmanchuriana ou Transmongoliana) provavelmente será seu destino final. Chance espetacular para explorar essa cultura milenar, visitar a Cidade Proíbida, a Praça Tiananmen (a Praça da Paz Celestial), o Templo do Paraíso, o Palácio de Verão – isso para ficarmos apenas em atrações da capital. E é claro, conhecer nas proximidades a mais grandiosa das atrações, a Grande Muralha da China.
Zizo Asnis é editor do site oviajante.com e autor dos Guias O Viajante, como a trilogia do Europa 50 países, que inclui o volume Europa Oriental, com informações sobre a Rússia e a Transiberiana. Mais informações sobre a Ferrovia, em Zizo na Transiberiana.