Três trens que não travam a viagem

Em parceria com Viramundo e Mundovirado
25/02/2016 13:19 / Atualizado em 07/05/2020 02:21

Fio condutor entre culturas e paisagens mundo afora, o trem que leva o viajante pode ser, ele mesmo, o principal atrativo do percurso.

Entusiasmo é a palavra-chave nos planos de uma viagem, certo? Que dizer então quando as distâncias serão percorridas por trens? De cara, a estação ferroviária convida. É o vozerio babélico de línguas estrangeiras, os inesperados encontros, os atalhos da imaginação elaborando fantasias sobre o destino escolhido.

Seja em um trajeto curto ou longo, o trem oferece ao viajante a chance de se deleitar diante de um panorama histórico, de determinada geografia, desfrutando a riqueza e a diversidade da paisagem com edificações, campos agrícolas, montanhas, vales e lagos; rios. O roteiro pode ter sabor de antigamente, ou misturar estilos com velocidade e conforto.

Trilhos para o céu (Suíça)

Nosso foco era partir da estação ferroviária do vilarejo de Kleine-Sheidegg, quase no centro do país, para alcançar Jungfraujoch, a 3.454 metros, considerada a estação de trem mais alta da Europa. No percurso até lá, partindo de Zurique, fizemos uma prazerosa viagem de duas horas em um moderno trem.

Nesse trajeto inicial já curtimos a paisagem: montanhas recobertas de verde luminoso, picos nevados, viadutos de pedra com alturas estonteantes, vilarejos com igrejas de torres pontiagudas e pitorescas casas com jardineiras transbordando de gerânios multicoloridos. Nos campos ainda se veem rebanhos de ovelhas, camponesas em meio a seus afazeres, e pralápracá pipocando pelas trilhas, viajantes de todas as idades a pé, de bicicleta, esqui ou a cavalo.

O Velho Expresso da Patagônia, mais conhecido como La Trochita[/img]

Experimentamos a sensação única de voltar no tempo. Importante mesmo em uma viagem é encontrar a magia que existe nas paisagens e deixar que a imaginação corra à vontade. Foi o que sentimos a bordo do Velho Expresso da Patagônia, mais conhecido como La Trochita, que liga desde 1920 a cidade de Esquel ao povoado de Nahuel Pan, na província de Chubut, na Argentina. A viagem demorou uma hora, tempo suficiente para que o cenário nos remetesse rapidamente a um tempo de descobrimentos em longínquas regiões.

Na saída a maria fumaça tem apito que soa como melodia encantada, e a linha férrea cruza vales, percorre mesetas áridas e desérticas delineadas por cumes nevados da Patagônia, imagens que mostram que ali é a natureza que comanda o espetáculo.

Ao chegarmos no vilarejo de Nahuel Pan, um rústico e bem informativo museu convida a conhecer a cultura dos indígenas que foram os primeiros habitantes dessas planícies. Em suas casas os poucos moradores da vila vendem gorros, luvas e cachecóis em lã de ovelha, botões artesanais de madeira, além de empanadas e tortas doces.

Essa viagem nos trouxe um outro prazer mais confidencial: fugir dos circuitos assinalados e encontrar lugares com belezas e histórias ainda não massificados pelo turismo.

Mais informações www.latrochita.org.ar

A estrada de ferro que atravessa um jardim – Litorina Serra Verde

São vários trens que partem de Curitiba e descem a Serra do Mar até Morretes. O nosso era um reluzente e prateado vagão, revestido de madeiras nobres, decorado com aconchegantes poltronas de veludo e couro, e com janelas panorâmicas para melhor visibilidade da natureza ao redor. Uma vez a bordo escolha os lugares do lado esquerdo do trem para ter ampla visão do vale, penhascos, alguns deles com sensação que estávamos flutuando, pontes, viadutos incrustados na rocha e cachoeiras como a Véu da Noiva com 70 metros de altura. O percurso é de puro charme.

O trem cruza o bem preservado Parque do Marumbi e, em alguns trechos o vagão passa rente a hortênsias e damas-da-noite. No alto da serra a litorina faz uma parada no Mirante do Cadeado, para os viajantes sentirem o ar fresco da montanha e imaginarem a dificuldade que foi a construção dessa estrada em 1880.

Em chegando a Morretes lá pela hora do almoço, vale provar nos restaurantes locais, o Barreado, outrora substanciosa comida dos tropeiros e hoje um dos mais tradicionais pratos paranaenses, acompanhado da especial pinga de banana.

Em todos passeios de trem, o denominador comum é a sensação prazerosa de ver o mundo passar.

Mais informação: www.serraverdeexpress.com.br

Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado