A Portela de Paulinho da Viola

11/08/2014 00:00 / Atualizado em 12/11/2019 12:17

Paulinho da Viola compõe “Foi um rio que passou em minha vida” para Portela
Paulinho da Viola compõe “Foi um rio que passou em minha vida” para Portela

A composição que emplacou a entrada definitiva de Paulinho da Viola na história da Portela, sua escola de coração, está ligada a uma canção em homenagem a rival da agremiação, a Mangueira.

Em 1968, o compositor se interessa por “Sei lá, Mangueira”, do amigo Hermínio Bello de Carvalho. Sem pretensões, Paulinho compõe a melodia para música que exalta a verde e rosa. Tempos depois, Hermínio inscreve a obra no 4° Festival de Música Popular Brasileira.

Paulinho, que vivia uma relação intensa com a Portela na época, se vê em uma situação desconfortável. Sem sua aprovação, estava competindo com uma canção que exaltava outra escola. Dois anos antes, a azul e branco fora campeã do Carnaval desfilando com o samba enredo de sua autoria (“Memórias de um sargento de milícias”).

Preocupado em não desagradar os portelenses, Paulinho tenta excluir a composição do festival. Sem sucesso, o samba chega à final na voz de Elza Soares, garantindo à cantora o prêmio de melhor intérprete da competição. Embora não tenha sido repreendido, o sambista sente-se em dívida com a Portela.

Quase um ano mais tarde, o artista passa por uma livraria e vê exposto na vitrine o livro “Por onde andou meu coração”, de Maria Helena Cardoso. O título da obra lhe remete a Portela e o inspira a criar os versos de “Foi um rio que passou em minha vida” – uma declaração de amor à escola.

Em 1969, Paulinho grava esta canção em um compacto duplo, com “Sinal fechado” no lado B. Ambas as composições são sucessos imediatos. No ano seguinte, “Foi um rio que passou em minha vida” intitula seu novo LP. Em 1970, a música entoa em mais de uma dezena de outras gravações, interpretadas por Jair Rodrigues, Elizeth Cardoso, Nelson Gonçalves, entre outros.

Além da composição em homenagem a Portela, Paulinho produz o álbum “Portela passado de glória”, da Velha Guarda da escola. Com apenas 28 anos, estas duas obras marcam sua presença na agremiação e representam um consolo à sua antes tão incomodada consciência.