Festa Literária das Periferias recebe 100 autores de 20 países

A FLUPP celebra os 50 anos da Cidade de Deus, a obra de Caio Fernando Abreu e a toda uma programação inclusiva e maravilhosa

O 50 anos de uma das favelas mais conhecidas do Rio ganham uma forma linda para serem celebrados. A Festa Literária das Periferias (FLUPP) chega à Cidade de Deus entre os dias 8 e 13 de novembro. Os eventos são todos Catraca Livre e acontecem na Praça da Cidade de Deus (Praça Padre Júlio Groten). Ao todo, mais de 100 autores, de 20 nacionalidades vão a Jacarepaguá discutir temas relacionados às minorias periféricas, como racismo, transfobia e feminismo, além de comemorar 5 décadas da comunidade e homenagear Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho que morreu de AIDS há exatos 20 anos.

Mel Duarte é uma das convidadas do III Rio Poetry Slam, na FLUPP

Uma das atrações mais aguardadas deste ano é o coletivo Be another lab, pela primeira vez no Brasil. O público pode vivenciar diversas histórias de moradores da favela com óculos de realidade virtual, em um sistema que combina técnicas de neurociência com teatro imersivo para criar uma ilusão cerebral que faz a pessoa ver-se e sentir-se no corpo de outra pessoa.

Entre os destaque da FLUPP de 2016, está a mesa “Dando uma pinta na produção”, na qual Marcelo Caetano, Amara Moira e MC Linn da Quebrada discutem os processos criativos na literatura, nas artes e na música do ponto de vista trans. Em “Modos de ver o amor”, Jéssica Ipólito, escritora do blog “Gorda & Sapatão”, e Pamela Lightsey – pesquisadora norte-americana, negra, pastora e lésbica –, falam sobre militância lésbica negra, teoria queer e teologia no cinema ou na literatura.

A atriz escocesa Jo Clifford apresenta “O Evangelho segundo Jesus Cristo – A rainha dos céus”, na qual Jesus volta à Terra na condição de uma mulher trans. O espetáculo tem suporte do coral Uma só voz, formado por moradores das ruas da região central do Rio de Janeiro. Nadifa Mohamed (Somália) e Ana Maria Gonçalves (Brasil), falam da construção da identidade da mulher negra em um mundo a um só tempo machista e racista na mesa “Quando me tornei negra”.

A quinta edição foi construída com a ajuda das duas mulheres negras que fazem a curadoria da festa. A cineasta Yasmin Thayná, jovem, negra e moradora da baixada fluminense, é responsável pelos autores da FLUPP Trans e a slam-master Roberta Estrela D’Alva, é curadora do III Rio Poetry Slam.

O Rio Poetry Slam é o primeiro slam internacional da América Latina e traz poetas de várias partes do mundo pra cinco dias de batalhas eletrizantes de poesia, no Núcleo Bartolmeu. Esse ano tem Mel Duarte (Brasil) , Adaeze (Barbados), Nuno Piteira (Portugal), Adrian DIFF Van Wyk (Africa do Sul) , Elier A. Alvarez (Cuba) Adrian Merz (Suiça), Fatima Moumoni (Alemanha), Pilote le Hot (França), Inua Ellams ( Nigéria), Sergio Garau (Itália), António Paciência Angola), Jackie Hagan (Inglaterra), So Sonia ( Argentina), Jessica Care Moore ( EUA), Chris Tse (Canadá), Edmeé Diosaloca (México). 

PROGRAMAÇÃO:

Terça, 8/11

12h – Revoada dos balões

Repetição da poética cena dos dois últimos anos, em que a FLUPP foi aberta com uma revoada de balões com poemas/textos. Este ano, os balões vão subir com trechos dos textos de Caio Fernando Abreu, autor homenageado de 2016. A revoada de balões da FLUPP foi inspirada em uma ação semelhante organizada anualmente pelo poeta Sergio Vaz, do sarau Cooperifa.

Tenda Morangos Mofados

19h – Abertura Solene

Parceiros, patrocinadores, autoridades, representantes dos moradores e

organizadores dão as boas-vindas tanto ao evento quanto ao público.

19h30 – Caio F. e as Periferias Existenciais

Heloísa Buarque de Hollanda e Candé Salles

Mediador: Julio Ludemir

A FLUPP de 2016 homenageará Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho cuja produção abrangeu três décadas decisivas para duas questões caríssimas para nós. Foi nesse período que se consolidou uma literatura de temática urbana – e não há megalópoles sem periferia. Caio Fernando Abreu também é a possibilidade de abranger de modo mais desabrido as periferias existenciais, tão importantes quanto as territoriais.

21h – Batalha de Poesia

Performance poética e musical do Nós do Morro, criada no âmbito das comemorações pelos 30 anos do grupo. Com organização de textos e direção de Guti Fraga, o espetáculo, além de corroborar a parceria da FLUPP com o Nós do Morro, aponta para a FLUPP de 2017, que será no Vidigal.

Quarta, 9/11

Tenda Morangos Mofados

14h – Desde que o samba é samba – 100 anos de samba

Haroldo Costa e Luis Antônio Simas

Mediador: Leonardo Lichote

De Donga à geração da Lapa. De um gênero musical criminalizado a uma marca identitária nacional. Partido alto, pagode, roda de samba. Escolas na Sapucaí e blocos arrastando multidões pelas ruas. Pelo telefone, por telegrama, nas redes sociais. Porque só no samba nos sentimos contentes. Porque sempre há negros destemidos para socorrê-lo ou foliões clamando para que não o deixem morrer. Samba100.

16h – Rio Poetry Slam

Eliminatórias do Grupo A

  1. Fatima Moumouni (Alemanha)
  2. Adrian Van Wyk (Africa do Sul)
  3. So Sonia (Argentina)
  4. Chris Tsé (Canadá)

18h – A negação do cinema

Joel Zito Araújo e Jeferson De

Mediador: Cadu Barcellos

Historicamente, o cinema é um reduto dos caras pálidas. De Hollywood ao engajado Cinema Novo, o negro sempre foi uma espécie de figurante dessa indústria, com papéis que variam do serviçal ao criminoso. Está mais do que na hora de mudar esses enquadramentos.

20h – Rio Poetry Slam

Eliminatórias do Grupo B

  1. Mel Duarte (Brasil)
  2. Adrian Mertz (Suíça)
  3. Sergio Garau (Itália)
  4. Adaeze (Barbados)

Tenda Pequenas Epifanias

16h – Lugares de fala

Athayde Motta e Jean-Yves Loude

Mediadora: Silvana Bahia

A infeliz estampa de recente coleção da Maria Filó, que em última instância romantizava um elogio à escravidão, retoma a discussão sobre o lugar de fala de cada um de nós. Todos os escritores têm o direito de produzir livros sobre o outro, mas todo o cuidado é pouco, particularmente quando essa abordagem pode abrir feridas mal cicatrizadas.

18h – Nós, passarinhos

Eduardo Suplicy e Marcelo Freixo

Mediadora: Rebeca Brandão

A esquerda brasileira repetiu até a exaustão o termo cunhado por Isadora Dolores Ibárruri, afirmando que o impeachment não passaria. Qual o destino da esquerda, agora que voltamos para a oposição?

20h – Cinema Petrobras

Documentário: Para sempre teu, Caio F.

Inspirado no livro de Paula Dip, filme faz parte das homenagens a Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho que morreu de Aids em 1996. Com mistura de linguagens inerentes à obra de Caio F. – cinema, teatro, música e literatura –, a narrativa é conduzida por depoimentos de amigos, editores e estudiosos que mantiveram relação com o autor.
https://www.youtube.com/watch?v=NGbc7N2xuMc

Quinta, 10/11

Tenda Morangos Mofados

14h – Primavera digital

Carla Siccos e Enderson Araújo

Mediador: Edu Carvalho

O espírito da Primavera Árabe se propagou pelo mundo por intermédio das redes sociais. No Brasil, os jovens negros da periferia não conseguiram derrubar tiranos, mas se tornaram uma referência para o país ao usar seus celulares para narrar as manifestações ignoradas pela mídia oficial.

16h – Rio Poetry Slam

Eliminatórias do Grupo C

  1. Jessica Care Moore (EUA)
  2. Nuno Piteira (Portugal)
  3. Edmeé García (México)
  4. Inua Ellams (Nigéria)

18h  – Ausências

Débora Ferraz e Alexandre Marques Rodrigues

Mediadora: Mànya Millen

A literatura pode preencher vazios, diluindo angústias, silenciando dores. Em sua estreia, a pernambucana Débora Ferraz se socorreu da palavra para suprir a irreparável perda do pai. Depois de um livro em que a obsessão pelo sexo travestiu o medo da solidão, o paulista Alexandre Marques Rodrigues fez um romance cuja bússola foi a procura do corpo da mãe.

20h – Rio Poetry Slam

Eliminatórias do Grupo D

  1. Jackie Hagan (Inglaterra)
  2. Eliér Álvarez (Cuba)
  3. Antônio Paciência (Angola)
  4. Pilote Le Hot (França)

Tenda Pequenas Epifanias

14h – FLUPP Slam Colegial

Final do slam disputados nas escolas públicas de ensino médio do Rio de Janeiro. Processo eliminatório percorreu cinco áreas populares da Região Metropolitana. Campeão representará o FLUPP Slam Colegial no Slam Nacional.

20h – Cinema Petrobras

Pelas margens – Jéssica Balbino

Panorama da literatura marginal brasileira dos últimos 15 anos, com as vozes femininas dos saraus, slams e editoração. Debate o machismo no mercado editorial.

Após a sessão, debate com a diretora.
https://www.youtube.com/watch?v=4akySfkpdaY

Sexta, 11/11
Tenda Morangos Mofados

14h – Deslocamentos Literários

Akaweke Emezi, Bianca Sant Ana e Lia Minapoty

Mediadora: Diane Lima

Três mulheres pertencentes a dois grupos sociais e culturais diferentes que trazem em sua história genocídios terríveis em comum, resistem com sua literatura e o modo de ver o mundo. Aqui, velejaremos pela literatura indígena e negra e diáspora africana, tendo como ponto central o que, a partir da literatura, há em comum entre essas culturas.

16h – Rio Poetry Slam

Semifinal 1 – Primeiro colocado dos grupos A e C + segundo colocado das chaves B e D

18h – Que histórias contamos sobre nós?

Ellen Oléria e Guy Deslauriers

Mediador: Ivana Bentes

Existem muitas histórias a serem contadas sobre o negro. A de uma África mítica. A dos povos no cativeiro. A dos mártires da Diáspora e a dos violentos guetos das megalópoles pós-coloniais. O que há em comum entre um jovem colombiano e um ancião de Nairóbi, além do fato de ambos terem a mesma cor de pele? Qual deles te representa?

20h – Rio Poetry Slam

Semifinal 2 – Primeiro colocado das chaves B e D + segundo colocado das chaves A e C

Tenda Pequenas Epifanias

16h – FLUPP QUIZ

Final presencial com os estudantes das escolas públicas de ensino médio que mais pontuaram no game. Eles defenderão três livros diante de uma banca de especialistas em literatura.

18h – De volta ao começo

Roda de Conversa com  Nadifa Mohamed e jovens autores

20h Cinema Petrobras

Passagem do meio – Guy Deslauriers

Um navio negreiro europeu tem a bordo centenas de escravos oriundos do Senegal. Arrancados de suas aldeiras, essas pessoas são tratadas coo animais e colocadas em lugares obscuros. Durante as dezoito semanas de travessia, os futuros escravos passam por diversas situações. Trata-se do horror da escravidão negra pela ótica de Guy Deslauriers.

Sábado, 12/11
Tenda Morangos Mofados

14h – Dando uma pinta na produção

Marcelo Caetano, Amara Moira, MC Linn

Mediadora: Aretha Sadick

Pessoas trans se juntam para falar sobre processos criativos contemporâneos na literatura, nas artes e na música.

16h – Modos de ver o amor

Jéssica Ipólito e Pamela Lightsey

Mediadora: Yasmin Thayná

As representações de amor, sejam no cinema ou na literatura, normalmente são enquadradas num perfil eurocêntrico e heterossexual. Nessa jangada, faremos uma imersão sobre o amor juntando militância lésbica negra com teoria queer e teologia.

18h – O evangelho segundo Jesus – A rainha dos céus

Jo Clifford

Jesus Cristo volta na condição de uma mulher trans. Espetáculo, estrelado pela atriz escocesa Jo Clifford, propõe uma das mais radicais discussões sobre identidade sexual da atualidade. Chocou a Europa, atraindo a ira de católicos e protestantes.

19h30 – Prêmio Carolina de Jesus

Terceira edição do prêmio com que a FLUPP homenageia as pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela Literatura.

20h – FLUPP Slam BNDES – Final

Final do FLUPP Slam BNDES com os 4 poetas classificados nas semifinais.

22h – Show – Inquérito : “Corpo e Alma”

Abertura – Favela Funk Finlândia

Depois de longos 17 anos de ritmo, amor e poesia, o show chega pela primeira ao Rio de Janeiro. Fundado na região metropolitana de Campinas (SP), o Inquérito tem uma trajetória peculiar e sempre com a veia da poesia nas letras e músicas do grupo.

Tenda Pequenas Epifanias

14h – FLUPP PARQUE – Infantil

AEILIJ na FLUPP

Contação de história com Cristina Villaça e Flávio Dana.

15h – Oficina de arte com o ilustrador Felipe Campos

Colocar no papel as cores do seu manifesto na Roda de Arte com os ilustradores

16h – Long Table Estética das Ocupações

Chico Ludermir, Diana Bogado, Dona Penha, Sandra Maria, Alex Frechette, Nívea Oura, Anderson Lima, Cintia Barreto e Edu Carvalho

Os movimentos sociais têm recorrido a intervenções artísticas para ampliar o diálogo com os manifestantes. Um exemplo disso é o Museu das Remoções, que criou instalações a partir do que sobrou das casas removidas na Vila Autódromo.

18h – Lançamento de livros “A história Incompleta de Brenda”, de Chico Ludermir, e

“Diários de Afeto”, de Alex Frechette

Depois de três anos de pesquisa, o jornalista pernambucano Chico Lurdermir conta a história de onze mulheres trans e travestis do Recife, sempre a partir de seus relatos. Também fotógrafo, ele fez um ensaio com cenas cotidianas raramente vistas.

20h – Cinema Petrobras  – Festival de Curtas

Seleção de filmes exibidos no Festival Curta Cinema 2016 feita por jovens produtores culturais da Maré.
Domingo, 13/11
Tenda Morangos Mofados

14h – Militância se escreve com M, de Mulher

Kátia Lund e Jessica Care Moore

Mediadora: Ana Paula Lisboa

O mundo vive uma grande contradição em relação à mulher. Quanto mais livres elas são, mais necessária se faz a luta por seus direitos. Os engajados filmes e poemas da cineasta Katia Lund e da poeta Jessica Care Moore são verdadeiros manifestos contra o que hoje se chama de cultura de estupro.

16h – Quilombos de Papel

Conceição Evaristo e Patrick Chamoiseau

Mediadora: Flávia Oliveira

A literatura negra é quase sempre sinônimo de resistência. A quase totalidade dos livros produzidos na Diáspora propõe uma arte engajada, que não raro visita diversos períodos da história para mostrar os vínculos entre a escravidão e a complexa situação do negro nas sociedades pós-coloniais.

18h – Quando me tornei negra

Nadifa Mohamed e Ana Maria Gonçalves

Mediadora: Maria Aparecida Andrade Salgueiro (Cida Salgueiro)

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher – vaticinou Simone de Beauvoir, uma das criadoras do feminismo. Esse processo de construção se torna ainda mais complexo com a mulher negra, que enfrenta tanto o machismo quanto racismo. Até que ponto a chegada das mulheres negras criou um novo paradigma para a literatura?

20h – Rio Poetry Slam

Final do Rio Poetry Slam,  com os 4 poetas classificados nas semifinais.

Tenda Pequenas Epifanias

14h – FLUPP PARQUE – Infantil

AEILIJ na FLUPP

Contação de histórias com Andrea Viviana Taubman e Maurício Veneza.

15h – Oficina de pintura pré-histórica com o ilustrador JP Veiga

Ocupar e se encantar! Chama a criançada para ouvir histórias contadas pelos próprios autores dos livros e na sequência colocar no papel as cores do seu manifesto na Roda de Arte com os ilustradores.

16h – FLUPP ZINE – Feira e oficina de fanzine

Hannah23, Tavarez Periferia, Carlos D, João Paulo Cabrera, Guilherme de Sousa, Thais Leal, Patrícia Melo, Fabio Maciel, Rosalina Brito

FLUPP PARQUE – Jovem

Long Table Pancadão de fim de festa

Adriana Facina, Laíze Gabriela Benevides, MC Karolzinha e Coronel Ibis Pereira

O equivocado processo de pacificação das favelas cariocas chega ao fim de forma patética, deixando um rastro de frustrações principalmente entre os jovens. Ninguém quer a violência de volta, mas que o combate ao chamado poder paralelo não destrua o ecossistema das favelas.

18h – Memória da Pele

Long table envolvendo os participantes da parceria entre FLUPP, The Machine to be Another e Anistia Internacional. Troca de experiências entre os familiares que gravaram suas histórias, monitores que acompanharam o processo e público exposto aos relatos sobre jovens negros mortos pela polícia nas favelas cariocas.

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