Mostra da mexicana Graciela Iturbide

Exposição retrospectiva da fotógrafa Graciela Iturbide (México, 1942), com cerca de 80 imagens realizadas entre os anos 1960 até os dias de hoje em diversos países como México, Estados Unidos, Espanha, Índia e Itália. São imagens que retratam a fragilidade das tradições ancestrais e sua difícil subsistência; a interação entre natureza e cultura; a importância do rito no gesto cotidiano e a dimensão simbólica de paisagens e objetos encontrados a esmo ocupam um lugar central em sua trajetória.

A mostra é dividida em temas como vemos a seguir:

Seris: os que vivem na areia
Com este projeto sobre os índios Seris do deserto de Sonora, realizado em 1979, Graciela Iturbide provoca uma reflexão que ultrapassa as circunstâncias específicas dessa comunidade: a cisão produzida ao viver entre dois sistemas de referências culturais quase antagônicos.

Juchitán
A visão de Graciela Iturbide sobre as culturas autóctones do México marca sua iniciação ao mundo da fotografia. Realizado ente 1978 e 1986, Juchitán de las Mujeres (Juchitán das Mulheres) é, sem dúvida, o trabalho mais marcante em sua carreira e a consagra em nível internacional. Juchitán (Istmo de Tehuantepec, Oaxaca) é o ícone da cultura zapoteca e o símbolo de resistência indígena, porém, é também um mundo cujas normas sociais, naquele período, revelam-se atípicas quando comparadas com as do resto do México. Neste projeto, Iturbide apropria-se de sua experiência com as pessoas de Juchitán, especialmente com as mulheres, pois são elas que administram o mercado, sem acesso para os homens, exceto os muxés, homossexuais travestidos que estão integrados na comunidade. Longe de oferecer uma visão idealizada ou pitoresca do indígena, recorre ao senso de humor e à ambivalência do recurso fotográfico para penetrar na complexidade de uma ordem sociocultural diferente por meio de retratos cheios de cumplicidade.

México: rituais de festa e morte
A partir do final da década de 1960 até a década de 1980, os retratos predominam na obra de Iturbide, frutos de encontros casuais durante seus passeios pelos mercados da Cidade do México e das numerosas viagens que realiza a pequenos povoados rurais. É característico desse período seu interesse pela atmosfera teatral que impregna as festas populares mexicanas. São celebrações que mesclam rituais católicos e tradições indígenas em uma grande parafernália carnavalesca. Em Jano é visível esse interesse, e chama a atenção como Iturbide se distancia das cenas de ação para enquadrar as pessoas individualmente, eliminando qualquer detalhe que poderia resultar pitoresco ou sensacionalista. Dessa forma, concentra toda nossa atenção nas personagens e transmite a dimensão trágica que revelam as máscaras ou as fantasias. Essa intensidade aflora também em imagens como Novia Muerte (Noiva Morte), onde não apenas põe em evidência a ironia com a qual o imaginário mexicano representa a morte, mas acentua o caráter surrealista destes ritos sociais.

Paisagens e Objetos
A partir do final dos anos de 1990, Graciela Iturbide demonstra uma clara predileção pela paisagem e por objetos reunidos ao acaso. A figura humana, tão freqüente em sua obra anterior, foi desaparecendo paulatinamente de sua visão, agora muito mais contemplativa e ensimesmada. Uma mão de pedra descansa entre as árvores; a cauda de um pavão real se confunde com o solo, uma avenida de espessos ciprestes parece conduzir-nos a um labirinto… Inclusive aqueles lugares como Chalma – uma das imagens mais representativas da nova direção que seu trabalho assume– onde um dia fotografou cenas carnavalescas, são, agora, um silencioso jardim de ferro e nuvens.

En el nombre del Padre
Realizado em 1992, este projeto mostra a visão sobre o sacrifício de centenas de cabras, celebrado anualmente nas mixtecas de Oaxaca desde os tempos da conquista espanhola. Partindo da premissa de que o sacrifício não é senão a repetição de um mito cosmogônico, uma encenação do ato primordial da criação do mundo, En el nombre del Padre (Em nome do Pai) não é uma reportagem sobre os costumes locais, mas sim um verdadeiro tour de force visual sobre a morte, o sangue e a espiritualidade. A partir da documentação do acontecimento, Iturbide mergulha na pesada carga histórica subjacente à violência desses sacrifícios, evocando também ressonâncias bíblicas, como revela o título deste trabalho.

El baño de Frida
Em 2006, Iturbide recebe a função de fotografar um dos banheiros da casa-museu de Frida Kahlo (1907-1954), que havia permanecido trancado desde sua morte, em 1954, por desejo expresso de seu marido, Diego Rivera. A direção do museu decidiu não averiguar o que havia em seu interior até 2004 e, antes de começar a classificar e catalogar seu conteúdo, convida Iturbide para fotografá-lo.

Ninguém sabe, ao certo, as razões que levaram Rivera a decidir pela clausura do banheiro. Talvez fora simplesmente a necessidade de preservar um lugar íntimo da artista, como atestam os objetos pessoas ali encontrados: espartilhos, a perna ortopédica de Frida e algumas muletas, cartazes políticos de Lênin e Stalin, medicamentos e outros objetos desgastados pelo tempo, que Graciela Iturbide fotografa como relíquias incorruptas de um santuário profanado. Consciente da devoção que desperta este ícone da cultura mexicana, Iturbide se aproxima dos objetos e equipamentos de Frida Kahlo reinterpretando-os a partir de seu próprio espaço poético.