Mais que lindas praias, a Ásia oferece muita filosofia de vida

Por: Catraca Livre

Além de todo o atrativo paradisíaco, o Sudeste da Ásia possui uma enorme riqueza cultural, filosófica e religiosa que, sem dúvidas, toca até mesmo os mais desligados, que se deslocam até lá apenas por conta das festas e das praias bonitas. O dia a dia local leva à reflexão e comparação com o estilo de vida consumista e individualista que vivemos no ocidente.

Depois de nove meses viajando e tendo passado por 22 países com religiões e costumes diferentes, talvez estejamos com os sentido mais aguçados para coisas. Se quiser ver um pouco do que já vivemos pelo mundo o que ainda está por vir, siga nosso Instagram, Facebook, Canal do YouTube ou o Blog

Templo budista. A meditação é uma das bases do budismo.

Vários daqueles países viveram guerras importantes, períodos de regime comunista e alguns passaram por governos ditatoriais. Quase todos possuem uma enorme influência budista e também mantêm hábitos milenárias, que podem parecer estranhos aos nossos olhos ocidentais.

Viajando um pouco por essa região, passamos a perceber algumas diferenças na forma de viver, que ultrapassam apenas os costumes aparentes. Ficam evidentes as diferenças na filosofia de vida, na prática diária e principalmente no estilo de vida.

Visita a um monastério no norte da Tailândia. Noviços moram por lá.

Fato é que depois de vivenciar algumas coisas bastante marcantes, tivemos a oportunidade de participar da “ronda das almas” e foi surpreendente.  Uma lição de vida ao participante que mantenha olhos, mente e coração abertos.

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Isso rolou no Laos, mas precisamente na cidade de Luang Prabang. Tudo começa por volta das 5:30 da manhã. O sol ainda não nasceu, o frio da noite de inverno ainda amedronta, mas diversos moradores já estão sentados na calçada de frente de suas casas, prontos para iniciarem a doação diária, carregam consigo potes de palha trançada, cheios de arroz cozido. Alguns levam frutas, outros com biscoito e diversos tipos de comida. Porém, oferecem somente alimentos que poderão ser consumidos naquele mesmo dia.

A iniciação de um monge

Enquanto aguardam a vinda dos monges e noviços, vizinhos dividem espaço nas esteiras que colocam no chão e conversam bastante. Alguns levam almofaças e até pequenas cadeiras, como em um momento de confraternização de bairro.

Ainda é noite e crianças, jovens e velhos surgem nas esquinas, em fila indiana. Todos de cabeça raspada, descalços, vestidos com panos laranja e carregam consigo uma tigela que varia de tamanho entre 5 a 8 litros. Sem qualquer expressão facial, eles passam pelas pessoas, que colocam a doação de comida na tigela. Chama a atenção, o doador fazer um bolinho do arroz com a própria mão, para coloca-lo nas tigelas. Para muitos, aquilo pode ser apenas uma suplica por doação, mas para nós, transmitia uma mensagem de humildade, amor ao próximo, vida em comunidade e não acumulação, já que o que extrapolava a tigela, era ofertado a algumas meninas que aguardavam por essa doação do excesso. Os ensinamentos são tão profundos, que talvez os noviços e monges doem muito mais do que o que recebem na tigela.

A Bela doando um punhado de arroz.

Enquanto participávamos, oferecendo um pouco de arroz cozido que compramos antes do início da cerimônia, percebemos que as crianças fechavam suas tigelas quando viam apenas o arroz. Elas queriam ganhar biscoitos, doces e outros quitutes que atraem o paladar infantil. Afinal, criança é criança em qualquer lugar do planeta.

Sandro oferecendo arroz a um garoto noviço.

Ao final, atordoados com aquele momento que esperávamos ser algo turístico, ficamos sem algumas respostas. Por sorte, nos deparamos com um francês budista, hoje morador de Mianmar, que além de nos explicar algumas coisas, ainda nos convidou e recomendou uma visita ao seu país de residência atual. Aceitamos e este será nosso próximo destino.

Dentre as explicações, ele nos falou que os diversos templos, onde moram vários noviços e monges, são mantidos por doações e essa é a base da educação da camada da população mais pobre. Todos seguem os princípios e filosofias do budismo. Assim, a base de tudo é a meditação, não acumulação e nada de vaidade. Por isso todos raspam as cabeças e são proibidos de fazer qualquer tipo de acumulo. Vivendo apenas com o que conseguem levar consigo. Um ensinamento que certamente levam para toda a vida e depois os coloca na condição de doadores, eternizando este ciclo.

Talvez a frieza das palavras não consiga demonstrar o quão transformador é viver isso tudo. Por certo, a Ásia é uma bofetada em diversos dos nossos conceitos ocidentais, criados em uma sociedade fundamentada no acumulo do desnecessário, na prática do individualismo e na busca da felicidade instantânea. Temos bastante a aprender com esses noviços e monges.