Atacama ou Patagônia? A bola da vez agora é a Terra do Fogo
De todas as regiões chilenas, uma das mais esquecidas e especiais por sua natureza é a Ilha da Terra do Fogo. Não é o fim do mundo como carimba a propaganda, ao contrário, é seu começo, pois ali tudo é puro: água, ar, terra e o que dela emerge.
A Terra do Fogo, extremo sul do Chile, é uma reserva mundial, quase intocada, de beleza e de culturas. Nessa geografia apocalíptica moldada pelo vento, se revela uma das mais singulares paisagens do planeta. Pradarias que dão lugar a bosques de carvalhos, cores inusitadas do entardecer na baia Inútil, além das lagunas glaciais alimentadas pelo degelo da Cordilheira Darwin. E mais, ao nos aproximarmos do lago Fagnano, o solo ao lado da estrada é recoberto pela turfa –vegetação tão fofa que parece esponja– explodindo em cores suntuosas que mesclam laranjas e malvas, verdes e escarlates.
A bordo de uma balsa atravessamos o mítico estreito de Magalhães a partir de Punta Arenas, com destino a Porvenir. Seus habitantes gostam de podar todas as árvores em formato de sinos ou, melhor ainda na forma de gigantescos dantops.
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Em direção ao lago Fagnano, passa-se por pequenos povoados e estâncias em estilo anglo-escocês. Muitos delas não sofreram mudanças significativas ao longo do último século, apenas ganharam uma bela pátina do tempo em suas paredes de lenga, madeira típica da região. Algumas foram adaptadas para receber e hospedar os visitantes, para que vivenciem o dia a dia da fazenda, como o trabalho da tosquia, cavalgar na imensidão do pampa e saborear assados de carne de ovelha à moda patagônica.
A Ilha da Terra do Fogo reserva atrativos particulares em cada época do ano. No outono, as montanhas e bosques se revestem com tonalidades de vermelho até o roxo intenso, laranja e amarelo. Já no inverno a neve esconde os campos sob um manto liso, e o vento dá trégua à natureza: uma espécie de indulto pelas baixas temperaturas. Um verde vistoso pincela os pampas no verão e na primavera. Em todas as épocas a tundra, espécie de vegetação que recobre rochas e campos alagados com musgos e liquens, mescla tons de verdes e vermelhos.
Um filme me marcou muito na década de 1980. O diretor Godfrey Reggio instituiu com “Koyaanisqtasi” um tipo de documentário em que a natureza era o objeto privilegiado. Nele, víamos as paisagens com olhar de pássaros, mas a força do filme residia na impossibilidade de nos aproximarmos dos cenários selvagens. Na ilha da Terra do Fogo isso é possível, e o registro visual é marcante e reforça o ambiente de aventura. Caso Terra do Fogo fosse um filme, seria um épico da natureza
Dicas da Viramundo e Mundovirado para quando você for:
– Vale ler o livro “Na Patagônia” de Bruce Chatwin, editora Cia das Letras;
– Se for época, navegar de caiaque, na baia Inútil;
– Participar de assado à moda patagônica, preparado por baqueanos. Comer no campo um pedaço de carne, cuja consistência evoca uma terra selvagem e quente, acompanhado de um chimarrão com erva-mate e, sobretudo tomar el viño de bota, faz parte de um importante ritual de hospitalidade;
– Andar a cavalo pelas pradarias;
– Participar das atividades em uma estância ovejera
Mais informações: www.patagonia-chile.com