Chile no verão: um passeio pela Reserva Nacional Malalcahuello

Em parceria com Viagem em Pauta
12/01/2017 13:12

A vida em Malalcahuello não tem pressa.

Árvores milenares que levam algumas dezenas de décadas para atingirem seu estado mais exibido; crateras vulcânicas que só se deixam ser vistas em trilhas exigentes; e geografia inóspita que só muda de cara na temporada seguinte.

Localizada na Región de la Araucanía, no sul do país, a Reserva Nacional Malalcahuello é o Chile que pouca gente conhece.

Subida ao vulcão Lonquimay, no sul do Chile
Subida ao vulcão Lonquimay, no sul do Chile

Porta de entrada para a Patagônia, mas com temperaturas mais decentes e melhores vias de acesso, o destino é conhecido pela temporada de esqui, que vai do final de junho a outubro, considerada a mais longa em todo o Chile.

Isolamento é a primeira sensação que se tem naquele cenário marcado por atividades glaciares e vulcânicas.

Subida ao Vulcão Lonquimay

Por onde se olhe, o Lonquimay se exibe do alto de seus 2.865 metros de altitude.

No inverno, suas ladeiras íngremes são riscadas pelos esquis de casais e famílias, ao longo das 29 pistas de diferentes níveis de dificuldade, localizadas no Corralco Resort de Montaña.

Mas é durante o verão chileno, quando as temperaturas se elevam e o Lonquimay se despe de sua cobertura nevada, que acontecem as exclusivas subidas até a sua cratera, uma atividade de mais de cinco horas de duração.

A trilha começa aos pés do vulcão, ao lado de uma das estações de embarque dos teleféricos de esqui.

As pernas do caminhante vão deslizando sem pressa pela cara nordeste do Lonquimay, um setor com terreno mais compacto e menos escorregadio, o ar começa a escassear e o corpo segue em zigue-zague, uma técnica que ajuda a economizar o consumo de ar.

Em certas partes, piolets em uma das mãos – uma espécie de picareta que serve como terceiro apoio – e grampões nos pés para mais segurança.

Vista do vulcão Lonquimay, no sul do Chile
Vista do vulcão Lonquimay, no sul do Chile

Nos trechos mais elevados, a vontade de desistir é insistente, sobretudo quando, a cada custoso passo para frente, aquele terreno vulcânico nos faz retroceder outros dois.

Esse vulcão se localiza em uma área mais baixa do cordão montanhoso dos Andes, explica meu guia enquanto eu tento retomar o fôlego, o que facilita a alta visibilidade.

No topo, uma cratera de mais de 800 metros de extensão recebe os poucos visitantes que conseguem chegar ali, considerada uma das maiores sobre vulcões austrais do Chile. Do alto, outras formações vulcânicas se exibem ao longe, como o Llaima, Villarrica, Lanín, Quetrupillán e Sierra Nevada.

São os Andes os seus pés, literalmente.

Cráter Navidad

Cráter Navidad, na Reserva Nacional Malalcahuello
Cráter Navidad, na Reserva Nacional Malalcahuello

Durante os séculos 19 e 20, o Lonquimay teve algumas erupções, mas o trabalho vulcânico mais conhecido é o que aconteceu em 25 de dezembro de 1988, quando entrou em atividade constante, ao longo dos trinta dias seguintes.

Devido a seu cume tapado, aquele forte trabalho vulcânico não encontrou espaço para liberar lavas e gases, dando origem a essa cratera. A atividade vulcânica do Lonquimay só estaria concluída, um ano depois, em janeiro de 1990.

Essa cratera satélite (ou cono parásito, em espanhol), quando a acumulação de material vulcânico fica fora da chaminé central de um vulcão, tem esse nome em referência à época natalina em que o Lonquimay entrou em erupção pela última vez.

Localizado na ladeira noroeste do vulcão, o atrativo pode ser visitado, em uma trilha de 6 km de extensão (ida e volta), em meio ao impressionante caminho de cinzas que se estende por um cordão vulcânico do Valle del Escorial até a fronteira com a Argentina.

E, para quem consegue finalizar a caminhada até o topo, um imenso buraco multicolorido se exibe às faldas do Lonquimay, em um curioso contraste entre os tons ocres da cratera e o branco do pico nevado do vulcão vizinho.

Mirante dos Vulcões

Mirador de los Volcanes, na Reserva Nacional Malalcahuello
Mirador de los Volcanes, na Reserva Nacional Malalcahuello

Para quem ver o Chile sem muito esforço, a reserva conta também com o Mirador de los Volcanes, um mirante de madeira suspenso sobre um corredor de lava vulcânica.

O local pode ser utilizado também para piqueniques com vistas para o Cráter Navidad e o vulcão Lonquimay.

De bicicleta

Desde 2011, a Ciclovia Manzanar – Malalcahuello segue sobre a antiga linha de trens que iam de Victoria a Lonquimay, considerada uma importante via de transporte da região.

De terreno (quase sempre) plano, essa rota tem 12 km de extensão e é considerada uma das ciclovias mais cênicas de todo o país.

Ciclovia Manzanar – Malalcahuello, no sul do Chile
Ciclovia Manzanar – Malalcahuello, no sul do Chile

Em duas horas de pedal, os ciclistas cruzam bosques de araucárias, antigos túneis férreos que margeiam o rio, uma colorida sequência de lupinus silvestres que se agitam com o vento, e vales que se abrem aos pés do Lonquimay (tem até uma ponte de madeira, estrategicamente, em frente ao vulcão).

Trilha cenográfica

Para quem não quer ir tão longe, a Fundo la Estrella é uma trilha que cruza araucárias e tem vista para o Lonquimay (olha eles aí, de novo), inclusive com parada na Araucaria Milenar, ao lado do Corralco Resort de Montaña.

Trilha Fundo la Estrella, na Reserva Nacional Malalcahuello, no sul do Chile
Trilha Fundo la Estrella, na Reserva Nacional Malalcahuello, no sul do Chile

A araucária é declarada Patrimônio Natural do Chile e pode chegar a 45 metros de altura, cujo tronco atinge impressionantes três metros de diâmetro e suas flores costumam aparecer, entre agosto e setembro.

Essa via estreita que corta bosques locais, no interior da Reserva Nacional Malalcahuello, tem 4 km (só ida), mas seu terreno com poucos desníveis faz dessa trilha uma das mais fáceis para quem não está preparado para deslocamentos mais longos, com paradas no discreto e cenográfico Salto la Estrella, pequena queda d’água alimentada pelo rio Colorado.

Laguna Pehuenco

Laguna Pehuenco
Laguna Pehuenco

O roteiro pode ser combinado com uma visita a essa lagoa de tons, extremamente, esverdeados e que se forma, anualmente, com o processo de degelo da região.

O local oferece poucos atrativos, mas o caminho até lá, entre árvores típicas patagônicas como lengas e coihües, inclui também uma caminhada sobre um antigo corredor de lava vulcânica que impressiona, em meio à vegetação verde.

Corralco Resort de Montaña

Malalcahuello exige, mas também recompensa. E para tudo o que se decida fazer por ali, tem sempre um hotel lhe esperando.

Cadeiras de madeira no deck externo; fogueira acesa em frente ao vulcão (mesmo, no verão, as temperaturas costumam cair, à noite); e pub minimalista, onde são preparados os piscos envelhecidos com pinhão de araucárias ou a encorpada cerveja Lonquimay, em versões Stout, American e English Pale Ale.

É tudo tão diferente do que se vê, que tem até uma piscina no pé de um vulcão (ou seria um vulcão na piscina ?), cujas bordas brancas acompanham os contornos do Lonquimay que desponta adiante.

Vulcão Lonquimay, visto da área externa do Corralco Resort de Montaña, no sul do Chile
Vulcão Lonquimay, visto da área externa do Corralco Resort de Montaña, no sul do Chile

Esse hotel com 54 apartamentos é uma espécie de extensão da geografia do lado de fora, com janelas voltadas para bosques de araucárias, instalações internas com madeira da região e móveis que seguem os tons da natureza local.

O Corralco Resort de Montaña é um empreendimento de 2013, com mais de 5.500 metros de área construída, e é considerado um dos poucos do gênero que permanece aberto, mesmo após o fim da temporada chilena de esqui.

Essas são algumas das atividades aventureiras oferecidas aos hóspedes desse hotel, considerado o único estabelecimento hoteleiro do gênero que fica dentro da Reserva Nacional Malalcahuello.

Corralco Resort de Montaña, no sul do Chile
Corralco Resort de Montaña, no sul do Chile

E nem precisa muito espírito aventureiro para aproveitar o cardápio de experiências para hóspedes dessa convidativa casa na montanha, com direito à fogueira e tudo, no pé do vulcão.

Um dos programas familiares é a caminhada curta até uma araucária oca de mais de 1.500 anos que cresce no bosque que cerca o hotel.

Autoguiada ou com saídas noturnas, em que os hóspedes vão acompanhados por guia e lanternas, a caminhada da Araucária Milenar tem 750 metros de extensão, trilhados em uma hora (ida e volta) e com baixo grau de dificuldade.

Já a gastronomia endêmica do restaurante do hotel, comandado pelo chef Jonathan Elitin, ora é servida a la carte ou no sistema buffet, ora é posta do lado de fora, onde o churrasco chileno é feito na brasa que arde aos pés do vulcão.

Churrasco na área externa do Corralco Resort de Montaña
Churrasco na área externa do Corralco Resort de Montaña

Modificado de acordo com a temporada e a disponibilidade de ingredientes locais, o cardápio fechado costuma oferecer três opções para cada tempo da refeição.

E ainda nem falamos da academia, da banheira de hidro e da piscina climatizada a 30°C. Tudo com janelões de vidro com vista para o vulcão.

Aliás o que não falta por ali é opção de vistas. Só na região do hotel estão localizados cinco vulcões, com possibilidade de observação, a partir de diferentes pontos do hotel.

E assim, em pleno verão, o Chile vai mostrando a sua versão sem pressa.

SAIBA MAIS

Corralco Resort de Montaña
www.corralco.com

Como chegar – Temuco, principal cidade de acesso à Reserva Nacional Malalcahuello, está a quase 700 km da capital Santiago e conta com voos diretos de Santiago, capital do Chile. A viagem dura 1h20, aproximadamente.

O trecho entre o aeroporto e a reserva, distantes 120 km, pode ser feito em carro alugado ou com os transfers que costumam ser comercializados pelos hotéis da região (US$ 100 por pessoa, aproximadamente).