Homenagem ao cineasta John Ford
Definido por Orson Welles como “o maior poeta que o cinema já nos deu”, John Ford é, inegavelmente, um dos cineastas mais importantes do cinema mundial. Considerado pela crítica especializada como o “Homero Americano”, Ford é, também, um grande historiador dos Estados Unidos, que retratou todas as eras fundamentais de 200 anos de mitologia nacional americana, desde a Guerra da Independência de “Ao Rufar Dos Tambores” até a disputa política televisiva de “O Último Hurrah”, retratando nas telas todo o caminho de uma nação.
Confira programação completa. Aqui.
Com curadoria de Leonardo Levis e Raphael Mesquita, a mostra John Ford contempla 37 filmes, sendo 36 longas e 1 curta-metragem. Todos eles serão exibidos em película (35mm ou 16mm) e levam a assinatura de Ford na direção, exceto “Directed by John Ford”, documentário dirigido por Peter Bogdanovich, que será exibido em DVD.
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Para os curadores, a mostra parte de uma vontade pessoal: a possibilidade de acompanhar, em película e no cinema, a obra de um dos mais lendários e importantes diretores de todos os tempos, mas cujos filmes raramente passam no Brasil. Serão exibidos filmes de todos os períodos e gêneros de Ford, mostrando que sua obra multifacetada possui ainda hoje enorme vigor e beleza, e que o cinema de Ford está acima de qualquer rótulo que hoje possa pairar sobre ele.
A mostra será uma oportunidade rara e única de conferir no cinema cópias novas e restauradas de grandes clássicos do cinema americano. Os filmes deFord que receberam novo tratamento e serão exibidos no CCBB são: “Rastros de Ódio”, “O Sol Brilha Na imensidão”, “Depois do Vendaval”, “Caravana de Bravos”, Paixão de Fortes”, Como Era Verde Meu Vale”, No Tempo das Diligências”, “O Furacão”, “O Delator”, O Cavalo de Ferro”, O Último Cartucho”, e “Bucking Broadway”.
Além destes, há ainda a Trilogia da Cavalaria (“Sangue de Herói”, “Legião Invencível” e Rio Grande”), protagonizada por John Wayne e que retrata os conflitos da cavalaria americana durante as guerras indígenas. A mostra reserva uma data especialmente para a exibição da trilogia em seqüência, numa proposta de sessão tripla. Destaque para “Sangue de Herói”, que traz o embate entre os personagens interpretados por Henry Fonda e John Wayne, os dois principais atores de Ford, que aparecem juntos aqui pela primeira e única vez.
Livro-catálogo
Durante a mostra será lançado um livro-catálogo, fruto de um grande trabalho de pesquisa, contendo fotos, filmografia completa, e, sobretudo, artigos clássicos já publicados nas mais diferentes épocas e nas mais importantes revistas e periódicos. Entre os mais de 15 textos incluídos, destaques para o texto do próprio Ford publicado em 1928 no New York Times, para a descrição dos encontros com Ford feita por Lindsay Anderson e para os artigos de Peter Bogdanovich e do influente crítico francês, Serge Daney. Para adquirir o livro catálogo, basta que o espectador acumule cinco entradas do cinema, e troque gratuitamente nas bilheterias do próprio CCBB.
Curso John Ford
O curso pretende aprofundar os principais temas da obra de John Ford, divididos em quatro módulos, cada um atendendo a um aspecto específico do cineasta. Serão revistas e analisadas as questões mais pertinentes ao cinema de Ford, como a construção da história americana (problematizando seus aspectos políticos), o western e a representação do herói, o passeio de Ford por diversos gêneros cinematográficos, a sedimentação da linguagem clássico-narrativa, a influência da origem irlandesa em seus filmes, a relação intrínseca do personagem e da paisagem, e o reconhecimento de Ford como “autor” no cinema de estúdio.
O curso será oferecido gratuitamente, com senhas distribuídas uma hora antes do início de cada aula. O aluno que freqüentar pelo menos 75% das aulas receberá um certificado de participação.
MÓDULO 1 – 23 e 24/09 | 14h às 17h
História e Cinema em John Ford | Eduardo Morettin
MÓDULO 2 – 30/09 e 01/10 | 14h às 17h
O rancho além fronteiras (1939), o exílio (1956) e o túmulo (1962): 3 momentos do herói sem lugar | Ismail Xavier
John Ford: Poeta e Comediante | Luiz Carlos Oliveira Jr.
MÓDULO 3 – 07 e 08/10 | 14h às 17h
A Irlanda de John Ford | Hernani Heffner
MÓDULO 4 – 14 e 15/10 | 14h às 17h
(Re)vendo Ford: autorismo e gênero em questão| João Luiz Vieira
John Ford
Ford nasceu em 1894 nos Estados Unidos, no estado do Maine, descendente de uma família de irlandeses, sob o nome de John Martin Feeney.
Em 1914, decidiu se mudar para Califórnia, seguindo os passos de seu irmão Francis Ford, que trabalhava na indústria do cinema dirigindo e atuando em diversos filmes. John Feeney – agora assinando sob o nome de Jack Ford – conseguiu pequenos trabalhos nos filmes de seu irmão, como contra-regra ou figurante. Rapidamente, seu trabalho ganhou importância (Ford já era eletricista-chefe ou até mesmo câmera), e quando foi chamado para dirigir seu primeiro curta-metragem, não dependia mais do irmão. A partir de então, Ford passou a ser dos mais prolíficos cineastas americanos, dirigindo cerca de 60 filmes, incluindo curtas e longas-metragens, entre 1917 e 1928.
Além disso, foi um dos primeiros a experimentar novos formatos de tela e a usar das mais modernas possibilidades de utilização da cor na época (como o Technicolor – que poderá ser visto em alguns dos filmes exibidos na mostra). Seus filmes, portanto, tinham sempre o intuito e a necessidade de chamar o espectador para a sala de cinema. Hoje, no Brasil, infelizmente não há cópias disponíveis dos filmes de John Ford.
Os aspectos técnicos de sua obra, no entanto, não se impunham sobre o mais importante dado de seus filmes: a análise profunda do ser humano, e os enredos nos quais ele se envolve. Ford não apenas radiografou a história de um país, como consolidou a história de uma arte: com filmes como “O Cavalo de Ferro”, “A Mocidade de Lincoln” e “No Tempo das Diligências”, suas obras ajudaram a definir o conceito de “cinema clássico-narrativo”, base da linguagem cinematográfica dominante.
Dentro desse conceito, Ford foi imortalizado como o maior cineasta de um dos principais gêneros americanos, o Western, que, não por acaso, é o gênero mais conectado à própria história dos Estados Unidos.
Seus filmes clássicos, como “Rastros de Ódio” e “O Homem que Matou o Facínora”, seus heróis solitários (nos quais se destaca a figura-irmã de JohnWayne), seus enquadramentos marcantes e sua forma inigualável de filmar o Monument Valley (sobre a qual Orson Welles declarou que, quem mais tentasse filmar lá, teria de ser processado por plágio), levaram Ford a ser reconhecido como o rei do gênero, ainda que ele tenha dirigido todos os tipos de filme, incluindo os dramas pelos quais ganhou os prêmios de Melhor Diretor.
Ford conseguiu, em sua carreira, a proeza de ser um autor de absoluto sucesso popular (filmes como “O Cavalo de Ferro” e “Como Era Verde Meu Vale” foram recordes de bilheteria), cujas obras até hoje mantem sua comunicação com o público, e de enorme respaldo da crítica e de seus pares (desde os Cahiers du Cinéma, que já dedicaram mais de uma edição especial ao cineasta, aos críticos americanos ligados ao cinema popular-comercial). Mas não só as já citadas publicações internacionais teciam loas ao cineasta, como também diretores tão diversos quanto Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, Quentin Tarantino, Jean-Luc Godard e mesmo Glauber Rocha (que tinha posições políticas opostas a de Ford) confessaram serem influenciados pelo estilo e pelo vigor do mestre.