Bixiga honra Dionísio em três dias de encenação

O teatro Oficina comemora seu tombamento e a exibição de quatro peças ao ar livre, "As Dionisíacas"

Por: Catraca Livre

Vivendo o estado bruto de uma tragédia grega, o diretor teatral a frente da Companhia de Teatro Oficina, José Celso Martinez Côrrea, passa por dias de apreensão. Preocupado com a saúde de um membro de sua equipe, e sem acesso ao material audiovisual das encenações de “As Dionisíacas”, José Celso e Companhia estreiam a céu aberto no estacionamento do Grupo Silvio Santos nesta sexta-feira, 17.

Após brigas judiciais, Elaine Cesar, pessoa à frente de toda captação imagética das “Dionisíacas” encenadas em mais de sete capitais de todo o Brasil teve seu material todo confiscado pela Justiça, além da perda da guarda de seu filho de três anos.

Em uma de suas cartas – manifesto Zé Celso escreve que todo material apreendido foi pensado para funcionar como parte integrante durante apresentação das 4 peças que compõe “As Dionisíacas”. O material audiovisual funcionará no entorno do Teatro de Estádio montado no estacionamento do Grupo Silvio Santos.

Zé Celso atesta que no HD apreendido batizado pela Diretora de Vídeo do Oficina de “Ethernidade”, possui o material de 50 anos passados da Companhia e que foi apresentado na “Ocupação Zé Celso”, instalação multimídia criada pela Itaú Cultural.

“Se este material sofre uma avaria, se perde toda a memória desta importantíssima história do Teatro Brasileiro e Mundial, o que pode vir a se constituir num Crime”, coloca o dramaturgo.

Poderia ser considerado pai do trocadilho, se não fosse pelas inúmeras atribuições das quais, Zé Celso, já compõe em sua persona.

A peça que abre o “Dionisíacas” é uma meditação teatralizada. “Taniko, o Rito do Vale”, traz uma viagem iniciática. Estabelece a configuração da estrutura tradicional do teatro Nô, em que o foco da narrativa se encontra no protagonista, uma espécie de espírito errante.

O coadjuvante, geralmente assume a figura de um guia espiritual, é apenas o revelador da essência do protagonista. Um coro e instrumentos auxiliam na condução da trama, que é solucionada através da dança.

Uma viagem por dentro do Budismo, misturados ao ritmo da bossa nova, do candomblé misturados a Japão e João Gilberto.

No dia seguinte, 18 será exibida a peça “Cacilda!”, em que narra durante seis horas corridas a vida da atriz Cacilda Becker. “Cacilda Becker é o fio de Ariadne que traz para a cena a história do teatro, música e cinema de uma década de guerra, glamour e da criação do Teatro Brasileiro Moderno. Ao rever a primeira fase da atriz, entre 1940 e 1947, encontramos uma Cacilda que revela-se uma escritora extraordinária, uma filósofa precoce do Teatro”.

No domingo, 19, será exibida “Bancantes”. É a peça que inspirou a atual arquitetura do Oficina, dos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito. O teatro tem no seu conjunto uma fonte, um jardim, um teto-móvel que se abre para o céu de São Paulo e uma pista ladeada de arquibancadas. A peça é a chegada do Deus Dionísio, também Deus do Teatro.

Na segunda-feira, 20, último dia de exibição será apresentada “Banquete”. Texto conhecido da psicanálise e filosofia mundial e foi recriado pelo Oficina e traz a cena entidades míticas como Zeus, Hera, Eros, “Pênia Jesus” e Fidel Castro.

É a peça de encerramento das Dionisíacas 2010, a catarse em festa, mas principalmente a invenção de um jogo para lá do normal para que todos possam beber sabedoria na insânia.