Belém para ser contemplada e saboreada
No ano em que comemora 400 anos, Belém encharcada de brasilidade, entusiasma o viajante com seus mistérios, encantos, festas populares, arte, religiosidade, ingredientes únicos, e arquitetura que conta histórias dos tempos áureos da borracha. Não há sentido que passe incólume nesse mar de aromas, cores, sons e sabores.
“Quem vai a Belém do Pará/ Desde a hora em que sai/ Não se esquece de lá, quer voltar”, entoava o mestre Luiz Gonzaga que sabia das coisas. Anime-se para uma festa e venha conosco a Belém. Lá a festança nasce junto com o dia, quando o sol e os barcos tocam a neblina sobre as águas ambarinas do rio Guajará. Rio que encosta no Mercado Ver-o-Peso, coração e palco desta festa. Vamos agorinha mesmo e juntos poderemos esperar a chegada dos coloridos barcos com porões grávidos de frutas e de peixes. Assim que atracam no ancoradouro do mercado, começa o bailado vaivém dos carregadores transportando cestos de frutas, peixes e braçadas de folhas de maniva (mandioca). Depois me diga se já viu coisa igual no mundo. Impossível!
O Mercado Ver-o-Peso é tão importante para os belenenses quanto a Torre Eiffel é para os franceses. Sua estrutura de ferro foi trazida da Inglaterra no século 19. Os exóticos aromas das frutas regionais impregnam o ar. O umari, fruto que só cresce no Pará, a pupunha, encontrada nas cores vermelho, verde e laranja, o piquiá, fruto carnudo de polpa amarelada com sabor e cheiro inconfundível, e a cutite cutitiribá, com sua polpa cor de gema cozida.
Ah, pensa que é só: queremos que você repare também nas cores, formatos e perfumes das pimentas. Tem a murici, a murupi, a olho-de-peixe e a boa pimenta-de-cheiro. No espaço destinado aos peixes de rio e mar, a fartura assombra: tambaqui, tucunaré, pirarucu, tamatá, a maioria com seus nomes indígenas e jeitão jurássico.
Quem é bamba na cozinha, como o chef Alex Atala, que viajou mundo, não conhece comida melhor que a de Belém: “Seus sabores são únicos e há tamanha diversidade que nem quem é de lá provou de tudo”, ele avalia.
Agora me diga: qual a culinária brasileira que foi registrada como Patrimônio da Unesco como gastronomia criativa? Bola dentro para quem falou Pará.
Outra atração à parte do Ver-o-Peso é a ala das “bruxas de Belém”, como carinhosamente são chamadas as vendedoras de todo tipo de soluções para as mazelas do corpo e da alma. São 1600 tipos de ervas, como a amarapuama, a priprioca e o cuxui. Essências do pau-rosa, este um óleo usado na composição do Chanel 5, patchuli, considerado o cheiro do Pará, sândalo, além de ingredientes especiais para remédios e mandingas, são vendidos em garrafas, frasquinhos coloridos ou na forma de ungüentos.
O Ver-o-Peso é tão importante na vida do belenense que só fecha num único dia ao ano – o dia de honrar a Rainha do Pará, a Virgem de Nazaré. Ela faz parte da vida diária do povo e é tão familiar que até ganhou apelidos carinhosos: Nazarezinha, Naza e Nazinha.
E aqui começa outra história. Em Belém, se encontra uma das maiores reservas de fé do planeta. Ali, no segundo domingo de outubro, dois milhões de fiéis homenageiam Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Pará. Depois da procissão – uma das mais tocantes manifestações brasileiras – as famílias paraenses se congraçam ao redor da mesa farta. Não pode faltar o tradicional Pato-no-Tucupi, as farinhas, as perfumadas frutas amazônicas, A parte mais esperada são as sobremesas: creme de cupuaçu, o doce de graviola, o manjar de bacuri e tapiocas molhadas com leite de coco fresco.
Agora queremos que você veja onde a cidade começou. Foi no Forte do Presépio, construído em 1616 pelos portugueses. A partir do século 19 a cidade foi sendo mais embelezada com casarões, praças, bulevares e igrejas graças à riqueza proporcionada pela exploração da borracha. O forte abriga hoje em uma de suas dependências um museu com a arte da cerâmica dos índios marajoaras. Ao lado dessa fortificação a igreja de Santo Alexandre mantém o Museu de Arte Sacra, considerado um dos mais importantes do Brasil. De frente ao forte, a Casa das Onze Janelas construída por rico comerciante do século 17 é hoje Museu de Arte Contemporânea que também abriga salas dedicadas aos criativos fotógrafos paraenses. Todo esse conjunto e entorno formam o Núcleo Cultural Feliz Lusitânia em homenagem ao primeiro povoado, que daria origem a Belém.
Ah Belém! Preste atenção no modo como se fala por lá, espichando o “emm”, como o toque de um sino, dando peso e sonoridade ao nome. Belém, abre nossos olhos, toca nossos sentidos.
E para fechar o dia te levamos para Estação das Docas. Os galpões construídos no final do século 19, foram restauradas no ano 2000 e ganharam funções modernas: centro cultural, espaços para lojas de artesanato de qualidade, cervejaria, restaurantes, cafés, sorveteria, e áreas de lazer. O entardecer chega às novas docas com um convite divino – assistir ao mais belo pôr-do-sol da cidade acariciados pela brisa do Guajará.
“Haverá coisa melhor no mundo do que sentar sob as mangueiras, sem pressa, sem mais nada, ‘chupitando’ um sorvete de cupuaçu”, como recomendou Mário de Andrade? O poeta escreve em carte ao amigo Manoel Bandeira “ … é inconcebível o amor que Belém despertou em mim”.
São muitas as Beléns, a barroca, a da belle époque, a com um quê indígena e a de ares europeus. Até mesmo para os brasileiros, soa tão exótica que quase precisa de tradução.
Onde ficar: Hotel Crowne Plaza, localização perfeita em Belém, quase ao lado do Teatro da Paz. Tel.: (91)3202-2000
Quem leva: Azul Linhas Aéreas Brasileiras. Confira as melhores tarifas em voeazul.com.br
Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado