A contradição de Francisco Alves

Francisco Alves, apelidado como o “Rei da Voz” pelo radialista César Ladeira

Enquanto cantor, Francisco Alves assumiu um papel definitivo na formação e difusão do samba urbano e de gêneros mais modernos. Com sua voz grave e eloquente, traça uma carreira ininterrupta de mais de três décadas (entre 1920 e 1950), nas quais acumula 1.173 fonogramas. Embora de uma forma destorcida, foi também essencial para o lançamento de compositores.

Conhecido pelo caráter autoritário e por comprar sambas, prática comum à época em que atuar profissionalmente na música tinha pouco retorno financeiro, Francisco incluía seu nome às composições de outros artistas – como Noel Rosa, Ismael Silva, Lamartine Babo, Nilton Bastos, Bide, entre outros.

Embora fosse um brilhante intérprete, causava desconfiança como compositor. Chegou a assinar, de fato, cerca de 130 obras. No entanto, a maioria do que gravou foi resultado de uma troca envolvendo dinheiro ou a promessa de tirar compositores do anonimato. A dissonância entre sua importância como cantor e sua falida atuação como letrista foram determinantes na desvalorização de suas composições.

De modo geral, a crítica nominava Francisco como um melodista que fazia parceria com os compositores. A trajetória artística de Francisco Alves, portanto, se desenvolve em uma eterna contradição e em um momento em que o Brasil dava início a popularização da música brasileira nas rádios – onde ele foi peça chave para iluminar o samba.