Felipe Hirsch faz estreia dupla com ‘Insolação’ e ‘Cinema’

Em quase 20 anos, Felipe Hirsch construiu uma carreira singular como diretor teatral. Sob seu comando, a Sutil Companhia de Teatro – fundada em Curitiba – encenou mais de 20 espetáculos, acumulou centenas de prêmios e se tornou um dos núcleos mais estáveis de produção teatral do país. Entre os feitos deste período se destacam uma constante pesquisa de linguagem e o diálogo marcante com literatura, música, quadrinhos, cinema e artes plásticas.

Dia 26 de março, sexta-feira, Felipe fará uma estreia dupla: ‘Insolação’, seu primeiro filme, chegará às telas e ‘Cinema’, o 20º espetáculo da Sutil, dá início às apresentações no Teatro do Sesi. Em comum, além do cruzamento entre diversas esferas da criação artística, os dois projetos tem a parceria de Daniela Thomas, que assina a direção do longa com ele e a cenografia da nova montagem.

Ao estrear o último espetáculo da companhia, ‘Não Sobre o Amor’ (2008), Felipe e Daniela perceberam que a imagem em movimento, projetada no cenário, vinha tomando proporções alarmantes. O cinema como próximo passo da dupla se impôs como um processo natural. Filmado em 2009, ‘Insolação’ teve sua primeira exibição pública no Festival de Veneza do mesmo ano e já foi exibido no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo.

Ainda que o nome e a ocasião do lançamento indiquem, ‘Cinema’, o novo espetáculo da Sutil, não é uma homenagem explícita à sétima arte. Depois da experiência atrás das câmeras, Felipe resolveu usar o cinema como uma metáfora para falar sobre ver e ser visto. ‘É um espetáculo sobre identificação, sobre como você vê e escolhe o que ver. Nós somos a imagem de quem nos assiste, nós somos o cinema’, conceitua o diretor, que selecionou 15 atores depois de abrir inscrições para testes e ter mais de 1.350 concorrentes.

Em cena, os personagens ocupam uma antiga sala de projeção, onde vão circular por estados emocionais diversos, através de poucos diálogos. Algumas acontecem ao mesmo tempo e cabe ao espectador escolher para onde olhar. ‘O ato de ver precede as palavras. A pessoa tem a necessidade de se identificar com o que assiste, ver é escolher’, analisa o diretor, cuja aposta também se concentra na espécie de ‘espelho’ que se formará entre a plateia ‘real’ e a do palco, dispostas frontalmente uma à outra.

‘Cinema’ tem discreta inspiração em uma cena de ‘Educação Sentimental do Vampiro’ (2007), penúltimo espetáculo da companhia, cujo mote eram os contos do também curitibano Dalton Trevisan. Uma das cenas, adaptada de ‘Onde estão os Natais de Antanho’, se passava exatamente em um decadente cinema de uma metrópole. Mais uma vez, o universo urbano marca o trabalho da Sutil, que recentemente abordou os desiludidos personagens de Will Eisner na bem-sucedida ‘Avenida Dropsie’ (2005).

Por Redação