O Furacão de Francis Alÿs

Por: Redação

O livro, editado em inglês e português, tem como ponto de partida o filme Tornado, em que Alÿs reúne o resultado de dez anos de filmagens de furacões no sul da Cidade do México, onde vive, e que será apresentado no maior evento de arte do país.

Numa dada situação é uma reelaboração poética do universo desse filme, recentemente apresentado em retrospectiva sobre o artista no museu Tate Modern, em Londres. A edição reúne suas mais diversas referências – de fragmentos de textos de Samuel Beckett, Walter Benjamin e Guimarães Rosa, a fotografias retiradas de jornais. O volume é enriquecido com dois textos exclusivos, assinados pelo curador mexicano Cuauhtémoc Medina e pelo matemático brasileiro Ton Marar. Traz, ainda, um precioso ensaio do mexicano Alfonso Reyes.

“Numa dada Situação” (editora Cosac Naify), 152 págs., R$ 100

Leia, a seguir, o texto de apresentação do livro, escrito pelo próprio autor:

Li em algum lugar, não me lembro onde, que os conceitos são atemporais. Abertos; portanto duradouros, contínuos. Que não podem ser ditos, que são apenas encenáveis.

E penso: como se narra um conceito que só pode ser encenado no tempo? Ao filmar Tornado, notei que a atuação contínua da câmera anula qualquer sequência possível dos eventos.

E me pergunto: como montar as quinze ou mais horas de material gravado? Por falta de uma narrativa linear, uma série de palavras foi afixada na parede do estúdio, palavras que me ocorreram durante a filmagem.

Elas foram incluídas inicialmente no vídeo, mas o procedimento se mostrou redundante e desisti. De volta para a parede do estúdio: se o encontro das palavras negras com a superfície branca às vezes criava axiomas improváveis, a expansão delas em todas as direções possíveis também construiria diagramas.

As palavras foram agrupadas, formaram linhas e as linhas desenharam formas. Os espaços entre as linhas foram coloridos e formas começaram a aparecer. Ou será que alguém poderia começar a imaginar formas? Planas ou sólidas, geométricas ou líricas, abstratas ou figurativas, organizadas ou caóticas: tanto faz. Figuras autônomas; imagens. Frames coloridos também foram incluídos entre o material gravado. Como eram estáticos, marcavam pausas. Um espaço para respirar. As pausas interrompiam o continuum da atuação da câmera e criavam um ritmo. Em combinação com uma distribuição aleatória dos quatro movimentos da ação – esperar os tornados, persegui-los, alcançá-los ou perdê-los – surgiu então uma espécie de linha temporal: o processo de edição estava encaminhado

Por Redação