A primeira disputa de escola de samba aconteceu em um terreiro

Quem hoje prestigia o espetáculo das escolas de samba, que acontece em largas e extensas avenidas, não poderia imaginar que a primeira disputa entre elas surgiu no fundo de um quintal, promovida pelo jornalista, escritor, cantor, compositor, pai de santo e sambista José Gomes da Costa – ou Zé Espinguela, como era conhecido nas rodas de samba. Há relatos que ele tenha descendência italiana, da família Espineli, o que explicaria o apelido aportuguesado.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1901, morava no bairro Engenho de Dentro, de classe média. Embora fosse casado, mantinha uma amante; talvez fosse esse um dos motivos que fazia do morro seu lugar preferido.  Em 1925 fundou um bloco que chamou de Bloco dos Arengueiros, formado por Cartola, Maçu, Carlos Cachaça, Chico Porrão, entre outros.

O samba não começava sem um ritual aos orixás: só depois da bênção dos deuses africanos é que se podia iniciar o batuque, mas com muito cuidado e descrição, porque algumas entidades ainda não permitiam. Pois é, se os policiais ouvissem alguma batucada era prisão na certa.

Essa pressão não deixava a vela do samba se apagar e as reuniões seguiam, organizadas por Zé Espinguela.  Foi no dia de 20 de janeiro de 1929, dentro do seu terreiro, que foi organizado uma disputa com os sambistas do Rio. Entre os grupos, havia o Conjunto Oswaldo Cruz, que mais tarde alteraria o nome para Portela, os do bairro do Estácio de Sá, que representavam a Deixa Falar e a Mangueira.

A regra era que cada uma escolhesse dois sambas, que seriam avaliados pelos jornalistas convidados por Espinguela para compor a comissão de júris. A composição que pareceu agradar mais a bancada e a torcida foi a do Heitor do Prazeres, do Conjunto Oswaldo Cruz.

Acontece que o grupo do Estácio não gostou muito, ainda mais depois da nota que saiu no jornal O Vanguarda, no qual trabalhava Zé Espinguela.

O combinado da entrega seria no dia 10 de fevereiro, domingo de Carnaval. Zé Espinguela apareceu com três troféus, um ao Conjunto Oswaldo Cruz, outro a Mangueira e o terceiro a Estácio, evitando mais aborrecimentos.

Por Fabiana Lima