Carta aberta: blocos de rua se posicionam a favor do Carnaval

18/08/2017 00:00 / Atualizado em 09/05/2019 15:38

O Carnaval de rua de São Paulo vem ganhando cada vez mais força e notoriedade, o que demanda um planejamento maior a cada edição tanto por parte das agremiações quanto por parte do poder público. Um grupo de representantes de 145 blocos da cidade – que formam o Fórum de Blocos de Rua do Carnaval de São Paulo – protocolou nesta sexta-feira, dia 18, uma carta aberta aos secretários municipais de Cultura e Justiça e aos prefeitos regionais, na qual sugere adaptações e expõe pontos de interesse comum dos blocos a partir da cartilha em consulta pública que determina algumas adequações em relação ao evento.

Crédito: Fora do Eixo
Crédito: Fora do Eixo

A carta retifica o posicionamento dos blocos e seus representantes como os verdadeiros protagonistas do Carnaval de rua e, acima de tudo, propõe o diálogo ao poder público nas tomadas de decisão.

Confira o documento na íntegra:

Senhor Secretário de Cultura da Prefeitura de São Paulo
Senhor Secretário de Subprefeituras da Prefeitura de São Paulo.
Senhor Secretário de Justiça da Prefeitura de São Paulo

Nós, blocos de carnaval de rua da Cidade de São Paulo, de forma independente e democrática, manifestamos nossa expectativa e apreensão em relação às preparações para o Carnaval de 2018. O evento, construído ao longo dos últimos anos pelos blocos signatários e por muitos outros blocos de rua, tem se comprovado muito relevante para a cidade, não somente em termos econômicos – por ser o evento que mais gera recursos para o município – mas e principalmente, pelos aspectos culturais e sociais, enquanto bem imaterial da humanidade. Acreditamos que o nosso Carnaval é um catalisador das expressões individuais que compõem nossa sociedade, um agregador extremamente democrático de diferentes pólos sociais e uma festa com tremendo potencial conciliador. Já é esperado que nossa folia se torne a maior do País, mas esperamos também que ela evolua e se torne a mais bem organizada, a mais livre e a mais diversa. São estas características que marcaram a trajetória dos nossos blocos e fazem do nosso Carnaval um grande sucesso, características essas que guiam nossas ideias e ações coletivas.

Dando continuidade ao planejamento que se pretende ver concretizado pela atual administração municipal em nos ajudar a realizar esta festividade, acreditamos que somente com o diálogo amplo e irrestrito do Poder Público com os Blocos poderemos alcançar um resultado de excelência na execução do evento, tão grande e tão complexo. Sabemos dos desafios e das responsabilidades naturais impostos por um grande evento dessa natureza e gostaríamos de deixar claro que nosso objetivo é trabalhar lado a lado com vocês. Esperamos que tenham consciência de que os Blocos aqui assinantes são formados por grupos e pessoas com uma única intenção: prover um carnaval divertido, seguro, responsável e sustentável.

Manifestamos, no entanto, nossa atual preocupação de que seria um erro haver uma inversão de valores ou transformar os blocos em um mero detalhe na festividade. Precisamos retificar urgentemente uma percepção: os blocos são os protagonistas responsáveis pela folia, não o poder público. Nós criamos e levamos os conteúdos para as ruas, atraindo os milhões de foliões. Nós fazemos a festa acontecer, por anos sem apoio algum de marca ou governo. Precisamos, no passado, lutar para mostrar que era nosso direito constitucional tomar as ruas com cultura e expressão. É um direito nosso fazer carnaval de rua. Portanto, muito antes da cidade se preocupar com financiamento para banheiro químico, muito antes de sermos obrigados a nos cadastrar junto à Secretaria de Cultura e aceitar patrocínios e normas impostas, nós demos continuidade a este Carnaval com base na democracia e na liberdade – sem precisar de nada que hoje alguns tentam nos empurrar como obrigatoriedade. O papel do poder público, portanto, é de auxiliar na integração entre as autoridades, prover a segurança pública e a limpeza das vias, e não interferir em nossa busca por financiamento com políticas comerciais verticais que nos ferem. O papel do poder público é nos auxiliar a exercer este direito de ocupar as ruas.

Compreendemos a importância do diálogo e esperamos encontrar na atual gestão este atributo. Solicitamos, nesse sentido, que seja realizada uma Audiência Pública para apresentação do Plano geral de Carnaval e órgãos públicos envolvidos, seguida de reuniões de acompanhamento sempre que houver novas modificações no processo, para que não haja decisões verticais e/ou sem consulta democrática, mantendo assim uma relação de respeito e interdependência. Segue em anexo, nossa proposta e comentários a respeito da nova Cartilha proposta. Ela é resultado de um primeiro esforço de revisão, que esperamos construir continuamente, com planejamento conjunto.

Nesse caminho, faremos um Carnaval de rua ainda melhor para todos.

Assinam este documento os Blocos, Bandas e Cordões da Cidade de São Paulo abaixo.

Cordialmente, colocamo-nos abertos a quaisquer esclarecimentos.

São Paulo, 18 de agosto de 2017.

Blocos, Bandas e Cordões do Carnaval de rua da Cidade de São Paulo que assinam este documento:

Jegue Elétrico, ErêTantã, Não Serve Mestre, Volta Amélia, Besta É Tu, Os Madalena, Só Como Amigo, Banda Carnavalesca Macaco Cansado, Boca de Veludo, Bangalafumenga, Desliga e Vem, Associação Cultural Acadêmicos do Baixo Augusta, Agora Vai, Beatloko, BregsNice, Love Fest SP Beats, Carnamauri, Chinelo de Dedo, Bloquinho e Buchecha, Maracatu Bloco de Pedra, Filhos de Glande, Casa Comigo, Mamãe eu quero, Rindo à Toa, Toca um Samba aí, Se Te Pego não te Largo, Eugênio/Caça e Caçador, Bloco de Notas, Cacique Jaraguá, Pimentas do Reino, Bloco do Vinyl, Crema de Carnaval, Amigos da Vila Mariana, Let’s Block, Filhos do É o Tchan, FrancisKryshna, Quizomba, Me lembra que eu Vou, Belém Belém, Chega Mais, Samba Caminho de Aruanda, Cordão Carnavalesco, Confraria do Pasmado, Ritaleena, Feliz da Vila, Passaram a Mão na Pompeia, Banda Candi -nho, Bloco do Síndico, Bargaça, Bloco Nossa Quarta, Bloco do Binguelo, Bloco da Muda, Bloco da Batata, Chá de Alice, País da Fantasia, Acadêmicos do Cerca Frango, Beleza Rara, Bloco do Chocolate, Bloco Carnavalesco Nove de Julho, Bloco Madalena, Bloco Vai Tomar na Cupecê, Bloco Banda das Cachorras, Banda do Fuxico, Bloco Itaquerendo Folia, Meu Santo é Pop, Domingo Ela Não Vai, Holi Folia, Viemos do Egyto, Noiz Quipá a Rosh Hashaná, Blocotona, Minhoqueens, Bloco Fuzuê, Bloco Carnavalesco Unidos do Jardim São Paulo, Bloco Unidos do Parque São Jorge, Bloco Chucruti Zaidan, Os Capoeira, Arrastão de Blocos – representante de 69 blocos da cidade, Bloco do Pedal e Tarado Ni Você.