Marquinhos Jaca fala sobre a ASTEC e seus projetos

05/10/2015 00:00 / Atualizado em 04/05/2020 17:44
Marquinhos Jaca fala sobre a Associação dos Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba de São Paulo
Marquinhos Jaca fala sobre a Associação dos Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba de São Paulo

Marquinhos Jaca tem carreira no samba. Músico, compositor e educador musical, Jaca também pesquisa as origens do samba e da cultura tradicional de São Paulo e é presidente da Associação dos Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba de São Paulo (ASTEC).

Considerado um dos principais representantes do gênero na cidade, o sambista tem sua história marcada pela escola de samba Vai-Vai, onde passou a integrar da Ala dos Compositores a partir de 1998.

Quando perguntado sobre a relação com o gênero musical, Jaca conta: “Minha relação com o samba vem desde a infância. Meu pai era sambista e frequentava a Vai-Vai, portanto é algo muito cultural para mim. Não teve como eu gostar de outro segmento a não ser o samba.”

Em 2010, produziu o próprio CD, “Número Um do Brasil“, pelo selo Kolombolo. No mesmo ano, junto com outros sambistas fundou a ASTEC, atuando como articulador cultural nas periferias e fortalecendo as mais tradicionais raízes do samba do Estado.

Em entrevista concedida por telefone ao Samba em Rede, Jaca fala sobre a Associação dos Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba de São Paulo (ASTEC) e seus desdobramentos:

Como e quando surgiu a ideia de criar uma associação como a ASTEC?

O movimento das comunidades existe desde 2000, com o projeto “Nosso Samba”, de Osasco, e é evidente que tem se aflorado. A associação surgiu por conta do não reconhecimento dessas comunidades pelo poder público, ou seja, pela invisibilidade dos sambistas e das comunidades de samba de São Paulo.

Quais os principais objetivos da associação?

Queremos reconhecimento, visibilidade e auxílio para melhor estruturar essas comunidades. Nós movimentamos hoje 500 mil pessoas por ano. Não é possível que um número tão expressivo ainda passe despercebido pelo poder público. Essas comunidades não fazem só samba, elas dão uma contrapartida sociocultural: é um projeto muito grandioso.

Quais são as atividades desenvolvidas pela ASTEC? 

São promovidas rodas de samba em comemoração dos aniversários das comunidades. Contamos com algumas casas que estabeleceram parcerias como a Vila do Samba e a Estação São Jorge.

A nossa ideia é aproximar as comunidades das casas de samba – antes as pessoas não sabiam que existiam as comunidades. As comunidades fazem muitos trabalhos no local de origem, ou seja, nos bairros – a maioria na periferia. As atividades são importantes no sentido de difundir o trabalho e promover a troca de experiência e mobilidade.

Como é que se estabelece a relação com os grupos? 

Por conta do grande número de comunidades que aparecem, foi criado um conceito sobre o termo “comunidade de samba”: consiste em pessoas que fazem a preservação, divulgação e continuação do samba e que também desenvolvem projetos socioculturais.

Nós entramos em contato com todas e incitamos para que as comunidades comecem a fazer esses trabalhos. Não queremos excluir ninguém: a ideia é multiplicar o segmento e não apartar.

Na sua opinião, o samba deixou se ser marginal? Ou a iniciativa mostra que é preciso trabalhar mais o tema com a sociedade brasileira? O que ainda é precário?

O problema das comunidades é a ausência de política pública, falta a ajuda da prefeitura. Essas comunidades não conseguem desenvolver certas atividades. Falta espaço, falta estrutura e elas realmente precisam de espaço para desenvolver esses projetos.

Sim, hoje muita coisa mudou. Contamos com a ajuda de parlamentares (Leci Brandão, Orlando Silva e Netinho de Paula) nos auxiliando no segmento. Mas a caminhada ainda é longa.

O que mais deve ser feito para mudar esta realidade?

Conseguimos o tombamento do samba como patrimônio imaterial. É preciso dar uma atenção maior para os processos de conservação e resgate – principalmente com a preservação da memória do samba paulista.

Nomes como o do Osvaldinho da Cuíca, entre outros tantos pesquisadores, possuem um acervo vastíssimo sobre essa história. O problema é que ainda precisa ser digitalizado e fica difícil desenvolver um acervo. Tem muito conteúdo disponível, mas precisa vasculhar!

Você enxerga um diálogo entre o surgimento de comunidades de samba com a espetaculização do Carnaval?

O movimento de samba é tão forte que transcendeu as escolas. Apesar de existir o processo de afastamento dos sambistas das escolas, não se pode responsabilizar a comercialização do Carnaval pelo surgimento das comunidades.

O samba é inerente ao povo brasileiro, as comunidades iriam nascer de qualquer jeito.