Imprensa Oficial realiza lançamento de poemas de Régis Bonvicino na Livraria Cultura

Editora Imprensa Oficial reúne dez poemas de dez livros do autor. Entre eles, os textos de “Bicho de Papel”, de 1975.

Conforme escreve o professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo João Adolfo Hansen no posfácio de “Até Agora – Poemas reunidos”, o título da obra tem as marcas contingentes do tempo que o determina: sai do presente, encaminha a leitura à memória da escrita, anuncia o futuro indeterminado da poesia e retorna para onde está o leitor, por enquanto, no presente.

Esta é a essência da publicação que reúne poemas modernos de dez livros escritos pelo poeta, tradutor e crítico Régis Bonvicino, entre 1975 e 2006.

Os poemas fazem parte dos livros Página órfã; “Remorso do cosmos (de ter vindo ao sol)”; “Céu-eclipse”; “Ossos de borboleta”; “Outros poemas”; “33 poemas”; “Más companhias”; “Régis Hotel”; “Primeiros poemas” e “Bicho papel”. Intencionalmente, eles estão dispostos na ordem inversa à cronologia de publicação: o primeiro é o mais recente, e o último foi o primeiro a ser lançado.

Segundo Hansen, se o leitor inverter a ordem dos livros, começando por “Bicho papel”, de 1975, poderá observar que a consciência de Régis “da precariedade da prática artística e da autonomia estética da poesia na sociedade brasileira vai se intensificando cada vez mais a ponto de seus poemas se despedaçarem de desespero frio animado por uma inesperada ética do estilo”.

Para Hansen, cada um dos nove livros é “individualizado e autônomo, documentando um momento particular da invenção do autor; simultaneamente, no encadeamento dos momentos de cada um, acham-se as marcas diferentes dos tempos de uma voz singular que, desde o primeiro, “Bicho papel” (1975), é pessoal sem subjetivismo ao fazer, em todos eles, o leitor ‘captar o possível’”.

Régis Bonvicino travou um diálogo único e raro – em uma perspectiva contemporânea – com poetas do mundo todo, de Yao Feng, na China, a Charles Bernstein e Robert Creeley nos Estados Unidos, onde promoveu toda uma geração de poetas brasileiros por meio da antologia Nothing the sun could not explain (Sun & Moon Press, Los Angeles, 1997).

Confira trecho

Aqueloutro

Dizem que sou um dúbio mascarado

Um falso atônito

que fala sem tom nem som

que nunca deu sequer um berro ao Ideal

Um ingrato

arrotando disparates “avant-garde”

Um irascível, mau-caráter

Um filho da puta, desleal,

asco de vômito

Um gelado, que passa ao largo

de cadáveres atropelados

Me mato todos os dias de um modo homeopático

Loquazes, gárrulos!