Coletividade e poesia na Biblioteca Alceu Amoroso de Lima
Segunda edição do ciclo "Outras margens" traz troca de ideias e ideais sobre a produção poética
A cidade de São Paulo exala poesia de dentro de seus bairros, e desde sempre sensibiliza o coração de artistas que se instalam na metrópole.
Em lugares distintos da cidade, pessoas inquietas que necessitam aflorar seu eu lírico, se juntam para debater, trocar e principalmente, produzir poesia. Entre os contemporâneos, há alguns exemplos que se apropriam da palavra como poder de transformação, como o movimento Poesia Maloqueirista, Sarau do Binho, Sarau da Cooperifa, escritores de Literatura Marginal, entre outras iniciativas que disseminam literatura e poesia livremente.
Com ferramentas e contextos diferentes, estes grupos procuram presentear o cotidiano com poesia. “A poesia está presente em muitas coisas e as pessoas não são instigadas a perceber, muitas vezes, por falta de leitura. A oralidade por exemplo possui muito lirismo”, explica Caco Pontes, poeta do movimento Poesia Maloqueirista e um dos curadores da 2ª edição do ciclo “Outras Margens”, que ocorre nos dias 23, 24 e 30 de setembro na Biblioteca Alceu Amoroso de Lima, com entrada Catraca Livre.
Dos livros para as ruas, a poesia se transformou em uma ferramenta de comunicação direta em ambientes urbanos. Vertentes das artes visuais mesclaram fragmentos poéticos em seus trabalhos, e destoam o cinza da cidade para cores alegres e mensagens de absorção imediata, como o artista Ygor Marotta, que popularizou a frase “Mais amor por favor” aos quatro cantos de São Paulo. O ciclo outras margens também traz as novas facetas do lirismo urbano: “Teremos atrações performáticas que agucem o estímulo visual, hoje a poesia migrou dos livros e dialoga com o corpo em performances e instalações de video-arte”, explica Pontes.
Em depoimentos, o poeta Sérgio Vaz costuma enfatizar que a periferia vive a sua Primavera de Praga ou sua Bossa Nova, pela apropriação artística dos novos autores no cenário independente. O debate “(H)á Margem? – Os limites entre classe social e vitrine da produção criativa” reune Sérgio Vaz a outros pensadores e autores da poesia moderna, afim de trocar ideias sobre as transições históricas que marcaram o lirismo.
Além de debates, grupos que já desenvolvem interferências culturais há bastante tempo na cidade, como o Sarau do Binho, movimento Poesia Maloqueirista, Banda Na Sala do Sino (RJ), entre outros.
O evento é um poema aberto aos que desejam interagir e participar.
Confira a programação completa:
Dia 23
(H)á Margem? – Os limites entre classe social e vitrine da produção criativa
Debate com Joannes Silva, Nicolas Behr e Sérgio Vaz.
Mediação de Paloma Kliss
A conversa irá pontuar a produção criativa de poesia e literatura em ordem cronológica, resgatando gerações como mimeógrafo, fotocópia e periférica, e suas dificuldades do mercado editorial.
Performance: Na contramão
A atriz e escritora Dani Smith apresenta monólogo baseado em sua crônica urbana “Na contramão”, que aborda liricamente, elementos que cercam o caos da metrópole.
Sarau do Binho
Realizado sempre às segundas-feiras no bairro Campo Limpo há quase sete anos, o encontro reúne poetas, artistas, professores, estudantes e toda comunidade. A interação coletiva é ponto chave, em que os participantes são convidados a expressar sobre diversas atividades artísticas, como poesia, música, teatro e artes visuais.
Dia 24
Show “Contra Cult: Ruralistas”
Com estímulos musicais parecidos, as bandas Experimento Prosótypo e Na Sala do Sino são da mesma geração, e se apresentam juntas no palco. Ao final do show, ocorre uma Jam Session, com improviso e experimentação musical. O show conta com a participação de Nicolas Behr e Giovani Baffô.
Experimento Prosótypo
A banda é a confluência musical do movimento Poesia Maloqueirista. A apresentação se apropria da musicalidade da poesia e faz experimentos cênicos durante a apresentação. A sonoridade mescla influências como que vão do blues, jazz e funk, ao miami bass, rock, samba, ska e ragga.
http://vimeo.com/17550887
Na Sala do Sino
O grupo carioca mescla poesia de rua e música popular no repertório de suas apresentações. É um agente cultural no cenário independente.
Lançamento Edições Maloqueiristas 2011
O poeta Renato Limão, um dos fundadores do movimento Poesia Maloqueirista, lançará pelo selo do coletivo, livro com poemas inéditos e compilação de alguns dos seus textos que já se tornaram clássicos no meio alternativo, ora reproduzidos com bastante frequência em saraus, através de leituras e performances, ora publicados em blogs e perfis de redes de relacionamento, por admiradores de sua obra. O autor já repassou mais de 10 mil exemplares de sua obra.
Videoinstalação: Desmargi_nada
O coletivo Overlei apresenta uma video-instalação interativa através de televisores antigos espalhados pelo espaço, estabelecendo uma relação sensorial com a linguagem poética. Os vídeos são baseados em poemas de autores cuja trajetória dialogam com movimentos contraculturalistas: Ademir Assunção, Aline Binns, Berimba de Jesus e Caco Pontes, Celso Borges, Celso de Alencar, Giovani Baffô, Glauco Mattoso, Heyk Pimenta, Mia Vieira, Nicolas Behr, Renato Limão, Sérgio Luiz Dias e Sonia Pereira
Dia 30
Poesia de Rua: Na contramão da margem?
Debate com Analu Andriguetti, Tiago Mine, Antônio Vicente Pietroforte. Mediação de Heyk Pimenta
A poesia de rua resiste, nestas últimas décadas, através de poetas que divulgam seus trabalhos publicados de mão-em-mão ou oralmente em centros urbanos, espaços culturais, feiras e eventos voltados à literatura. Mesmo alcançando o público que transita por estes espaços, mas que não necessariamente consumiriam livros de poesia em prateleiras de livraria, seria possível reconhecer a existência de uma produção de qualidade neste segmento? O que é o poeta de rua? Um camelô literário, um artista procurando seu espaço? Ou uma linha marginal que já foi engolida pelos modos do sistema?
Performance: Na contramão
A atriz e escritora Dani Smith apresenta monólogo baseado em sua crônica urbana “Na contramão”, que aborda liricamente, elementos que cercam o caos da metrópole.