Festival Vivo arte.mov – Arte em Mídias Móveis chega a SP

Evento reúne diferentes formas de arte impulsionadas por novas tecnologias, que se desdobram em mostras, exposições e debates; Belém, Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte já receberam a quinta edição do evento

Por Redação
29/11/2010 16:47 / Atualizado em 05/05/2020 16:15

divulgaçãoBike Mov.
Bike Mov.

Entre 30 de novembro e 11 de dezembro, o Festival Vivo arte.mov – Arte em Mídias Móveis desembarca em São Paulo para a quinta etapa de sua edição 2010, que acontece em dois espaços: no Sesc Pinheiros e na Baró Galeria/ Galeria Emma Thomas. O evento, pioneiro no Brasil ao se dedicar à arte impulsionada por dispositivos móveis como celulares e aparelhos GPS, acontece sob o tema “Novas Cartografias Urbanas: Reconfigurações do Espaço Público”.

A programação contempla exposições audiovisuais, com seleções que oferecem um amplo panorama da produção feita com mídias portáteis ou produzida para dispositivos móveis ao redor do mundo, simpósios e atividades paralelas com temas ligados ao universo do festival. Bruce Sterling, um dos criadores do cyberpunk, Mark Amerika, diretor do primeiro filme de arte para celular, e as mostras internacionais são alguns dos destaques.

As chamadas “Novas Cartografias Urbanas” funcionam como fio condutor para discussões sobre os desdobramentos recentes da arte e do audiovisual em mídias portáteis. O tema é enfatizado em debates sobre novas configurações urbanas que estruturam a programação do evento: mobilidades e imobilidades do contemporâneo; expandir o presente e contrair o futuro; e novas formas de negociação da vida no espaço.

O eixo temático proposto é ponto de partida para organização não apenas do Simpósio em que estes assuntos são discutidos, mas também da exposição e das mostras audiovisuais, que oferecem ao público um panorama amplo da produção na área, além de estimular o fomento à produção com dispositivos portáteis.

Confira a programação

Sesc Pinheiros

O escritor Bruce Sterling é um dos convidados do Simpósio, que acontece no Sesc Pinheiros no dia 30 de novembro, às 19h. Em sua participação no Vivo arte.mov, o escritor abordará temas como impacto da tecnologia na vida na cidade e interfaces de sistema de transportes. Bruce é um dos principais nomes da ficção científica e ajudou a cunhar o termo cyberpunk, gênero literário que mescla cibernética e o universo punk sob uma perspectiva de radicais transformações sociais pautadas por um rápido e caótico avanço tecnológico.

Sua obra, que desenha paisagens onde a natureza está praticamente morta, serviu como questionamento para apontar novas direções para o avanço tecnológico, além de antecipar outros temas como a vigilância eletrônica na internet. Bruce se tornou referência nos debates que abordam o futuro, seja como fonte criativa que aponta soluções para um ambiente sustentável ou como responsável por antever a vida em rede da sociedade atual.

Um dos destaques do braço audiovisual do festival é a exibição de “Immobilité”, de Mark Amerika, marcada para o dia 1º de dezembro, às 18h, no Sesc Pinheiros, o primeiro filme arte de longa metragem para celular. “Immobilité” mistura a linguagem dos “filmes estrangeiros” com pintura de paisagem e metaficção literária. O trabalho usa um método sem roteiro e improvisado de atuação. As imagens de telefone celular são intencionalmente gravadas em textura amadora semelhante ao vídeo distribuído em ambientes de mídia social como o YouTube. Ao costurar essas interfaces (versões low-tech de fazer vídeo com formas mais sofisticadas dos filmes de arte Europeus), Amerika pergunta e responde ao mesmo tempo “O que é o futuro do cinema?”.

Um aspecto importante do audiovisual produzido com e para mídias móveis são as novas possibilidades da exibição. Além da sala tradicional, essa produção alcança locais diversos, em convivência com outras manifestações artísticas como vídeoinstalações e outras formas de vídeo. Na mostra “Para além da tela pequena”, marcada para o Sesc entre 30 de novembro e 05 de dezembro, os vídeos de bolso experimentam um trajeto semelhante, ainda que particular.

São formas expandidas, em multi-telas, de diversos tamanhos, que inserem formatos típicos do microcinema em situações de exibição momentaneamente fixas, buscando uma sintonia com o caráter expositivo da mostra. São trabalhos de destaque no circuito audiovisual que apontam caminhos emergentes, do diálogo mais direto com possibilidades dos dispositivos portáteis à pesquisa formal que articula som e imagem em movimento de formas imprevistas, passando por novos modos de construção da subjetividade.

Baró Galeria/ Galeria Emma Thomas

Entre as obras expostas, destaque para “Cinema Lascado”, de Giselle Beiguelman, que estará à disposição do público na Baró Galeria/ Galeria Emma Thomas entre 30 de novembro a 11 de dezembro. Trabalho comissionado pelo Vivo arte.mov, “Cinema Lascado” usa registros sucessivos do Elevado Presidente Costa e Silva para desconstruir sua imagem e recriá-lo como ruído visual, pautado pelas cores predominantes do entorno. Para isso, a artista capturou diversas situações no Minhocão, selecionou e editou frames capturados em vídeo HD para compor vários GIFs (espécie de intercâmbio de gráficos para dar movimento a uma imagem) inseridos em páginas HTML (linguagem utilizada para produzir páginas na Web).

Os diversos documentos da web são exibidos pelo Internet Explorer (Microsoft) em meta refresh, script que atualiza automaticamente a página da internet em determinado intervalo de tempo. Como conseqüência do uso script, gera-se movimento entre os GIFs e inúmeros bugs de leitura das animações e uma temporalidade instável. Essa sequência é capturada e transformada em um vídeo por meio de um software de screen recorder, que grava as imagens de uma tela. A instabilidade do navegador de internet é usada para criar um jogo de saturação e supressão que refaz o olhar e a percepção sobre o entorno e a cidade, o novo e o velho.

Outro trabalho interessante é o “Tactical Sound Garden [TSG] Toolkit”, de Mark Shepard. Misto de performance e banco de dados, o trabalho é uma plataforma de software de código aberto para cultivar “jardins sonoros” públicos em cidades. Ele se baseia na cultura urbana de jardinagem comunitária para propor um ambiente participativo onde novas práticas de interação social em ambientes tecnologicamente mediados podem ser exploradas e avaliadas.

Tratando do impacto de dispositivos de áudio móveis como o iPod nos círculos sociais, o projeto examina as gradações da privacidade e publicidade dentro do espaço público contemporâneo. O Toolkit permite que qualquer pessoa que viva dentro de áreas Wi-Fi densas possa instalar um “jardim sonoro” para uso público. Usando um dispositivo móvel habilitado para rede sem-fio (laptops, celulares etc), os participantes “plantam” sons dentro de um ambiente de áudio localizado.

Essas inserções sonoras são traçadas sobre as coordenadas de um local físico por um mecanismo de áudio 3D comum aos ambientes de jogos – estabelecendo um ambiente acústico em uma determinada área. Usando fones de ouvido conectados a um dispositivo habilitado para Wi-Fi, os participantes são levados por jardins sonoros virtuais conforme se locomovem pelos espaços e até cidades, de acordo com potência da rede Wi-Fi.